A estratosfera acaba de aquecer subitamente sobre o Ártico e Portugal poderá sentir os efeitos dentro de 10 dias

A estratosfera está a aquecer sobre o Ártico e pode estar iminente um aquecimento súbito estratosférico. Quais são as consequências deste fenómeno nas previsões do tempo a médio prazo para Portugal?

Alguns modelos meteorológicos sugerem que pode estar em curso um aquecimento súbito no hemisfério norte. Atualmente, a média dos cenários aponta para uma subida de 10 ºC, mas a subida deve ser de, pelo menos, 25 ºC no espaço de uma semana para ser considerado um aquecimento súbito estratosférico (ASE).

Abaixo, analisamos a possível relação entre um ASE e o tempo em Portugal durante as próximas semanas.

O que é um aquecimento súbito estratosférico?

Um ASE (Aquecimento Súbito Estratosférico) ocorre quando uma porção da estratosfera aquece rapidamente, com subidas que podem atingir os 50 °C em poucos dias. A estratosfera é a segunda camada da atmosfera terrestre, estendendo-se de 10-20 km acima da superfície da Terra até mais de 50 km. Os ASEs são comuns no inverno e podem provocar alterações significativas na dinâmica atmosférica na troposfera.

A forma como o ASE intervém no tempo à superfície deve-se a uma reação em cadeia. O primeiro elo é uma modificação da circulação associada ao vórtice polar, dias ou semanas após a ocorrência do ASE.

E o vórtice polar?

O vórtice polar é uma espécie de cintura de ventos fortes que se forma acima do pólo, na estratosfera, a uma altitude de 15-20 quilómetros. Trata-se, portanto, de um enorme vórtice ciclónico com ventos muito fortes que sopram de oeste para leste.

Contrariamente à crença popular, quanto mais forte for o vórtice, menos visíveis serão os efeitos do frio à superfície. Um vórtice polar forte significa que o ar frio é confinado por uma espécie de barreira invisível, incapaz de se deslocar para sul.

Em contrapartida, com um vórtice polar fraco, o ar frio contido no Ártico pode transbordar para sul, dando origem a vagas de frio intenso nas latitudes médias e altas. O vórtice polar é como as comportas de uma barragem, onde a água é o ar frio acumulado no Ártico.

Para que estas intrusões de ar muito frio se concretizem, é necessário que o vórtice polar enfraqueça e se propague verticalmente para a troposfera. Nem sempre é esse o caso, uma vez que o vórtice polar ocorre longe da superfície, a grandes altitudes.

As possíveis consequências a curto e médio prazo

Quando ocorre o ASE, os ventos do vórtice polar enfraquecem ou podem mesmo inverter-se, passando a soprar de leste para oeste; e, nalguns casos, o vórtice polar chega mesmo a dividir-se em dois e a mudar de posição. Isto pode levar à entrada de ar polar ou ártico em latitudes mais baixas. A atividade das tempestades pode intensificar-se e trazer chuva intensa e ventos fortes a algumas zonas do hemisfério norte.

No entanto, um ASE não implica necessariamente que as alterações se propaguem para a troposfera. Mesmo que o referido enfraquecimento do vórtice ocorra, as consequências não têm necessariamente de se fazer sentir em Portugal; o ar frio pode acabar nos EUA ou na Ásia.

Em todo o caso, o ASE abre a possibilidade de novas alterações no panorama atmosférico, talvez implicando a continuação a médio prazo (cerca de 10 dias) de tempo chuvoso em Portugal ou episódios invernais tardios.