A chuva iminente chegará às áreas mais necessitadas de Portugal?
Nos próximos dias o anticiclone irá deslocar-se momentaneamente, abrindo espaço para a passagem de frentes atlânticas. A chuva afigura-se, assim, como um cenário cada vez mais provável dentro de poucos dias. Mas será que a sua chegada beneficiará as áreas que mais precisam em Portugal?
Ainda ontem comentávamos a possível chegada da chuva a Portugal continental já nesta próxima quinta (10) e sexta-feira (11), tendo por base os mapas do modelo Europeu. Contudo, as atualizações mais recentes dão conta da retirada de uma grande parte da precipitação que se previa para os dias 10 e 11, restringindo a eventual precipitação a uns meros aguaceiros fracos e irregulares, derivados da passagem de uma frente débil, que passará “de raspão” pelo Norte de Portugal continental.
Desta forma, apenas o Minho, Trás-os-Montes e outros pontos dispersos da nossa geografia receberiam alguma água, quase insignificante, sobretudo no contexto de uma seca que se agrava a cada dia que passa.
Dos chuviscos à possível primeira frente expressiva de 2022 em Portugal
Com a deslocação do anticiclone para leste, em direção ao Mediterrâneo Central, fica a via aberta para a chegada de eventuais sistemas de baixa pressão. Com efeito, era isso que se esperava que acontecesse nos próximos dias 10 e 11, mas, ao que tudo indica, apesar da perturbação frontal passar pelas nossas latitudes, cingir-se-á apenas ao Norte do país, deixando precipitação residual.
Ainda que o cenário seja completamente assolador tendo em conta as projeções dos mapas de geopotencial a médio e longo prazo, há uma réstia de esperança na concretização de uma potencial situação de instabilidade que poderá produzir-se em território ibérico no próximo dia 13, especialmente na metade ocidental (Portugal Continental).
Embora estejamos a referir-nos a um prazo de somente 5 dias, esse intervalo temporal é suficiente para lançar alguma incerteza no prognóstico de chuva que o ECMWF dá praticamente como certo para esse dia. De facto, se as previsões se cumprirem, a chuva que cairia nesse dia seria como “ouro” para os campos e culturas agrícolas, bem como para as forragens, pastagens e atividade pecuária em geral, entre outros setores de atividade dependentes da água.
Mesmo assim, e é extremamente importante ressalvar este aspeto, a potencial queda de precipitação prevista para a tarde do dia 13 de fevereiro, próximo domingo, e que regaria de forma generalizada a quase totalidade do território de Portugal continental, deve ser encarada simplesmente como algo pontual. Será, obviamente, bastante insuficiente para reverter o cenário de seca gravíssimo que o país atravessa.
Contudo, pode também ser visto como aquilo que possivelmente será: um mero “balão de oxigénio” que ajudará a atenuar de forma muito ligeira a seca que assola o país, e algo que pode aliviar, ainda que de maneira muito esporádica, a escassez de água nos campos, culturas agrícolas, pecuária e noutros setores de atividade.
Episódio de chuva de domingo e seu impacto nas bacias hidrográficas
Tal como referido, pela tarde de domingo, dia 13, uma frente poderá, finalmente, regar o país, começando por penetrar em solo nacional através do Noroeste Minhoto. De acordo com as atuais previsões do ECMWF, há localidades como Arcos de Valdevez e Ponte de Lima que poderão acumular mais de 20 litros/m2 no espaço de 24 horas.
O Alto e Baixo Minho (Viana do Castelo e Braga) serão as sub-regiões mais beneficiadas pela “chuvada” prevista para domingo, sendo seguidas pela Área Metropolitana do Porto, Trás-os-Montes e Alto Douro (Vila Real) e partes da Beira Interior (Viseu). A precipitação prevê-se fraca inicialmente, passando posteriormente a um regime moderado e, depois, voltará a cair fraca. Na segunda-feira (14) restarão uns resquícios dispersos que, eventualmente, cairiam um pouco por todo a geografia continental.
Por último, segundo os dados oficiais do SNIRH (Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos), que dizem respeito aos atuais níveis de água armazenados nas albufeiras e barragens do nosso país, a percentagem de água é baixa ou bastante baixa em vários locais, especialmente Barlavento Algarvio, Lima, Ave, Cávado, Mira e Sado (volume armazenado inferior a 50%). Assim, apesar de algum 'otimismo' com o episódio de domingo (13), este evento de precipitação será insuficiente e incapaz sequer de atenuar a situação – digamos que – de uma forma significativa. Quanto muito, poderá fazê-lo, mas com muito pouca expressão.
Era necessário que se registassem vários dias consecutivos com precipitação generalizada e abundante para que os níveis hídricos ficassem repostos e a seca revertesse significativamente. Por outro lado, também se poderia apostar numa melhor gestão da água em termos de governança territorial, bem como num investimento em infraestruturas hídricas. Por isso, respondendo à questão que dá título a este artigo, a chuva chegará apenas a parte das áreas mais necessitadas (Norte) mas, mesmo nessas, será insuficiente.
Previsões a longo prazo pouco animadoras
E infelizmente, se tivermos em conta os nossos mapas de referência, sobretudo o parâmetro do geopotencial, tudo indica que teremos mais umas quantas semanas com o anticiclone a dominar o panorama meteorológico em Portugal continental.