E se o frio do Ártico ficar mais quente?
O rápido aquecimento do Ártico terá repercussões em todo o sistema climático, e nos últimos meses temos já vindo a perceber consequências disso, com o número de fenómenos extremos que têm ocorrido, particularmente, no Hemisfério Norte deste planeta azul.
Um estudo divulgado no final de Outubro, relaciona a excessiva acumulação de gases com efeito de estufa, com as ondas de calor vivenciadas nos últimos meses, assim como, os episódios de inundações e secas que têm vindo a ocorrer com mais frequência um pouco por todo o Hemisfério Norte.
Trata-se, pois, de mais uma exaustiva análise ao clima do planeta, esta com enfoque no mecanismo meteorológico – o Jacto Polar, uma espécie de rio de vento, cuja velocidade e ondulação percorre a área que compreende as latitudes 30⁰ e 60⁰N, ao redor do planeta, no sentido W - E, equilibrando a diferença de temperatura entre o Ártico e as latitudes médias.
De acordo com o estudo publicado na revista Science Advances, a quantidade de gases com efeito de estufa existentes na atmosfera estão a influenciar directamente o normal funcionamento da corrente de Jacto, propiciando o aumento dos períodos de secas, inundações e incêndios florestais. As projecções sugerem um exponencial aumento da frequência e severidade dos efeitos das condições meteorológicas extremas, consequência da emissão de poluentes industriais, da queima de combustíveis fósseis, e de uma agricultura e pecuária intensivas.
Como se distribuem as correntes de ar?
Em redor do planeta, existe um aquecimento diferencial da atmosfera, o que cria sistemas de alta e baixa pressão, os quais tendem a distribuir-se, em bandas, como de alta pressão na região do equador, de baixa pressão ao longo das latitudes médias, e de alta pressão nas regiões polares. Deste modo, nas latitudes médias, os ventos tendem a soprar de Oeste para Este, contrariamente ao que acontece nas regiões polares e no equador, em que a direcção dos ventos é de Este para Oeste.
O efeito Albedo, tem relevância?
Ora, o gelo e a neve reflectem cerca de 85% da radiação solar, já pelo contrário, o “escuro” das massas de água, os oceanos, absorvem cerca 93%. Diminuindo o território gelado, como está a acontecer no Ártico, à medida que vai aquecendo, a água derrete mais gelo, e águas com temperaturas mais elevadas, por inerência, dificultam a formação e “sobrevivência” do gelo marinho – recordar aqui que a água salgada congela a cerca de -2⁰C.
E qual o papel do vórtice polar?
Trata-se de uma massa de ar frio, um ciclone permanente que aprisiona o ar frio, e que se encontra confinada a cada um dos pólos, ladeado por uma corrente de jacto polar, a qual é alimentada, como acima referido, pelo diferencial de temperatura e pressão entre o ar gelado a norte e o ar mais quente a sul (e vice-versa no H.S.).
À medida que a perda de gelo marinho se intensifica, a região do Ártico vai aquecendo e assim reduzindo o contraste, o que enfraquece e perturba a direcção e potência da corrente de jacto. Com um serpentear mais lento, sinuoso e expandido para sul, as condições climáticas são incontornavelmente afectadas, criando cenários como os extremos de frio e neve vivenciados nos dois últimos invernos na Nova Inglaterra, ou os invernos enregelados na Ásia, (…), ou, como o ocorrido em final de julho passado, com seca prolongada, temperaturas elevadas e incêndios na Califórnia, ou as ondas de calor e seca na Escandinávia e Europa central, devido à estagnação sobre a Califórnia e a Europa de centros de alta pressão.
Apesar da incontornável ciclicidade climática do planeta, o estudo e a monitorização destes sistemas climáticos é de extrema importância, pois permitem uma melhor compreensão dos efeitos que podem ocorrer na circulação da atmosfera, possibilitando logo à priori, uma previsão do estado do tempo com maior acuidade, e por inerência, contribuir para a nossa segurança e bem-estar!