Furacão Kirk exige atenção: poderá manter a categoria de tempestade tropical muito perto de Portugal
Nos próximos dias o poderoso furacão Kirk irá aproximar-se da Europa, passando por um forte processo de extratropicalização. O modelo de referência da Meteored prevê que um grande rio atmosférico seja impulsionado até Portugal, o que agravaria o estado do tempo.
O furacão Kirk situa-se neste momento no Atlântico tropical central e atingiu a categoria 4, apresentando ventos sustentados de 230 km/h e rajadas superiores, com uma pressão central mínima de 935 hPa, de acordo com o seu último rastreio. O histórico do furacão Kirk mostra-nos que se originou a partir de uma onda tropical africana de leste.
Nos dias seguintes, foi ganhando intensidade e um grau de organização mais definido, primeiro como tempestade tropical e depois já como furacão. Isto ocorreu à medida que se deslocou para latitudes mais elevadas, e sobre as águas quentes do Atlântico tropical central.
Nos próximos dias prevê-se que Kirk se desloque para norte e com tendência a enfraquecer, mas continuará a ser um grande furacão (categoria 3 ou superior) até ao início de domingo (6), segundo o NHC. A partir daí, começará a interagir com a corrente de jato polar, girando para nordeste. A última atualização sugere que poderá passar perto do arquipélago dos Açores, ainda como furacão, durante a próxima segunda-feira (7).
Isto porque estará a deslocar-se sobre as águas anormalmente quentes do Atlântico. A possibilidade de chegar a Portugal continental mantendo algumas das suas características tropicais é muito remota, mas no seu processo de extratropicalização o seu raio de ação irá expandir-se, deixando algumas regiões do Sudoeste Europeu com um grande temporal de mar, chuva e vento.
Além disto, um rio atmosférico estará ‘envolvido’ na movimentação de Kirk, podendo agravar os efeitos no estado do tempo no nosso país. Saiba quando e como!
Um rio atmosférico associado a Kirk poderá trazer chuva forte a várias regiões de Portugal continental
Entre sábado (5) e segunda (7), as frentes geradas por uma depressão atlântica muito cavada e situada a oeste das Ilhas Britânicas já trarão tempo chuvoso e instável ao nosso país, com a precipitação a ser reforçada por um pequeno rio atmosférico que conectará estas frentes e depressão à movimentação para nordeste do furacão Kirk.
Porém, é para terça (8) e quarta-feira (9) que se prevê que o atual furacão Kirk exigirá mais atenção, uma vez que poderá manter a categoria de tempestade tropical muito perto de Portugal continental. Desta vez, um grande rio atmosférico, com conteúdo de vapor de água ainda maior do que os anteriores, reforçaria o tempo chuvoso, ventoso e adverso.
De facto, o cenário mais provável na presente data estima que a depressão atlântica muito cavada a oeste das Ilhas Britânicas, Kirk, outra baixa pressão posicionada a oeste de Kirk e as altas pressões subtropicais sejam responsáveis por impulsionar um grande rio atmosférico em direção à Península Ibérica, que poderá ter impacto de norte a sul de Portugal continental entre terça (8) e quarta-feira (9).
Mesmo o IFS-HRES, um dos modelos de referência da Meteored, mostra que o ex-furacão Kirk poderá afetar a nossa geografia como um poderoso ciclone extratropical na próxima quarta-feira, 9 de outubro.
Com este fluxo subtropical de Oeste-Sudoeste, as temperaturas serão bastante amenas em todas as regiões, tanto de dia como de noite. Será necessário confirmar nos próximos dias a incidência deste rio de humidade e do ex furacão-Kirk.
Quanto à chuva, prevê-se que seja mais frequente e abundante nas regiões localizadas a norte do sistema montanhoso Montejunto-Estrela, sendo que destas, cairá com especial incidência nos distritos situados a oeste da Barreira de Condensação por causa do efeito da orografia (Viana do Castelo, Braga, Porto, Vila Real, Viseu e Aveiro).
Além da chuva, também se perspetiva um temporal de mar e vento
Além disto, espera-se que o vento de Oeste ou Sudoeste sopre com forte intensidade no Norte e Centro de Portugal continental (possibilidade de rajadas máximas entre 80 e 100 km/h em vários locais montanhosos). Caso este cenário se concretize, a situação poderá ser muito adversa nestas regiões, em particular no litoral Norte, onde poderá estar em perspetiva um temporal marítimo muito agreste.
É preciso lembrar que ainda existe incerteza nas previsões, nomeadamente no que diz respeito à trajetória. Enquanto o Centro Nacional de Furacões dos EUA (NHC, siglas em inglês) prevê que Kirk rume ligeiramente mais a norte em direção às Ilhas Britânicas, o modelo de referência da Meteored (ECMWF) antecipa, na sua última atualização, uma aproximação do centro do ex-furacão Kirk à costa galega, no noroeste peninsular.
Deste modo, continuaremos aqui na Meteored a monitorizar com muita atenção e a informá-lo pormenorizadamente acerca da evolução do furacão Kirk à medida que este subir em latitude e for interagindo com a corrente de jato polar e fluxos de Oeste, uma vez que isto acarreta grandes alterações ao estado do tempo nas latitudes médias (nas quais Portugal se insere).