Vírus da Dengue e Zika alteram o odor dos hospedeiros para atrair mosquitos
Segundo investigação de uma universidade chinesa, após infeção com flavivírus, o cheiro do corpo dos hospedeiros é modificado com o objetivo de o tornar mais apetitoso para os insetos transmissores, intensificando assim a proliferação das doenças tropicais.
Os mosquitos são alguns dos portadores, ou vetores, das doenças mais perigosas do mundo. De facto, com mais de 750.000 mortes causadas anualmente, os mosquitos são o animal mais letal do mundo. Algumas das doenças transmitidas por estas sanguessugas incluem doenças tão conhecidas como a malária, o vírus do Nilo, a febre amarela e a encefalite japonesa.
Contudo, de acordo com uma equipa de cientistas liderada pela Universidade de Pequim, a Dengue e a Zika também se juntam a esta lista. Segundo uma investigação que promove a atratividade dos mosquitos, é defendido que estes dois vírus modificam o odor dos seus hospedeiros para atrair mosquitos e facilitar a sua própria sobrevivência.
Vírus que utilizam mosquitos
A Dengue é uma doença transmitida por mosquitos em áreas tropicais em todo o mundo e ocasionalmente nalgumas áreas subtropicais. Os sintomas da doença incluem febres altas, erupções cutâneas e dores, mas podem por vezes piorar para hemorragias graves e até mesmo a morte. De facto, segundo o Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos EUA, há mais de 50 milhões de casos de Dengue por ano em todo o mundo, dos quais cerca de 20.000 são fatais, a maioria dos quais em crianças.
A Zika é outra doença viral transmitida por mosquitos da mesma família da Dengue: o mosquito Aedes. Embora seja raro a Zika causar doenças graves em adultos, um surto recente na América do Sul causou defeitos congénitos graves nos fetos de mulheres grávidas infetadas.
Estes vírus, ambos flavivírus, dependem para a sua sobrevivência e reprodução tanto dos hospedeiros que infectam, como dos vetores através dos quais se propagam, neste caso, os mosquitos. Se algum deles desaparecer, isto é, se todos os hospedeiros potenciais desaparecerem ou se todos os mosquitos morrerem, o vírus desaparecerá com eles.
Por exemplo, durante o surto de febre amarela na Filadélfia em 1793, a chegada das geadas de Outono matou os mosquitos locais e o surto terminou. Em climas tropicais, pelo contrário, a ausência de geadas significa que os mosquitos estão sempre presentes, pelo que o vírus só precisa de um mosquito para morder um animal hospedeiro infetado para se espalhar.
Mas isto não é tudo, porque o que a equipa liderada pelo investigador da Universidade de Tsinghua Gong Cheng descobriu agora, é que os vírus Zika e Dengue parecem ter desenvolvido uma forma sorrateira de aumentar as suas hipóteses de dispersão e sobrevivência, modificando o cheiro da pele dos seus hospedeiros.
Zika e Dengue, uma guerra travada na pele
Os investigadores suspeitavam que a Dengue e o Zika poderiam estar a manipular hospedeiros de alguma forma para atrair mosquitos. Aliás, é um facto estabelecido que tanto a malária, como a inflamação geral, podem mudar o cheiro das pessoas, pelo que pensaram que a Dengue e a infeção viral por Zika poderiam exibir o mesmo mecanismo.
Para corroborar a sua hipótese, os cientistas concentraram-se primeiro em saber se os mosquitos mostravam preferência por ratos infetados com as doenças. Quando aos mosquitos foi oferecida uma escolha entre ratos saudáveis e ratos infetados com dengue, os mosquitos eram mais atraídos pelos ratos infectados com dengue.
Em seguida, analisaram as moléculas odoríferas na pele de ratos infetados e saudáveis, identificando várias que eram mais comuns nestes últimos e testaram-nas individualmente. Aplicaram-nos tanto a ratos, como às mãos de voluntários humanos saudáveis e descobriram que uma molécula em particular, a acetofenona, era particularmente atrativa para os mosquitos.
Os testes em pacientes humanos com dengue, por outro lado, mostraram a mesma coisa: o aumento da produção de acetofenona tornava-os mais atraentes para os mosquitos. No entanto, os investigadores também se empenharam na procura de uma forma de mitigar este efeito, dando aos ratos da Dengue um tipo de derivado da vitamina A chamado isotretinoína, que é conhecido por aumentar a produção do peptídeo antimicrobiano da pele.
Desta forma, os ratos tratados com isotretinoína emitem menos acetofenona, reduzindo a sua atração pelos mosquitos e reduzindo potencialmente o risco de infetar outros hospedeiros potenciais com o vírus.
Os primeiros passos para salvar centenas de milhares de vidas anualmente?
A equipa explica que o passo seguinte é testar mais pacientes humanos com Dengue e Zika para descobrir se esta ligação entre o odor da pele e o microbioma ocorre da mesma forma no mundo real, ou seja, fora das condições controladas do laboratório, e testar se a isotretinoína reduz a produção de acetofenona tanto em humanos como em ratos doentes.
Assim, a Ciência poderá estar a dar os primeiros passos para encontrar a fórmula para uma nova geração de repelentes de mosquitos, e com ela, a possibilidade de salvar centenas de milhares de vidas todos os anos.