Furacão Danielle, ciclone Earl e uma depressão: que efeitos em Portugal?
Precisamente no arranque de setembro, primeiro mês do outono climatológico, o Atlântico agitou-se e os ciclones tropicais e depressões “ganharam vida” na bacia deste vasto oceano. Que efeitos poderão o furacão Danielle e a depressão outonal deixar no tempo em Portugal?
Após uns meses de julho e agosto historicamente muito “calmos” em termos de agitação meteorológica no que à formação de ciclones na bacia do Atlântico diz respeito, eis que finalmente, entre 1 e 3 de setembro, precisamente a coincidir com os primeiros três dias do outono climatológico, se formaram dois sistemas tropicais em plenas águas atlânticas: o Danielle e o Earl.
Segundo Philip Klotzbach, meteorologista da Colorado State University e especialista na previsão sazonal de furacões na bacia do Atlântico, 2022 foi o primeiro ano, desde 1941, que o Atlântico não teve qualquer atividade denominada tempestade (por exemplo, tempestade tropical ou furacão) entre 3 de julho a 30 de agosto.
Danielle, primeiro furacão do Atlântico em 2022: poderá deixar efeitos em Portugal?
O primeiro destes ciclones – Danielle - inicialmente uma tempestade tropical, rapidamente se fortaleceu e ascendeu a furacão de Categoria 1. Entretanto, perdeu intensidade – através de um mecanismo algo desconhecido para os físicos e meteorologistas, teorizando-se que, possivelmente devido à interferência de ar seco que apareceu neste sistema, o mesmo perdeu força, baixando temporariamente para tempestade tropical.
Este ciclone tropical tem sido alvo de grande mediatismo e merecido a maior das atenções na comunidade meteorológica graças ao facto de ter nascido em latitudes pouco habituais para o desenvolvimento de furacões – não é habitual formarem-se tão a norte como este, embora não seja algo inédito já que, nos últimos anos, tem acontecido com alguma frequência. Uma das razões que contribuiu para tal foi, sem dúvida, o aquecimento anómalo das águas oceânicas nesta latitude – como se sabe, águas quentes são um dos “motores” que contribuem para a formação de furacões.
Por último, outro dos grandes motivos para o furacão Danielle estar a ser tão mediático e monitorizado de forma tão atenta por vários organismos meteorológicos nacionais (NHC, IPMA, AEMET, entre outros) ou aqui na Meteored, prende-se com o facto de que, seja sob a forma de depressão ou tempestade extratropical (este último panorama está a ganhar consistência), pode vir a deixar efeitos nos Açores, em Portugal continental e Espanha, tais como chuva, ventos fortes e maré de tempestade. As áreas costeiras são sempre as mais afetadas neste tipo de situações, naturalmente.
Caso este cenário meteorológico se cumpra, algo atualmente contemplado pelo modelo ECMWF numa das suas projeções, e apesar da remota probabilidade de o fazer (esta nunca deve ser descartada porque a evolução deste tipo de sistemas costuma ser muito difícil de modelizar), aquele que seria o ex-furacão Danielle poderia interferir com o estado do tempo, sobretudo, no Noroeste de Portugal, em meados da semana que vem – previsivelmente entre os dias 8 e 9 de setembro, próximas quinta e sexta-feira.
Convém, no entanto, ressalvar que existe uma elevada incerteza nesta previsão. Trata-se apenas de uma possibilidade!
Depressão outonal: o Atlântico Norte despertou!
A partir deste domingo, dia 4, - tal como já tínhamos avançado há praticamente uma semana nesta previsão - e até meados da próxima semana (dia 7 aproximadamente), o estado do tempo em Portugal continental irá mudar significativamente, embora apenas nalgumas regiões. Uma depressão procedente de latitudes polares (Gronelândia) foi, ao longo da semana que passou, circulando para sul em direção à Islândia e Ilhas Britânicas.
E agora, a sua evolução, sem atingir diretamente a Península Ibérica, prender-se-á com a descarga de sucessivas frentes que irão contribuir para a queda de chuva, nalguns casos persistente e temporariamente forte (Região do Minho, distritos do Porto e de Aveiro).
Não acumulará tanto noutros distritos, mas, mesmo assim, na primeira metade desta semana (até quarta-feira, dia 7), vários locais do Norte e Centro de Portugal continental – sem ser os supracitados – sairão beneficiados com a queda da tão desejada água vinda dos céus. Quanto ao Sul, a precipitação será praticamente residual ou nula.
Os ventos soprarão de Oeste/Sudoeste, quase sempre com uma intensidade moderada a forte e também se registará nesta segunda e terça-feira (dias 5 e 6) uma alteração na ondulação marítima que ficará ligeiramente mais perigosa. As temperaturas registarão algumas oscilações, mas pouco significativas.
Ainda assim os valores das mínimas devem ser realçados, já que as noites estão a tornar-se cada vez mais frias. Serão gradualmente mais longas e os dias progressivamente mais curtos, o que implica considerável perda da radiação solar diária e do calor. Daí o consequente arrefecimento térmico. O primeiro “cheiro a outono” já se faz sentir no nosso país!
Earl: o potencial primeiro Grande Furacão da temporada de furacões do Atlântico 2022
Dos três “monstros” ciclónicos que nasceram no Atlântico nos últimos dias, a tempestade tropical Earl é a única que não irá provocar efeitos no nosso país devido a razões geográficas. De acordo com as últimas informações do NHC, prevê-se que, já este domingo, Earl vá deixando forte precipitação que poderá provocar algumas inundações nas Ilhas Leeward, nas Ilhas Virgens e Porto Rico.
Também se espera rápidos transbordamentos em cursos de água e deslizamentos de terra em terrenos íngremes. Não esquecer também o risco de forte ondulação marítima daqui derivada e as intensas rajadas de vento que continuarão nos próximos dias.
Por último, ainda segundo o NHC, está previsto que o Earl, enquanto tempestade tropical se desloque para norte na próxima semana. Todavia, devido à persistência do calor elevado que alimenta as águas oceânicas onde o Earl está a circular, este ciclone pode vir a transformar-se no primeiro Grande Furacão da temporada 2022 no Atlântico, após se tornar o segundo furacão da temporada, imediatamente a seguir ao Danielle.