Dentro de algumas horas, parte da tempestade subtropical Patty chegará a Portugal: como é que nos vai afetar?
Após atingir os Açores, arquipélago onde provocou inundações, a tempestade subtropical Patty está a escassas horas de chegar a Portugal continental. Saiba na nossa previsão quais serão as regiões mais afetadas e os fenómenos meteorológicos adversos.
No sábado, 2 de novembro, foi notícia em Portugal a inesperada formação da tempestade subtropical Patty, seguida de muito perto por parte do NHC (Centro Nacional de Furacões dos EUA) que a nomeou.
Ora, a tempestade Patty até pode ter sido inesperada para quase toda a sociedade civil - exceto para os meteorologistas, entre os quais os da Meteored Portugal. Desde sexta-feira (1), feriado e Dia de Todos os Santos já tínhamos divulgado antecipadamente, nos nossos canais de comunicação (website e redes sociais), a probabilidade de formação e desenvolvimento do sistema tropical que mais tarde recebeu o nome de Patty.
A natural sequência de tudo isto foi a ativação de avisos amarelos por parte do IPMA para o arquipélago dos Açores devido à previsão de ventos intensos, e de chuvas fortes, capazes de gerar inundações e cheias. Tais ocorrências assim sucederam, como podemos ver nas imagens acima. Por razões geográficas (latitude e localização), os Açores são a unidade territorial portuguesa mais exposta à atividade ciclónica no Atlântico tropical.
Para o arquipélago da Madeira também foi emitido aviso amarelo por previsão de chuva pontualmente forte, gerada por uma ondulação frontal de atividade moderada a forte, associada à tempestade subtropical Patty. A precipitação aqui caiu com menor intensidade e magnitude que nos Açores.
Efeitos dos remanescentes de Patty em Portugal continental: período mais adverso e zonas mais críticas
Começou a chover em Portugal continental desde o final da manhã desta segunda-feira (4). Entretanto, só a partir das 14:09 é que entraram em vigor os avisos amarelos de precipitação para os distritos primeiramente expostos à chegada indireta de Patty: Lisboa, Leiria e Setúbal. Nestes distritos o aviso amarelo de risco moderado de precipitação durará, previsivelmente, até às 18:00 de hoje.
A chuva de hoje no Continente (percorrerá o nosso território de oeste para este) foi e está a ser provocada pela mesma ondulação frontal de fraca a moderada atividade que atingiu o arquipélago da Madeira ontem.
É preciso referir que a tempestade Patty (e seus remanescentes) não está nem irá afetar diretamente a geografia do Continente, porém, a referida ondulação frontal associada a Patty e umas linhas de instabilidade geradas por uma depressão situada mais a norte no Atlântico, sim.
Esta situação sinóptica, ilustrada abaixo pela variável dos rios atmosféricos nos mapas de referência da Meteored, revela o que acabamos de descrever: depressão a oeste das Ilhas Britânica, em conjunto com a ondulação frontal de fraca a moderada atividade associada aos remanescentes da tempestade Patty e ainda aos remanescentes da tempestade Patty per se.
A atuação destes centros de ação atmosférica (duas baixas), em conjunto com a ondulação frontal e com o ‘extra’ de vapor de água do rio atmosférico - que servirá de combustível à precipitação - provocará a chuva moderada a forte das próximas horas e dias. Há risco de cheias e inundações, especialmente em zonas historicamente vulneráveis. Não se exclui o transbordamento de cursos de água.
De acordo com o modelo de confiança da Meteored, as zonas mais afetadas pela chuva nas restantes horas desta segunda-feira (4) e amanhã - terça-feira, 5 de novembro - serão o distrito de Castelo Branco (Beira Baixa), com acumulações a rondar 70 mm em vastas zonas); os distritos de Santarém e Portalegre e as zonas a oeste da Barreira de Condensação (distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto e Aveiro).
Prevê-se que o período mais crítico da chuva ocorra entre a tarde desta segunda-feira, 4 de novembro e as 12:00 de terça-feira (5). Entretanto, durante a tarde de terça-feira (5) a instabilidade permanecerá em território nacional, mas terá tendência a dissipar-se gradualmente.
Para os distritos do litoral Norte espera-se que a altura mais crítica ocorra entre a meia-noite e as 09:00 da manhã de terça (5), enquanto nos distritos do Centro e Alto Alentejo é expectável que a instabilidade ocorra entre o final da tarde (18:00) desta segunda-feira (4) e dure até ao meio-dia de amanhã, 5 de novembro.
Outro dos potenciais fenómenos meteorológicos adversos é a trovoada, que poderá ser localmente forte de forma pontual.
Como se vê pelos mapas de previsão da Meteored, ao meio-dia de terça-feira, 5 de novembro, os remanescentes de Patty já terão perdido muita força, transformando-se numa depressão tropical.
Remanescentes de Patty também passarão por Espanha: estes são os locais onde se prevê mais chuva
Em Espanha, ainda bastante assolada pelos efeitos da catastrófica gota fria de terça-feira, 29 de outubro, os fenómenos meteorológicos adversos associados a Patty poderão ser substancialmente menores em magnitude e intensidade, comparativamente a Portugal.
Porém, os mapas da Meteored revelam que as regiões espanholas onde se prevê mais precipitação acumulada associada a esta tempestade são as localidades de Coria e Plasencia, ambas situadas na província de Cáceres - comunidade autónoma da Estremadura, com previsão de 20 a 30 mm acumulados até ao final de terça-feira, dia 5.
Além destes dois municípios, destacam-se, mais a sul, as localidades de San Silvestre de Guzmán e Villablanca, ambas na província de Huelva - comunidade autónoma da Andaluzia (15-20 mm acumulados).
Mais a norte, nas cidades de Salamanca e Zamora (Castela e Leão) a precipitação acumulada rondará os 5/10 mm. Desta vez, tendo em conta a trajetória prevista de Patty, a Galiza não será tão afetada como habitualmente, embora se destaquem Ourense, Póvoa de Trives e San Pedro (5-15 mm acumulados).
Ademais, correspondendo justamente à informação avançada pela Meteored, é preciso realçar que a AEMET já ativou o aviso amarelo para terça-feira, 5 de novembro devido ao risco moderado de precipitação no Norte de Cáceres, Tajo y Alagón e Meseta Cacereña. A probabilidade ronda os 10-40% nestas três sub-regiões (15 mm de chuva acumulada em 1 hora).
Entre estas três sub-regiões, o Norte de Cáceres será possivelmente a que estará mais exposta à chuva desta terça-feira (5). A probabilidade da precipitação acumulada rondar os 40 mm em 12 horas é de 40-70% para esta sub-região.
Como costuma ser a atividade tropical no Atlântico em novembro?
Como escrevia Francisco Martín León a 1 de novembro de 2024 em notícia do tempo.pt, “a atividade dos ciclones tropicais diminui consideravelmente em novembro, gerando em média uma ou duas tempestades tropicais de dois em dois anos, de preferência nas zonas ocidentais do Atlântico Norte”.
Porém, 4 dias volvidos, além de Patty, há previsão de outra depressão tropical (a depressão tropical "Eighteen") poder vir a ser nomeada. Se tal acontecer, não se exclui a hipótese de que novembro de 2024 rompa com as estatísticas climatológicas no que diz respeito à atividade ciclónica do Atlântico.