As alterações climáticas e a uva de mesa
As alterações climáticas em Portugal podem constituir oportunidades para certo tipo de culturas, como a vinha, desde que se tomem as medidas adequadas para a redução do risco associado ao aumento da temperatura e à redução da precipitação.
As alterações climáticas em Portugal podem ser oportunidades para algumas culturas, desde que se tomem medidas para a redução do risco associado ao aumento da temperatura e à redução da precipitação.
As previsões
De acordo com as previsões dos modelos para os diferentes cenários climáticos e tendo em atenção as diversas medidas de redução de emissões, os valores da temperatura em Portugal Continental vão continuar a aumentar nos próximos anos.
Por outro lado, em termos de precipitação, embora a incerteza seja maior, prevê-se uma redução de precipitação no território Continental. Ela pode vir a atingir os 40% da precipitação anual com as maiores perdas a verificarem-se na Região Sul.
Neste contexto levantam-se preocupações sobre os possíveis impactes das alterações climáticas na agricultura, mas quando os analisamos nas diversas culturas surgem janelas de oportunidade.
Os impactes da temperatura
Vejamos então a vinha, uma cultura que necessita de Invernos frios, Primaveras amenas e Verões quentes, em que a maturação é atingida através da acumulação do calor recebido pela planta, com valores variando de acordo com as diversas castas.
O aumento da temperatura virá desta forma acelerar o processo de maturação, existindo já publicados trabalhos quer em respeito à uva de vinho, quer à uva de mesa. Relativamente à uva de mesa, pode-se já verificar que com o aumento de temperatura média que se tem vindo a observar nos últimos anos, o processo de maturação acelerou. Um futuro aumento da temperatura média em dois graus poderá ainda tornar o período de maturação mais curto, alargando as condições consideradas necessárias para o cultivo de castas de uva de mesa a uma área muito maior do território continental.
Segundo alguns autores, designadamente L.P.Sousa, F. Coelho e C.Tavares, em 2010, consideravam que parte do Algarve, do Alentejo, a península de Setúbal e a região de Lisboa poderão atingir os valores de calor acumulado para as castas extra-temporãs no final do mês de Maio. Neste momento só é atingido no Norte de África, nomeadamente em Marrocos.
No entanto, existe um aumento do risco das temperaturas de Inverno subirem e, dificultarem o abrolhamento bem como o aumento da frequência de fenómenos com temperaturas extremas no Verão. Isso poderá causar um elevado número de escaldões. A videira, assim como as demais frutíferas de clima temperado, possui um período de dormência no final de ciclo que é caracterizado pela queda das folhas.
Como consequência da redução das atividades metabólicas, em resposta ao início das temperaturas baixas (abaixo de 7,2°C) de Inverno. Essa dormência de Inverno, induzida pela baixa da temperatura, é conhecida como endodormência. Portanto, para que estas plantas possam iniciar um novo ciclo vegetativo na Primavera, é imprescindível a exposição destas a um período de baixas temperaturas para que ocorra a superação desta endodormência e a brotação seja efetiva.
O aumento da temperatura pode conduzir ainda ao abrolhamento precoce o que aumenta o risco de geadas no período onde a vinha é mais sensível, dado que esse período ao ocorrer mais cedo tem um risco de ocorrência de geada aumentado.
Os impactos da precipitação
Cada casta tem exigências termo-hídricas diferentes, Almeida e Grácio 1969, apontavam para uma necessidade hídrica entre cerca de 370 a 1250 mm dependendo da casta, do solo e do clima. É pois, prevísivel um aumento significativo da necessidade de rega especialmente no Sul do país.
Neste contexto para a vinha, designadamente para a vinha de mesa, as alterações climáticas podem ser uma oportunidade desde que se tenham em conta os riscos relativamente ao abrolhamento, ao escaldão e às necessidades futuras de rega.