As previsões continuam a apostar num verão muito quente em Portugal? Eis o que revela o modelo de referência da Meteored
O verão astronómico arranca esta noite no instante do solstício de verão e muita gente já questiona quando chegarão os dias de calor tipicamente estival a Portugal. Livrar-nos-emos das ondas de calor nos próximos meses? E a chuva, incomodará os planos das férias?
Para a Climatologia o verão já arrancou há algumas semanas (1 de junho). Mas a verdade é que o estado do tempo em Portugal continental tem sido muito variável, contrariando a perceção generalizada da população em relação aos dias quentes e estáveis do sexto mês do ano. Tal variabilidade deve-se à passagem de vales depressionários, frentes e gotas frias que têm provocado grandes episódios de aguaceiros e trovoadas, descidas significativas de temperatura e também breves picos de calor intenso.
Porque estamos a viver episódios de temperaturas frescas para a estação?
Ao contrário de anos anteriores (2022 e 2023), marcados por grandes ondas de calor nesta altura, os centros de ação atmosférica têm manifestado uma grande mobilidade, impedindo que os diferentes estados de tempo conservem as suas características durante muito tempo (variabilidade).
A corrente de jato polar, encarregue de “orquestrar” a circulação atmosférica na nossa latitude, é a responsável pela situação meteorológica das últimas semanas. De momento está bastante fraca, traduzindo-se em grandes ondulações, que originam uma sequência de cristas e depressões, associadas ao tempo variável. Do ponto de vista sinóptico, este panorama é mais característico da primavera.
Apesar desta situação mais típica de primavera, com vários episódios de temperaturas anormalmente baixas para a época do ano, e com trovoadas e chuvadas essenciais para enfrentar os meses duros do verão - sobretudo em regiões onde a água mais falta faz cronicamente - a situação descrita não foi suficiente para contrariar as anomalias de calor.
Por exemplo, o mês de maio acabou por ser termicamente "normal" em Portugal continental, o que se trata de uma grande novidade após tantos meses quentes consecutivos.
É assim que poderá ser o resto do verão, de acordo com o modelo de referência da Meteored
Porém, isto não significa que o resto do verão seja tão suportável. A mais recente atualização das previsões do modelo de referência da Meteored mostra que em julho e agosto as temperaturas poderão estar significativamente acima do normal para esta altura do ano em grande parte do país, especialmente nas regiões do interior, onde se preveem temperaturas até 2 ºC acima da média climatológica.
Uma análise mais pormenorizada ao mapa de anomalia térmica para os meses veranis de julho e agosto deteta os valores de temperatura acima da média mais pronunciados em regiões do interior Norte e Centro, nomeadamente nos distritos de Vila Real, Bragança, Viseu, Guarda e Castelo Branco.
Temperaturas acima da média em quase toda a Europa, mas haverá exceções… algumas delas em Portugal continental
A probabilidade de o verão ser mais quente do que o normal é de 70 a 100%, de acordo com o ECMWF, o nosso organismo de referência, uma situação que também se verificará em grande parte da Europa. No entanto, isto não significa que teremos meses de verão tão sufocantes como em 2022, quando foram batidos muitos recordes.
Mais cedo ou mais tarde, a primeira onda de calor de 2024 chegará. Se compararmos a situação atual com a de 2022 ou 2023, pode-se de facto considerar que este verão teve um arranque "fresco". Mesmo assim, as temperaturas registadas continuam a exibir valores acima das médias da normal climatológica de referência 1991-2020, que já são mais elevadas do que em normais climatológicas relativas a períodos anteriores, pelo que o calor intenso acaba por ser visto como normal.
E assim que temos dias mais "normais", os negacionistas, não muito numerosos mas muito barulhentos, aparecem em massa a perguntar sobre as alterações climáticas, sem terem olhado para os dados preocupantes dos últimos anos. No entanto, também não devemos cair no catastrofismo ou no sensacionalismo climático, pois estamos a falar de um processo global extremamente complexo que afeta todos os domínios que possamos imaginar.
Isto é o que vislumbram os mapas da Meteored em relação à precipitação em Portugal no verão
Apesar da média não ser um bom indicador para avaliar a previsão de precipitação em meses estivais como julho e agosto, o que é certo é que de momento, para ambos os meses, os mapas de anomalia de precipitação da Meteored apostam em valores de precipitação dentro da média praticamente de norte a sul de Portugal continental.
As únicas exceções poderão ser uma grande parte da geografia do Minho e as Terras de Barroso, com previsão de tempo mais seco do que o normal para o mês de agosto.
Tendo em conta esta previsão de valores “normais” de chuva para o verão 2024, é possível que sejam registados valores semelhantes, pelo que se torna necessário deitar um olhar para a média de precipitação total da normal climatológica de referência dos meses de julho e agosto em Portugal continental.
Habitualmente, é a norte e a oeste das principais cadeias montanhosas - Barreira de Condensação e Cordilheira Central - que os valores de pluviosidade em julho e agosto são mais elevados, situando-se geralmente entre 10 e 40 mm, com Viana do Castelo e Braga a tomarem a dianteira. Porém, até mesmo distritos como os de Bragança e Guarda, situados a oriente das mencionadas cadeias montanhosas, registam valores médios de precipitação total entre 10 e 20 mm.
A sul do Mondego a precipitação em julho e agosto é substancialmente mais modesta, verificando-se que a totalidade das principais estações meteorológicas situadas a sul do referido curso de água registam, normalmente, uma média de precipitação total inferior a 10 mm, sendo que algumas delas registam valores médios inferiores a 5 mm em ambos os meses, como é o caso dos distritos de Beja e Faro.