Ciclone tropical poderá formar-se no Atlântico e chegar aos Açores: eis a previsão do modelo de referência da Meteored
Nas últimas horas o Centro Nacional de Furacões dos EUA (NHC) expôs a possibilidade de, a médio prazo, se formar um ciclone subtropical ou tropical no Atlântico. Os Açores poderão estar na rota desta possível tempestade. Eis a previsão.
Esta segunda-feira (20), a meros 10 dias do final da temporada de furacões do Atlântico, convencionalmente definida como tendo início a 1 de junho e um fim a 30 de novembro, os meteorologistas e climatologistas despertaram com novidades do outro lado do Atlântico, provenientes do NHC (Centro Nacional de Furacões dos EUA).
Dois centros de baixas pressões, com alguma probabilidade de evoluírem para algo mais consistente e condizente com um sistema tropical de maior magnitude, apareceram nas cartas sinópticas, mostrando que a temporada de furacões do Atlântico de 2023, apesar de estar a chegar ao fim, ainda está bem viva!
Facto este que não pode ser dissociado de uma anomalia térmica positiva das temperaturas à superfície do mar (águas mais quentes), o que contribui inevitavelmente como um "combustível" para a formação de potenciais ciclones/tempestades, depressões tropicais ou subtropicais e/ou furacões.
O que conta o NHC no seu relatório?
Para a primeira perturbação assinalada no seu relatório, que diz respeito à área geográfica do Atlântico Norte, Mar das Caraíbas e Golfo do México, o NHC salienta a presença de um “pequeno mas bem definido centro de baixas pressões situado no centro do Mar das Caraíbas que estava a produzir ventos de 43-48 km/h”. Contudo, “a atividade associada de aguaceiros e trovoadas associadas a este sistema permanecem desorganizadas”.
Além disto, a presença de “ar seco nas proximidades do sistema deverá impedir desenvolvimento adicional à medida que a perturbação se for deslocando lentamente para oeste nos próximos dias”. Tendo isto em conta, o NHC destaca uma baixa probabilidade de formação nas próximas 48 horas (10%) e em 7 dias esses mesmos 10% mantêm-se, o que indica que dificilmente se formará algum ciclone tropical advindo desta pequeno e bem definido centro de baixas pressões.
Perturbação número 2: a que poderá vir a atingir os Açores
Ainda de acordo com o NHC, para o Atlântico Subtropical Central, a divisão do Centro de Previsão Tropical do Serviço Meteorológico dos Estados Unidos realça que uma área de baixas pressões está a desenvolver-se a sudeste das Bermudas. Segundo o NHC e as imagens de satélite que utilizamos aqui na Meteored, esta baixa não tropical (ou seja baixa frontal) deverá deslocar-se para sudeste através do Atlântico Subtropical Central.
No trajeto que percorrerá ao longo dos próximos dias irá deparar-se com temperaturas do mar mais quentes do que o normal à superfície do mar e, as condições ambientais em redor serão propícias para que este sistema (inicialmente uma baixa frontal) possa adquirir gradualmente características tropicais.
Para os próximos dois dias, a probabilidade de formação é bastante reduzida (apenas 10%), mas, durante os próximos 7 dias, essa percentagem quadriplica. Assim, há uma probabilidade bastante razoável de que realmente se forme uma tempestade de carácter tropical ou subtropical nas proximidades dos Açores e que pode mesmo vir a alcançar o Arquipélago, com maior ou menor intensidade.
Não é só o NHC que afirma que “uma tempestade subtropical ou tropical poderá formar-se na última parte desta semana, à medida que o sistema se for movendo para leste, seguido de uma viragem para nordeste até no fim de semana”. Outros mapas do nosso modelo de referência - ECMWF - também apostam por essa probabilidade, como já analisaremos de seguida.
Ainda assim, quando chegar a esta unidade territorial de Portugal insular, uma das possibilidades é de que já o faça como depressão tropical/subtropical. Contudo, a incerteza na previsão projetada pelos modelos é grande, pois falamos de probabilidades e não de certezas, pelo que até lá todos os cenários se mantêm em aberto.
O que preveem os mapas dos modelos de referência utilizados na Meteored?
De acordo com o mapa de probabilidade de ocorrência de tempestade tropical, para um prazo de 7 dias (20-27 de novembro), 7 das 9 ilhas dos Açores seriam abarcadas pela instabilidade deste sistema potencialmente tropical, sendo que apenas o Grupo Oriental dos Açores escaparia a esta intempérie.
Assim, os Grupos Ocidental e Central podem vir a estar expostos à passagem deste sistema com características potencialmente tropicais. A probabilidade de ocorrência de tempestade tropical nas ilhas do Grupo Central é reduzida (5-10%), mas no Grupo Ocidental a percentagem aumenta para o dobro (10-20%).
Tendo em conta um outro mapa de previsão de alcance alargado da probabilidade de ocorrência de tempestade tropical, a probabilidade de passagem de uma tempestade tropical num raio de 300 km varia entre 5 e 30%. Portanto, tal como tão bem se observa no mencionado mapa, a potencial tempestade tropical passaria pelas coordenadas geográficas dos Açores que correspondem às latitudes 37° e 40° N e às longitudes 25° e 31° W.
Por último, analisando um gráfico de vento térmico do modelo americano (GFS), este também parece corroborar a informação avançada pelo NHC e prevista pelo modelo de referência da Meteored (ECMWF), uma vez que antecipa a formação de um núcleo quente simétrico na dita tempestade para dentro de poucos dias, possivelmente entre domingo, dia 26 e segunda, 27 de novembro, e a apontar para os Açores.
Resta agora esperar pelos próximos dias para verificar se há, ou não, uma evolução no desenvolvimento deste sistema tropical. Continuaremos a vigiar esta situação meteorológica, trazendo até si a mais atual informação sobre o estado do tempo.