Como será o tempo em Portugal no mês de junho? Eis a última previsão de Alfredo Graça

O modelo de referência da Meteored já disponibilizou a sua previsão para o mês de junho em Portugal. Analisamos as opções de uma possível onda de calor ou de gotas frias que provoquem fortes trovoadas.

As trovoadas começam a ganhar bastante terreno em junho, altura em que podem ocorrer aguaceiros intensos, especialmente no interior e nas áreas de montanha.

Maio de 2024 em Portugal continental foi um mês muito variável do ponto de vista meteorológico, tendo registado longos períodos de instabilidade, mas também de estabilidade. Por outro lado, isto acaba por ser normal dado que tratar-se de um mês primaveril, marcado por uma tremenda irregularidade em estados de tempo, fruto da maior ou menor ondulação da corrente de jato.

Houve episódios de precipitação dos tipos frontal e convectiva, gerada por frentes e rios atmosféricos e/ou depressões isoladas em altitude, mas também houve lugar a períodos de calor de verão, com dias soalheiros, estáveis, quentes e secos em que os termómetros ultrapassaram os 30 ºC em várias regiões do país, sendo disso exemplo estes últimos dias do mês.

No final do mês de abril a seca regressou a algumas zonas da Região Sul e, com o verão iminente - relembramos que para a Climatologia o verão inicia a 1 de junho - é natural que o “fantasma” da seca volte a atormentar vastas zonas a sul do Tejo no que concerne à gestão dos recursos hídricos.

Ainda para mais tendo em conta que a sul do rio Tejo pouco ou nada choveu durante o mês de maio, o normal é que a seca se tenha intensificado e alargado a mais regiões. Deste modo, importa perguntar: como se prevê o início do trimestre estival?

Junho é o primeiro mês do verão climatológico

Deitando um olhar pela normal climatológica 1981-2010 é possível constatar alguns factos: em Portugal continental a precipitação média mensal em junho (26,3 mm) é consideravelmente inferior à do mês de maio (62,4 mm); a distribuição da precipitação é tremendamente irregular, com o Noroeste (zonas a oeste da Barreira de Condensação) e a Cordilheira Central relativamente chuvosas (30-50 mm) a contrastarem fortemente com o resto do país, grosso modo, entre 4 e 25 mm.

junho portugal temperatura
Junho é o primeiro mês do verão climatológico e a média da temperatura máxima já ultrapassa o patamar dos 25 ºC à escala do Continente.

A média da temperatura máxima mensal na geografia do Continente em junho (26,4 ºC) é significativamente mais elevada do que a de maio (21,6 ºC). Também é de salientar o grande contraste térmico entre as regiões a norte do Tejo (22 - 25 ºC) - mais frescas ou amenas - e aquelas a sul do Tejo, já bastante quentes (27 - 30 ºC).

Está prevista alguma onda de calor em junho?

As últimas previsões do nosso modelo de referência sugerem que a primeira quinzena de junho será mais variável do ponto de vista térmico, o que é normal. Os mapas mostram valores que podem situar-se entre 1 e 3 ºC acima dos registos médios em quase todo o território de Portugal continental logo na primeira semana do mês e inclusive entre 3 e 6 ºC acima da média na Beira Baixa (Castelo Branco) e em pontos do Alto Alentejo (Portalegre).

Por outro lado, ainda durante a primeira quinzena, mas já no período de 10 a 15 de junho, não se vislumbram anomalias significativas em relação à média do período, mas parece que haverá altos e baixos térmicos, isto é, uma provável “montanha-russa” das temperaturas, ainda que sem valores exagerados.

Aliás, observando os atuais mapas de tendência semanal de anomalias de temperatura para o referido período (segunda semana de junho), apenas se observam anomalias térmicas negativas para os distritos de Santarém e partes dos distritos de Coimbra e Leiria, com temperaturas até 1 ºC inferiores à média. Nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, as temperaturas seriam até 1 ºC superiores à média.

As anomalias térmicas em junho poderão ser mais suaves no litoral devido ao efeito das brisas, mas em grande parte do país os valores de temperatura estarão entre 1 e 3 ºC acima da média.

