Grande rio atmosférico a caminho de Portugal? Eis a possível data de chegada e os distritos potencialmente mais afetados
Uma nova e significativa alteração na circulação atmosférica sobre a Europa e o Atlântico Norte vai trazer uma mudança drástica de tempo: Portugal poderá estar perante o primeiro temporal atlântico de outono.
Nos últimos dias o panorama meteorológico à escala sinóptica caracterizou-se pelo grande bloqueio anticiclónico estabelecido no norte da Europa, que forçou os centros de baixas pressões a deslocarem-se para sul, afetando a Europa mediterrânica.
O mais impactante dos referidos centros de baixas pressões, a tempestade Boris, foi responsável por provocar um gravíssimo episódio de inundações que afetou vários países e, na presente data, os seus vestígios continuam a produzir condições meteorológicas adversas em países do Sudoeste Europeu, como Portugal e Espanha.
Os restos da tempestade Boris - ou seja uma depressão isolada em altitude que se situa a oeste de Portugal continental - continua a deixar aguaceiros e trovoadas dispersas, mas localmente fortes nalgumas zonas do nosso país.
Estado do tempo vai registar uma mudança drástica
Porém, o atual panorama meteorológico irá desaparecer gradualmente e, com a mudança de semana, dará lugar a uma situação completamente diferente. De acordo com os modelos de referência da Meteored, o bloqueio anticiclónico desaparecerá e um forte fluxo de sudoeste impor-se-á sobre boa parte do continente, restabelecendo com intensidade o fluxo zonal e impulsionando massas de ar de origem subtropical até à Europa, destacando-se, em particular, Portugal, Espanha e França.
A esta situação acrescerá a presença de uma depressão cavada que se estenderá em direção ao Atlântico próximo. Isto acentuará o gradiente térmico em todo este setor, transformando-o numa zona de forte atividade ciclogénica, ou seja, em terreno propício à formação de depressões.
Embora em menor escala a incerteza seja demasiado elevada para entrar em pormenores, os mapas da Meteored sugerem que é muito provável que este cenário desencadeie um episódio de chuvas de outono em Portugal continental (Norte e Centro), Galiza e outras comunidades do norte de Espanha. Além disso, será favorável à chegada de um rio atmosférico procedente de latitudes tropicais até ao nosso país.
Chuva muito forte e abundante no Noroeste de Portugal
É preciso ter em conta que este tipo de advecção é muito húmido em Portugal continental, mas a sua distribuição pelo território é desigual. A precipitação será escassa nas zonas a sul do Tejo e sob a forma de aguaceiros irregulares. No entanto, nas regiões a norte do sistema montanhoso Montejunto-Estrela e especialmente naquelas que se situam a oeste da Barreira de Condensação, a precipitação será frequente, geral e com potencial para ser localmente forte.
Quando se fala de um episódio de precipitação que será desencadeado em meados da próxima semana, é preciso contar com uma incerteza relativamente elevada na previsão: isto não nos impede de avaliar a situação à escala sinóptica, mas tampouco permite entrar em grandes detalhes de menor escala, como a intensidade e localização da precipitação.
Todavia, deitando um olhar climatológico sobre este tipo de situação, sabe-se que tende a deixar acumulações muito abundantes no Minho (distritos de Viana do Castelo e Braga), no Douro Litoral (distrito do Porto), Região de Aveiro (distrito de Aveiro), Alto Tâmega e Douro (distrito de Vila Real), zonas mais setentrionais do Nordeste Transmontano (distrito de Bragança), Viseu Dão-Lafões (distrito de Viseu) e Região de Coimbra (distrito de Coimbra).
As acumulações são, regra geral, substancialmente menos abundantes nos distritos de Leiria, Lisboa, Guarda e Castelo Branco, sendo que a sul do Tejo são normalmente bastante escassas.
Primeiro vendaval de outono à vista?
Apesar da chuva ser o elemento climático de maior destaque deste episódio, poderá não ser o único protagonista meteorológico ao longo da próxima semana. Como o nosso país se situa perto de uma zona de forte atividade ciclogénica, as depressões irão circular perto da posição geográfica de Portugal continental e os gradientes de pressão poderão ser significativos, o que geraria ventos de longa distância e, por vezes, fortes.
Não é ainda possível determinar a posição e o cavamento destes centros de baixas pressões, mas é provável que a sua proximidade permita que o vento sopre com alguma intensidade numa parte significativa do nosso país.
Falta apenas definir se se tratará de um episódio de vento de moderada intensidade, com rajadas fortes reservadas às zonas mais expostas aos fluxos de sudoeste, ou se dará origem à primeira depressão típica de outono em vastas regiões da geografia portuguesa.