Um estudo revela que humanos habitaram selvas tropicais de África milhares de anos antes do que se pensava

Novas evidências arqueológicas revelam que os humanos habitaram selvas tropicais africanas há 150.000 anos, muito antes do que se estimava previamente. Estes dados foram agora publicados na revista Nature. Saiba mais aqui!

Escavações datam humanos nas selvas tropicais africanas há 150.000 anos.
Escavações realizadas por equipa liderada pelo Instituto Max Planck patenteia a existência de humanos em selvas tropicais africanas há pelo menos 150.000 anos. Fonte da imagem: Universidade de Liverpool.

As novas evidências arqueológicas demonstram que os humanos habitavam selvas tropicais africanas há pelo menos 150.000 anos, muito antes do que se acreditava até agora. A investigação, publicada na revista Nature, foi conduzida por uma equipa internacional liderada pelo Instituto Max Planck de Geoantropologia e envolveu cientistas da Universidade de Liverpool e outras instituições de renome. O estudo reexaminou um antigo sítio arqueológico na Costa do Marfim, onde foram encontrados artefactos líticos, permitindo datar a presença humana na região.

Até agora, a evidência mais antiga de ocupação humana em florestas tropicais africanas datava de cerca de 18.000 anos. No entanto, este novo estudo empurra essa data para trás em mais de 130.000 anos, sugerindo que os nossos antepassados eram capazes de sobreviver e prosperar nestes ambientes já muito antes.

Desafios da investigação baseada em escavações e amostras de sedimentos

A investigação foi inspirada em escavações realizadas na década de 1980 pelo professor Yodé Guédé, da Universidade Félix Houphouët-Boigny, que identificou um sítio arqueológico estratificado com ferramentas de pedra na densa selva tropical. Contudo, na época, não era possível determinar a idade exata dos vestígios nem as condições ecológicas do local no passado.

Recentemente, uma nova equipa de cientistas regressou ao local e aplicou métodos avançados de datação, incluindo luminescência estimulada opticamente e com recurso a equipamentos eletrónicos mais sofisticados. Os resultados indicaram que os humanos estavam presentes na região há aproximadamente 150.000 anos.

Localização do sítio arqueológico
Localização do sítio arqueológico [Bété 1 (Anyama)] onde foram encontradas evidências científicas de vida humana nas florestas tropicais.

Além das técnicas de datação, os investigadores analisaram amostras de sedimentos em busca de pólen, fitólitos (restos de plantas silicificadas) e isótopos de ceras de folhas. Estes dados confirmaram que a região era uma floresta densa e húmida, e não uma estreita faixa de vegetação isolada.

"Este estudo desafia a ideia de que as selvas eram obstáculos naturais para a ocupação humana", afirmou a professora Eleanor Scerri, do Instituto Max Planck de Geoantropologia e autora principal do estudo. "A diversidade ecológica sempre esteve no cerne da evolução da nossa espécie".

O sítio arqueológico, conhecido como Bété 1 (Anyama), provou que os humanos não apenas ocupavam florestas tropicais há milhares de anos, mas também voltavam a habitá-las de forma recorrente ao longo do tempo.

"Ao integrar evidências arqueológicas anteriores com novas análises paleoecológicas e de datação, conseguimos demonstrar que estas florestas não eram apenas habitadas esporadicamente, mas sim de forma repetida ao longo de 150.000 anos", explicou o Dr. James Blinkhorn, da Universidade de Liverpool.

Impactes da presença humana em ecossistemas tropicais

O estudo também levanta questões sobre a interação entre os humanos e os ecossistemas tropicais.

"Precisamos de investigar como estas primeiras ocupações influenciaram as espécies vegetais e animais que partilhavam estes habitats com os humanos", acrescentou a professora Scerri.

Infelizmente, o local foi recentemente destruído devido à exploração mineira, tornando este estudo a última oportunidade para documentar e compreender a sua história. Apesar disso, os investigadores acreditam que ainda há outros sítios por explorar na região que poderão trazer novas descobertas sobre a presença humana em florestas tropicais.

"Este é apenas o início de uma longa lista de estudos, pois existem outros sítios arqueológicos na Costa do Marfim que aguardam investigação", concluiu o professor Guédé.

Esta datação reforça a ideia de que a evolução humana ocorreu em ambientes muito diversos, e que a capacidade de adaptação a diferentes ecossistemas foi uma característica fundamental da nossa espécie desde tempos remotos.

Referência da notícia

Ben Arous, E., Blinkhorn, J. A., Elliott, S., Kiahtipes, C. A., N’zi, C. D., Bateman, M. D., ... & Scerri, E. M. (2025). Humans in Africa’s wet tropical forests 150 thousand years ago. Nature, 1-6. https://doi.org/10.1038/s41586-025-08613-y