Esta sexta-feira Braga, Porto e Lisboa estarão em risco por má qualidade do ar: milhões de pessoas expostas em Portugal
Para o resto da semana prevalecerá um estado do tempo dominado pelo anticiclone, apesar da frente prevista para esta sexta-feira. No entanto, as condições meteorológicas serão propícias à subida dos níveis de poluentes nas principais cidades portuguesas.
Nos restantes dias desta semana as altas pressões irão manter-se sobre a nossa geografia, pelo que prevalecerá um estado do tempo maioritariamente estável em grande parte de Portugal continental. Não obstante, o domínio do sol não será generalizado nem persistente e, em dois distintos momentos, prevê-se ocorrência de precipitação, o que dará azo a uma variabilidade de estados de tempo.
O segundo momento está previsto para o próximo domingo, 1 de dezembro: uma segunda frente chegará ao Minho deixando chuva fraca a moderada, sendo que haverá também possibilidade de ocorrência de aguaceiros e trovoadas dispersos por outros locais, graças a uma pequena depressão situada a sudeste do nosso território.
Apesar destes períodos meteorológicos pontualmente instáveis, a partir do meio-dia de sexta-feira (29) e até domingo (1), espera-se um estado do tempo tipicamente anticiclónico em quase toda a geografia de Portugal, com predomínio de céu limpo ou pouco nublado, amplitudes térmicas acentuadas, geada em locais do Nordeste Transmontano e Beira Alta e ainda, a formação de nevoeiro. A isto acrescerá a poluição.
A poluição vai aumentar devido à influência do anticiclone
Prevê-se uma qualidade do ar desfavorável em várias regiões ao longo dos próximos dias. Recordemos que, quando o anticiclone exerce um grande domínio atmosférico sobre a nossa geografia, os poluentes têm uma maior dificuldade em dispersar devido ao processo de subsidência, às inversões térmicas e à ausência de vento (ou vento fraco).
Deste modo, as partículas poluentes têm tendência a acumular-se, especialmente nas grandes cidades, zonas industriais e áreas metropolitanas.
Num anticiclone o ar tende a descer, e, quando chega à superfície, diverge. Além disso, a situação de estabilidade atmosférica em que estamos envolvidos é favorável ao aparecimento de inversões térmicas à superfície e a pouca ou nenhuma renovação do ar, pois predominam ventos calmos ou fracos. Isto cria uma espécie de domo que impede a dispersão dos poluentes.
De acordo com o modelo de confiança da Meteored, é esperada uma pressão à superfície na ordem dos 1026 hPa durante os próximos dias ao longo da faixa territorial continental portuguesa. Com este panorama, as concentrações de dióxido de nitrogénio e de partículas PM2.5 (partículas com diâmetro igual ou inferior a 2,5 mícrons) vão aumentar.
Preveem-se níveis médios a elevados de dióxido de nitrogénio em Braga, Porto, Lisboa e outras cidades
O dióxido de azoto (NO2) é um poluente atmosférico, principalmente de origem antropogénica, cuja principal fonte é o tráfego rodoviário, bem como as emissões de certas indústrias e grandes instalações de combustão.
Por esta razão, quando o anticiclone é o principal elemento climático dominante (pressão atmosférica) numa determinada situação meteorológica, torna-se necessário monitorizar com consistência e regularidade a evolução da qualidade do ar nas principais cidades portuguesas.
Os mapas mostram que, entre sexta (29) e sábado, dia 30, se prevê concentrações superiores a rondar entre 35 e 45 µg/m³ em várias cidades nortenhas (Porto, Maia, Ermesinde, Barcelos, Vila do Conde, Póvoa de Varzim e Vila Nova de Famalicão).
Assim, durante algumas horas, especialmente do período do fim da tarde e noite, as concentrações ultrapassarão os 25 µg/m³, o limiar diário estabelecido pela OMS para definir uma qualidade do ar desfavorável para este poluente. Situar-se-ão entre 25 µg/m³ e 35 µg/m³ em cidades e localidades da Área Metropolitana de Lisboa (Lousa, Loures, Sacavém, Lisboa e Odivelas).
Também está previsto um aumento dos níveis de PM2,5. Saiba em que regiões
A presença de NO2 contribui para a formação e modificação de outros poluentes atmosféricos, como o ozono e as partículas em suspensão (PM10 e PM2,5). Estas últimas vão precisamente apresentar níveis elevados em algumas regiões portuguesas nos próximos dias.
O limite de 15μg/m3 de média diária de PM2,5 fixado pela OMS será provavelmente ultrapassado nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto. E claramente também no Minho (especialmente no Baixo Minho - distrito de Braga).
Noutras capitais de distrito do litoral (Aveiro, Leiria, Setúbal) e ainda noutras grandes cidades do interior, como Vila Real, Viseu e Covilhã, as concentrações também poderão superar o patamar diário definido pela OMS. Além disto, haverá poeiras em suspensão, com o céu a apresentar-se turvo.
Atenção às regiões em torno e para além do Tejo
Os distritos em redor do rio Tejo (Lisboa a norte e Setúbal a sul), Santarém - Ribatejo e, para além dele, pertencentes ao Alentejo (algumas zonas dos distritos de Évora e Beja), também não serão poupados à má qualidade do ar, embora a sua origem seja diferente.
Durante o resto da semana, uma intrusão de poeiras do Saara afetará Portugal continental, deixando céu turvo ou bastante turvo, em particular nas zonas acima mencionadas. Aliás, para os distritos acima referidos, o índice de qualidade do ar (AQI) da Meteored alerta mesmo para uma qualidade do ar geralmente “moderada”, sendo localmente “má” entre as 12:00 e as 21:00 desta sexta-feira (29).
Recorde-se que a Organização Mundial de Saúde considera que a situação é desfavorável quando a concentração desta matéria particulada ultrapassa os 45 μg/m³ na média diária, pelo que este episódio poderá ser algo adverso nestes distritos do Continente.