Como será o tempo em Portugal neste mês de agosto? Previsão atualizada de Alfredo Graça
Após o episódio de temperaturas muito elevadas dos últimos dias, o modelo de referência da Meteored atualizou a sua previsão para o mês de agosto em Portugal, e parece que poderão ser registadas algumas alterações.
Com o arranque da canícula, o período estatisticamente mais quente e seco do ano em Portugal, também se viveu o primeiro grande episódio de calor intenso e generalizado deste verão (por generalizado entenda-se em toda a geografia do Continente).
Na semana anterior já tinham sido registados valores elevados da temperatura máxima nas regiões do interior, distritos de Setúbal e Faro - dias 18 e 19 de julho - mas, de um modo geral, o ambiente “fresco” e até mesmo as trovoadas foram os protagonistas meteorológicos da primeira metade da estação estival.
Agosto está aí, “ao virar da esquina”, e, sendo o último mês do verão climatológico, é comum verificarem-se algumas alterações. Será este o caso nas próximas semanas? Eis a análise aos mapas e modelos de referência da Meteored.
Agosto, o mês mais quente do ano
Em primeiro lugar, vale a pena recordar que agosto é o mês mais quente do ano em Portugal continental, seguido de julho, de acordo com a normal climatológica 1981-2010. Mesmo assim, dentro do total das 18 principais estações da nossa geografia, numa delas o valor médio da temperatura média é exatamente o mesmo, e noutras 4 a temperatura média diminui ligeiramente entre julho e agosto.
O Alentejo, o Algarve e o Oeste e Vale do Tejo, mas também muitas vezes no interior Norte e Centro (Nordeste Transmontano e Beira Baixa, entre outras zonas) o calor continua a ser intenso, sobretudo na primeira quinzena do mês, que coincide com a segunda parte da canícula.
Nestas regiões não é invulgar chegar aos 35 ºC de temperatura máxima e por vezes aos 40 ºC (podendo inclusive ultrapassar este valor), mas é também em agosto que as noites tornam-se cada vez mais longas, pelo que tende a ficar ligeiramente mais fresco nas regiões do interior quando o sol se põe.
Ainda assim, em muitas zonas do país (maior probabilidade na Beira Baixa, Alentejo e Sotavento Algarvio) ocorrem noites tropicais (temperatura igual ou superior a 20 ºC durante toda a noite), o que faz com que muita gente tenha dificuldade em adormecer.
Apesar da raridade, é uma época relativamente propícia a algumas frentes atlânticas e à precipitação convectiva
A precipitação média acumulada em agosto apresenta um enorme contraste dentro da nossa geografia, com o Alto Minho a assumir o valor mais elevado (38.5 mm), por oposição a Setúbal, Baixo Alentejo e Algarve (as três com aproximadamente 4 mm).
Enquanto no Noroeste a precipitação bastante superior à média do Continente num dos meses mais secos do ano poderá ser explicada pela influência intermitente de algumas frentes atlânticas, a sul do Tejo o seu valor residual tem a ver com a latitude e com o anticiclone dos Açores.
Porém, é possível observar-se para Setúbal, Beja e Faro extremos de precipitação com valores muito díspares em relação à média, o que é muito provavelmente explicado por precipitação do tipo convectiva. Sendo rara, quando aparece é muito intempestiva, podendo gerar grandes acumulados pluviométricos num curto espaço de tempo.
Para os agricultores agosto é um mês temível porque a qualquer momento a possível chegada de uma depressão isolada em altitude ou da geração de precipitação convectiva pode dar origem a trovoada e, pior do que isso, a chuvas de granizo potencialmente catastróficas. Além disto, com a aproximação de setembro, a atmosfera tende a tornar-se mais dinâmica, dando origem a fenómenos de instabilidade atmosférica mais significativos.
Poderá ocorrer alguma onda de calor em agosto?
Até à data, o IPMA não emitiu nenhum aviso de onda de calor, embora o recente episódio de três/quatro dias sob aviso laranja de tempo quente (segunda-feira, 22 a quinta, 25 de julho) possa vir a ser confirmado (ou não) como tal, após a análise dos dados meteorológicos, nem que seja apenas à escala regional (e não nacional).
Para já, o modelo de referência da Meteored aposta em temperaturas que poderão ser entre 0,5 e 1,5 ºC superiores aos valores médios de agosto, mas apenas no interior Norte e Centro (Vila Real, Bragança, Guarda, Viseu e Castelo Branco) e no interior dos distritos de Braga e Porto.
Haverá alguns altos e baixos, como é habitual nesta altura do ano. Porém, no resto do país não se detetam anomalias estatisticamente significativas o que significa, em princípio, que seriam registados os valores habituais para esta época do ano.
Estas anomalias de calor durariam praticamente todo o mês nos distritos acima supracitados, enquanto no resto do Continente (distritos que não foram mencionados no parágrafo acima) poderia haver alguma variabilidade, possivelmente sem lugar para grandes excessos de calor.
Em grande parte da faixa costeira ocidental e em quase toda a faixa costeira meridional o efeito termorregulador do mar também contribuiria para os valores enquadrados com a média climatológica de referência.
Para já não vislumbramos situações de calor tão extremas e extensas como as de 2022 ou 2023, mas não deve ser descartada a possibilidade de vir a ser registada alguma onda de calor antes do final de agosto. Tal como o interior Norte e Centro, também se perspetivam temperaturas acima da média ao longo de todo o mês de agosto em ambos os arquipélagos, com a anomalia térmica positiva a ser mais pronunciada nos Açores (+1 a +3 ºC).
Será um mês com muitas trovoadas?
Embora agosto seja um dos meses mais secos do ano em Portugal, também é normal que a atmosfera comece a tornar-se mais dinâmica, especialmente durante a segunda quinzena. No oitavo mês do ano existe a possibilidade de queda de aguaceiros fortes ocasionalmente, por vezes de granizo, e acompanhados de trovoada.
Por este motivo, é difícil analisar a tendência pluviométrica, uma vez que se trata de precipitação do tipo convectivo, muito irregular, repentina e localizada. No entanto, os modelos revelam que, na primeira quinzena de agosto, a precipitação será inferior à média de norte a sul de Portugal continental e Madeira. Já nos Açores são expectáveis quantidades de chuva ligeiramente acima da média (+10 mm).
Para a segunda metade de agosto no Continente, não se observam, de momento, anomalias significativas em relação ao normal. Porém, nas tendências a longo prazo observa-se um padrão de bloqueio dominante, o que, aliado a uma corrente de jato polar mais ondulante, poderia “abrir caminho” a episódios de trovoada típicos da época.