Como os vulcões climatizam o planeta Terra
A variabilidade do clima expressa-se pela flutuação de parâmetros meteorológicos que caracterizam temporal e localmente as diferentes regiões do planeta. Um sistema complexo cuja mecânica é dependente do volátil equilíbrio induzido por fatores internos como os vulcões, e externos ao planeta.
O mecanismo da circulação atmosférica tem a determinante missão de distribuir o calor e a humidade em redor do planeta, manifestando-se através de fenómenos atmosféricos como a formação de nuvens, a precipitação, ou os ventos, assim como em eventos de cariz extremo como as tempestades.
É similarmente relevante a importância da grandeza quantitativa e da proporção compositiva das substâncias químicas gasosas, solúveis ou não, presentes na atmosfera, considerando que é através de toda esta contextura que a radiação solar é absorvida ou dispersa pelo planeta. Este delicado fenómeno natural, o efeito de estufa tem o seu equilíbrio afetado quando a concentração de gases como CO₂, CH₄, N₂O ou O₃ é alterada, influindo determinantemente na retenção de calor irradiado.
De forma crescente, a antropogenia vem sendo substancialmente implicada nas flutuações que ocorrem no sistema efeito estufa, quer pela queima de combustíveis fósseis que aumentam a concentração do dióxido de carbono (CO₂), quer pelo mau uso dos solos, queima de lixo orgânico e exploração pecuária que elevam a concentração de metano (CH4). Também o uso abusivo do solo, de fertilizantes agrícolas e desflorestação que amplificam a concentração de óxido nitroso (N2O), e ainda pelo uso furtivo de clorofluorcarbonetos, particularmente pelas economias emergentes, diminuindo a existência de ozono (O3) na camada atmosférica.
Todavia, a volubilidade que afeta o efeito de estufa, e por inerência alguma constância climática, relaciona-se também com o vulcanismo natural, uma vez que a emissão de cinzas particuladas, atuam como bloqueio à luz do Sol, traduzindo-se no curto prazo na diminuição das temperaturas e inerente arrefecimento do planeta.
Porém, numa cronologia temporal mais dilatada, por efeito das ejeções de gases vulcânicos desreguladores do efeito de estufa, como o vapor de água, dióxido de enxofre, monóxido de carbono e sulfureto de hidrogénio, são potenciados determinantes episódios de aumento das temperaturas, com consequente aquecimento do planeta.
O vulcanismo regula climaticamente o planeta?
De facto, sugerindo uma correlação direta entre o vulcanismo e alterações climáticas, investigação científica publicada na revista Science assevera que, após intensa atividade vulcânica ocorrida na região de Deccan Trapps, na Índia, com a massiva expulsão de gases tóxicos para a atmosfera, a temperatura dos oceanos aumentou cerca de 7,8 ºC o que, associado à queda do asteróide na Península de Yucatán no México, desencadeou um conjunto de eventos climáticos extremos que levaram à impressionante extinção em massa da biodiversidade que marcou o fim do Cretáceo.
Contudo, o vulcanismo pode paradoxalmente ter um efeito de refrescar o clima do planeta. Considere-se, que durante uma erupção vulcânica é expelido dióxido de enxofre, o qual ao atingir a camada superior da atmosfera, por reação com outros compostos como o vapor de água, transforma-se em pequenas gotas de ácido sulfúrico, partículas que funcionam como pequenos espelhos que refletem a luz solar, impedindo o aquecimento do planeta, resultando no seu arrefecimento. Refira-se que no decurso do ano de 2019, de acordo com dados do Global Volcanism Program desenvolvido no Instituto Smithsonian (EUA), foi registado um total de 73 erupções vulcânicas em 28 regiões do planeta.
A quantidade de gases e poeiras expelidas só durante o ano transato, certamente quantificaram o efeito transformador na mecânica desempenhada pelo sistema climático, com repercussões que se manifestaram ao nível dos padrões de precipitação, da acidificação dos oceanos, de eventos meteorológicos extremos e severos períodos de seca que inferem inevitavelmente na disponibilidade de água potável, na produção de alimentos e na saúde dos ecossistemas como um todo.
Os impactes das alterações do clima são incontestavelmente transversais no planeta e na civilização. A sua inevitabilidade por efeito de forcings naturais como a atividade vulcânica, é simplesmente, incombatível. Neste âmbito, estratégias adaptativas representam mesmo o único mecanismo capaz de minimizar os inerentes impactes na biodiversidade.
Todavia, no que concerne às consequências que as ações humanas inferem ao equilíbrio do sistema climático, a implementação de uma cultura preventiva e de mitigação deve ser o mote. Esta é a única estratégia efetivamente combativa, primando por um assertivo uso sustentável dos recursos naturais, minimizando assim os efeitos daquilo que o comportamento humano representa nas alterações climáticas que gradualmente sucedem no planeta.