A tempestade tropical Don é oficial a oeste dos Açores, qual é a probabilidade de afetar Portugal?
Nesta manhã de sexta (14), o NHC nomeou de Don uma tempestade subtropical situada a 1875 km oeste-sudoeste dos Açores. Este é o 4º ciclone da temporada de furacões do Atlântico 2023. Haverá efeitos no tempo em Açores e Portugal?
Na passada terça-feira, 11 de julho, um centro de baixas pressões (depressão) formou-se sobre o Atlântico Central, a leste-nordeste das Bermudas. E hoje, sexta-feira 14, o Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos da América (EUA) - NHC classificou o sistema como Tempestade Subtropical Don. Este é o quarto ciclone/sistema da temporada de furacões do Atlântico 2023, iniciada a 1 de junho e que terminará, oficialmente, no próximo 30 de novembro.
Nas horas imediatamente anteriores à nomeação de Don, o NHC já atribuía uma probabilidade superior a 60% da formação da tempestade subtropical, indo de encontro às previsões projetadas por vários modelos, incluindo o IFS do ECMWF, aquele em que depositamos a nossa maior confiança. Agora que a tempestade subtropical Don já está organizada em pleno oceano Atlântico, a questão que se impõe é: em que medida irá isto afetar os Açores e Portugal continental? Como poderá o estado do tempo ser condicionado nos próximos dias? Eis abaixo a nossa análise ao fenómeno e previsão da evolução de Don.
Previsão da evolução da tempestade subtropical Don nos próximos dias
De acordo com os dados obtidos a partir do último rastreio - visíveis na nossa secção de imagens de satélite da Meteored Portugal - a tempestade subtropical Don exibia, por volta das 16:00, uma pressão central mínima de 1004 hPa e vento máximo sustentado de 75 km/h, prevendo-se que exiba, pela meia-noite de sábado 15 de julho, vento máximo sustentado de 74 km/h, com rajadas de vento de 93 km/h.
Entretanto, à medida que os próximos dias forem decorrendo, prevê-se uma gradual perda de intensidade da tempestade subtropical Don cuja significativa diminuição se refletirá quer no vento máximo sustentado, quer nas rajadas de vento e na pressão central mínima do núcleo. Aliás, apesar de se prever uma manutenção na organização do núcleo da tempestade subtropical Don, ela continuará progressivamente a perder força nos dias vindouros.
Neste sentido, para daqui a pouco menos de 72 horas, ao meio-dia de segunda-feira 17 de julho, as atuais previsões do modelo Europeu (ECMWF) antecipam vento máximo sustentado de 65 km/h e rajadas de vento de 83 km/h. Uma das possíveis razões associadas à perda de intensidade de Don poderá estar relacionada com o facto da tempestade se deslocar para norte, onde a temperatura à superfície do mar estaria ligeiramente mais fresca nesta secção do Atlântico.
No entanto, depois de se deslocar para norte, a tempestade subtropical Don poderá sofrer uma nova alteração na sua trajetória. Os nossos modelos de referência estimam um desvio para sul entre segunda, 17 e quarta 19 de julho. Desta forma, o sistema subtropical ficará de novo situado a oeste-sudoeste do Arquipélago dos Açores, mas a uma distância muito menor das ilhas açorianas em comparação ao dia de hoje.
Haverá efeitos em Açores e Portugal continental deste raro fenómeno?
Apesar de as depressões que se formam nesta região do Atlântico possuírem algum grau probabilístico de afetar Portugal continental de uma forma ou de outra, não parece ser esse o caso, para já.
A dita rareza deste fenómeno meteorológico prende-se com o facto de estas serem mais comuns de ocorrerem e de potencialmente afetarem os Açores no final do verão - início de outono (finais de agosto, mês de setembro e início de outubro - recorde-se em anos recentes o Furacão Lorenzo nos Açores em outubro de 2019 ou a Leslie em Portugal continental em outubro de 2018) e não num mês de julho. A formação e possível ocorrência deste tipo de sistemas não tem precedentes para um mês de julho.
Ainda assim, será necessário prestar atenção aos efeitos indiretos, uma vez que a presença de um sistema de baixas pressões no Atlântico próximo poderá estimular a entrada de massas de ar subtropicais no nosso meio ou reforçar outras possíveis depressões atlânticas. As anomalias significativas da superfície do mar também terão de ser vigiadas, bem como as condicionantes exercidas sobre estes sistemas à medida que a estação do verão for decorrendo.
Embora não seja provável a ocorrência de efeitos (chuva, trovoada, vento forte e mar alterado) da tempestade subtropical Don nos Açores entre hoje e o próximo 19 de julho, começam a surgir indícios de que entre o meio da próxima quarta (19), mas especialmente no dia 20, as ilhas do Grupo Ocidental (Corvo e Flores) possam estar expostas a alguma instabilidade meteorológica associada à tempestade. As restantes ilhas também poderiam receber alguma precipitação, mas em muito menor quantidade. Quanto a Portugal continental, tudo indica, para já, que não ocorrerão efeitos nem diretos nem indiretos no estado do tempo.
É importante adiantar que, à data de hoje, a incerteza na previsão é enorme e ainda tem imensa margem para sofrer alterações, apesar da possibilidade de tempo instável associado à tempestade subtropical Don nas ilhas mais ocidentais dos Açores do dia 19 em diante.