O outono chega com a borboleta?
O complexo e dinâmico sistema climático sempre foi objecto de entendimento e explicação pelos eventos meteorológicos que o caracterizam e que suscitam curiosidade, duvidas e até algum temor por parte do homem.
Na natureza tudo está engenhosamente ligado, um complexo e delicado mecanismo no qual todas as acções têm um inerente efeito. Personifica-se esta correlação através do chamado “Efeito Borboleta”, uma expressão utilizada na Teoria do Caos para fazer referência a uma das características mais marcantes dos sistemas caóticos: a sensibilidade nas condições iniciais (identificado pelo meteorologista Edward Lorenz ao modelar a evolução do clima).
Ora, o fenómeno da sensibilidade em relação a pequenas perturbações nas condições iniciais é descrito através de uma alegoria, apelidada de Efeito Borboleta, segundo a qual o bater de asas de uma borboleta na Austrália pode desencadear uma sequência de fenómenos meteorológicos que provocarão eventos extremos nos EUA.
Tem-se verificado que o gradiente térmico entre o Equador e o Ártico está cada vez mais ténue, o que aumenta a frequência de eventos extremos (vagas de calor cada vez mais frequentes e prolongadas, por exemplo). Dados indicam que no Ártico estão a ocorrer alterações nos valores de temperatura cerca de duas a quatro vezes mais rápido do que no resto do planeta, o que provoca uma diminuição na capacidade dos ventos circulantes criarem o usual e necessário reequilíbrio no sistema climático, dando origem a ocorrência de eventos extremos mais intensos, com maior frequência e mais prolongados no tempo. E, olhando ao período de verão que ontem terminou, recordam-se intensas vagas de calor. E, a perspectiva estatística é que continuem a ocorrer, particularmente no hemisfério norte – Europa, Russia, China e EUA, o que, pela densa taxa demográfica é amplamente preocupante.
É bem verdade que o tempo com temperaturas elevadas grangeia apreciação pela grande maioria dos humanos porque se associa com actividades lúdicas, contudo, quando persistentes por extensos períodos de tempo, implicam com efeitos nocivos na saúde, na agricultura, em todo o sistema biótico. O que tem acontecido é que, em sistema cíclico de acção – reacção, e por efeito do calor acumulado entre a primavera e o outono no oceano Ártico, o coberto gelado tem vindo a perder-se, contribuindo para o aquecimento da atmosfera, sendo que, a expansão do ar próximo da superfície devido ao aquecimento, afecta directamente a circulação global e os sistemas de autorregulação.
Alterações nos padrões climáticos?
Não são consequência exclusiva de um descontrole quantitativo nos gases com efeito de estufa presentes na atmosfera. Existe um determinante factor denominado de “temperatura do Ártico” que implica combinativamente com os efeitos sentidos subsequentes de alterações nos padrões do clima.
Do mesmo modo que, o aquecimento do Ártico afetará de forma prolongada a "corrente de jato polar" (é afectada por oscilações na diferença de temperatura entre o Ártico e as latitudes equatoriais, sendo que, quando o diferencial é grande a velocidade da corrente acelera, e quando a diferença de temperatura é menor, a corrente perde força e diminui a velocidade) – sendo este um elemento chave para o clima na América do Norte e na Europa.
E no actual cenário, o que tem vindo a acontecer é que a corrente de jacto, composta por ventos que sopram de oeste para leste (a grandes altitudes) tendencialmente, tem vindo a perder força e a ser desviada da sua trajactória, propiciando a que os fenómenos meteorológicos tendam a durar mais tempo, fazendo sugerir que as características do tempo estão a mudar. Um sistema interdependente, onde todas as acções despoletam reações que se exponenciam, e assim começamos o Outono pouco fresquinho!