Para a segunda quinzena o panorama poderá manter a mesma toada variável. A terceira semana poderia ser relativamente semelhante à que a precedeu: sem anomalias estatisticamente significativas, exceto numa pequena zona do Sotavento Algarvio, onde poderá estar ligeiramente mais quente do que o normal.

Ainda não é possível dizer se ocorrerá uma onda de calor em junho, situações que normalmente se confirmam alguns dias antes no caso de episódios mais extremos ou após análise dos registos de um conjunto de estações oficiais.

A incerteza na previsão aumenta consideravelmente com a distância temporal, mas de momento os mapas de referência da Meteored sugerem valores de 1 a 3 ºC acima dos registos médios em grande parte de Portugal continental (exceto algumas zonas do litoral) e em todas as ilhas Açorianas. Na Madeira as anomalias térmicas positivas seriam ligeiramente mais suaves (até 1 ºC acima da média climatológica de referência).

Será um mês com ‘chuvadas’ e trovoadas?

No que diz respeito à precipitação, é bom recordar que o mês de junho é extremamente irregular e apresenta uma grande variabilidade interanual, pelo que a média não é um bom indicador. Em junho a precipitação convectiva (aguaceiros e trovoada) tende a dominar, produzindo acumulações de pluviosidade muito irregulares a curta distância (díspares entre regiões) e por vezes granizo, hidrometeoro potencialmente catastrófico para as culturas agrícolas nesta altura do ano.

anomalia de precipitação portugal
Para a primeira semana de junho vislumbram-se anomalias positivas de precipitação nos Açores e inferiores à média no Noroeste de Portugal continental.

Portanto, tendo estas características climatológicas em conta, só é possível comentar algumas tendências muito gerais com esta variável. De acordo com os mapas, os primeiros sinais sugerem que na primeira metade do mês haverá pelo menos algum episódio de instabilidade, embora não pareça que as acumulações ultrapassem os valores médios habituais para esta altura do ano.

É importante salientar o seguinte: o carácter caótico da precipitação convectiva e a imprevisibilidade de depressões como as gotas frias - impossíveis de detetar à escala local nestes mapas de médias a longo prazo - podem alterar completamente as tendências meteorológicas, pelo que a previsão aqui oferecida é uma mero olhar geral sobre o tempo a longo prazo à escala nacional, e não uma certeza absoluta.

Para a segunda quinzena do mês observam-se anomalias de precipitação negativas, especialmente na terceira semana (17-24 junho) no interior Norte e Centro, Alentejo e Barlavento Algarvio, onde se prevê tempo mais seco que o normal.

Quanto aos Açores observa-se uma primeira quinzena muito húmida e uma segunda quinzena com menos sinais claros. A Madeira poderia registar precipitação acima da média na segunda semana de junho.

Em direção a uma situação meteorológica muito variável?

As tendências do modelo de referência da Meteored mostram que junho poderá sofrer a influência de pelo menos três padrões ou teleconexões climáticas: a crista atlântica, bloqueio e NAO-.

Nenhum destes é aquele padrão típico de tempo quente, seco e soalheiro do verão, associado à teleconexão climática NAO+, em que a circulação de depressões ocorre nas latitudes altas, e o anticiclone fica mais ou menos estacionado a oeste de Portugal continental, sobre os Açores, proporcionando a típica estabilidade associada à estação estival.

junho
Na primeira quinzena predomina a crista atlântica, a NAO- e há alguns dias indefinidos possivelmente preenchidos com NAO+. Na segunda quinzena parece haver um claro predomínio do padrão de bloqueio.

Pelo contrário, qualquer um deles, especialmente o padrão de bloqueio e a NAO- estão associados a estados de tempo instáveis (chuva, trovoada, granizo e também alguma variabilidade térmica) no nosso país, daí que a média dos mapas de tendência semanal de precipitação não sejam um bom indicador para averiguar a precipitação, sobretudo em meses como o de junho. Isto significa que junho poderá ser um mês muito variável em Portugal continental.

Porém, isto não significa que a situação não se possa alterar, tendo em conta que a corrente de jato polar ainda poderá vir a estabilizar. Haverá que acompanhar o desenrolar da situação nos próximos dias, para que este cenário seja ou não confirmado, algo ao qual certamente estaremos atentos aqui na Meteored.