Como será a canícula 2024 em Portugal? Este será o risco de ondas de calor e trovoadas, de acordo com os nossos mapas

A canícula já arrancou e logo nos seus primeiros dias registará um episódio de persistência de valores elevados da temperatura máxima. O modelo da Meteored acabou de atualizar a sua previsão e é isto que antecipa para as próximas semanas.

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A canícula é estatisticamente o período mais quente e seco do ano em Portugal e decorre entre 15 de julho e 15 de agosto. Eis o que se prevê para as próximas semanas.

Na passada segunda-feira, dia 15, teve início em Portugal a canícula, o período estatisticamente mais quente e seco do ano em todo o país. Em geral, considera-se que decorre entre 15 de julho e 15 de agosto, embora nalgumas zonas as temperaturas médias tendam a ser um pouco mais elevadas precisamente na segunda quinzena de agosto.

Como já explicámos na Meteored, este ano coincidiu com a chegada de uma massa de ar muito quente (quinta, dia 18 e sexta, dia 19) que provocará um episódio de temperaturas elevadas em boa parte da geografia do Continente (8 distritos em aviso amarelo devido ao tempo quente), com valores máximos diurnos que oscilarão entre 35 e 41 ºC em pontos do interior Norte e Centro, Alentejo, Setúbal e Algarve. Haverá noites tropicais nalgumas destas regiões.

A origem deste termo remonta à Roma Antiga. Canícula procede do latim can ou canis (cão), uma referência à constelação de Canis Maior (Cão Maior), onde se destaca a estrela Sirius, também conhecida como “abrasadora” ou “ardente”, uma das mais brilhantes da abóbada celeste e responsável pelo calor sufocante.

Teremos por diante semanas quentes, de acordo com o nosso modelo de referência

A primeira metade do verão climatológico em Portugal decorreu sem grandes sobressaltos do ponto de vista daquilo que pode ser entendido como calor extremo ou excessivo. O país foi poupado de episódios persistentes de calor intenso (vulgo ondas de calor), com as trovoadas fortes a assumirem o protagonismo meteorológico - especialmente em junho - e com temperaturas “frescas” em alguns dias.

O mês de junho foi, na verdade, termicamente “normal”, tal como denotado na análise climatológica realizada pela nossa especialista Teresa Abrantes, algo que foi mais percetível para todos nós, após a vivência de verões muito mais quentes nestes últimos anos.

Segundo as mais recentes previsões do nosso modelo de referência, durante a canícula, prevê-se que as temperaturas se situem entre 1 e 3 ºC acima dos valores médios das datas em quase toda a geografia de Portugal continental e arquipélago dos Açores. Mesmo em boa parte das regiões do interior, as anomalias térmicas positivas poderão ultrapassar os 3 ºC em relação à média da estação estival.

Na próxima sexta-feira, dia 19, uma boa parte das regiões do Continente registará uma isoterma entre 24 e 26 ºC a 1500 metros de altitude, um valor bastante elevado.

No arquipélago da Madeira as anomalias de calor serão ligeiramente mais suaves, com previsão de até 1 ºC acima do normal. Não se observam anomalias estatisticamente significativas no Litoral Oeste (Leiria), Lisboa e Vale do Tejo, Ribatejo (Santarém) e Península de Setúbal.

Todos sabemos que faz muito calor em Portugal ao longo da canícula, relembrando sempre que em cidades como Castelo Branco, Portalegre, Évora, Beja, Santarém ou Faro a temperatura máxima média oscila entre 30 e 35 ºC nestas semanas, pelo que valores até 2 ou 3 ºC acima da média durante várias semanas se traduzem numa situação de calor intenso e persistente, com possíveis repercussões para a saúde.

Tal como nos conta a Climatologia, em certas ocasiões o calor pode tornar-se mais extremo, com o maior valor da máxima a poder atingir entre 40 e 45 ºC nestas mesmas regiões.

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Para as próximas semanas vislumbram-se temperaturas geralmente acima da média em Portugal continental, Açores e Madeira, embora com as devidas exceções.

Resta saber se as próximas semanas poderão ser palco de uma ou mais ondas de calor, uma vez que é necessário cumprir uma série de requisitos em termos de duração, extensão, intensidade e ultrapassagem dos limiares. O seu potencial está certamente reunido. Em muitos casos, a classificação de uma onda de calor acontece a posteriori, após a análise dos dados meteorológicos.

Haverá algumas exceções

As exceções serão encontradas em toda a faixa costeira ocidental e no Barlavento Algarvio, onde as anomalias térmicas quentes serão substancialmente mais moderadas devido à influência das brisas e da nortada. No entanto, as regiões do interior e uma boa parte da costa meridional algarvia poderão ser palco de grandes focos de calor, tanto diurno como noturno.

Também não devemos perder de vista a evolução das temperaturas noturnas. Em várias localidades do Centro-Sul do país, nomeadamente na Beira Baixa, interior Alentejano e Sotavento Algarvio, pode tornar-se bastante difícil adormecer devido às elevadas temperaturas mínimas. Quando estas registam, durante todo o período noturno, valores iguais ou superiores a 20 ºC dão origem às chamadas noites tropicais.

Está prevista uma canícula com trovoadas?

A precipitação é substancialmente mais complexa de prever a longo prazo, e ainda mais quando é de natureza convectiva, que é predominante nesta estação do ano. Embora a canícula seja efetivamente o período mais seco do ano de norte a sul de Portugal continental, é também nesta altura do ano que existe a possibilidade de ocorrência de fortes tempestades que, embora ocasionais, provocam fenómenos adversos como trovoadas e/ou granizo. Também podem surgir, ainda que sejam muito mais raros, os chamados downbursts ou heatbursts.

Os mapas preveem que a precipitação durante o período mais quente e seco do ano seja ligeiramente inferior aos valores médios em praticamente todo o Continente, exceto nos Açores (semana de 12 a 19 agosto), e na Madeira na segunda das quatro semanas (22-29 julho). Nalguns locais do Continente situados no Litoral Centro, Oeste, Alentejano e Barlavento Algarvio não se detetam anomalias significativas, pelo que, mesmo no caso de eventual queda de precipitação nalgum momento das próximas quatro semanas, será sempre residual.

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De um modo geral prevê-se que os níveis de precipitação registados em grande parte das unidades territoriais portuguesas se situe ligeiramente abaixo da média de referência nas próximas semanas.

Tampouco se vislumbra um padrão meteorológico dominante durante toda a canícula. Mesmo assim, é possível inferir que na segunda quinzena de julho predominará um padrão NAO+, por oposição a uma situação bastante indefinida e sem regime meteorológico dominante na primeira quinzena de agosto. Tendo esta elevada incerteza em conta, não se descarta a passagem ocasional de alguma perturbação atmosférica (frente atlântica ou bolsa de ar frio) algures durante a primeira metade de agosto.