Trovoadas de verão: porque são tão frequentes e em que regiões de Portugal mais aparecem?

Trovoada: um fenómeno meteorológico que tem tanto de belo como de assustador. Nestes últimos dias Portugal continental testemunhou inúmeras trovoadas. Neste artigo contamos-lhe porque são frequentes no verão e em que regiões mais acontecem.

Além das depressões isoladas em altitude - também conhecidas como gotas frias - um dos principais aspetos que contribui para as trovoadas de verão é o ar quente que acumula junto ao solo.

No verão (a estação mais quente do ano no Hemisfério Norte, sendo este o hemisfério em que Portugal se situa) os valores de radiação solar já são muito elevados devido ao ângulo de incidência solar. Com uma maior intensidade solar no Hemisfério Norte, os solos das superfícies mais expostas à radiação solar sobreaquecem durante as horas mais quentes do período diurno (12:00 - 18:00).

Assim, o ar torna-se muito quente junto ao solo e o vento que sopra do quadrante Sul, do lado do mar, traz muita humidade. Então, o ar quente e húmido tende a ascender rápida e bruscamente. Ao fazê-lo, arrefece e diminui o ponto de saturação.

A humidade relativa aumenta e ocorre a condensação, ou seja o vapor de água passa ao estado líquido, e formam-se nuvens de desenvolvimento vertical, muito densas. No interior das nuvens o tamanho das gotículas de água vai aumentando por coalescência. Tanto assim é que acabam por ultrapassar a resistência do ar e precipitam-se em direção à superfície terrestre.

As nuvens de desenvolvimento vertical, também conhecidas como cumulonimbus, apresentam um deslumbrante formato em ‘bigorna’ - o que as torna facilmente reconhecíveis - e possuem características bastante favoráveis à formação de trovoadas, à queda de granizo e a períodos de chuva ou aguaceiros.

Este tipo de precipitação, muito comum em Portugal entre os meses de maio e outubro (fim da primavera, toda a estação estival (ou verão) e início do outono) é a precipitação convectiva.

cumulonimbus
Uma nuvem cumulonimbus com o seu formato em bigorna. Esta nebulosidade é típica da precipitação convectiva, caracterizada por aguaceiros curtos e fortes, trovoadas e, por vezes, queda de granizo.

O que é precipitação convectiva?

A precipitação convectiva costuma-se expressar através de aguaceiros localizados e/ou irregulares, no espaço e no tempo, normalmente de curta duração e, por vezes, fortes e acompanhados de trovoadas. Expressam-se ocasionalmente sob a forma de granizo. Por vezes, a quantidade de água da chuva acumulada num dado lugar num dado período de tempo é tão significativa que pode gerar inundações repentinas, enxurradas e/ou derrocadas.

A precipitação convectiva, quando ocorre, costuma abranger zonas relativamente pequenas do território, por isso se diz que é uma precipitação muito localizada (aguaceiros localizados) e dispersa, ainda que em muitos casos seja intensa. Por outro lado, muitas vezes, esta precipitação não chega a alcançar o solo por causa do calor que se faz sentir.

As trovoadas de verão tendem a ocorrer durante as tardes e as noites uma vez que é durante o período da tarde que o calor - elemento crucial para a formação de nuvens de desenvolvimento vertical - se acumula diretamente com maior intensidade. Horas mais tarde, toda esta energia acumulada manifesta-se através da ‘libertação’ de trovoadas e por vezes granizo.

Em que regiões de Portugal continental são mais frequentes?

De acordo com um estudo realizado pelo IPMA sobre avaliação de descargas elétricas atmosféricas (DEA) em solo nacional entre 2003 e 2017 e publicado no ano de 2018, os “locais mais afetados inserem-se nos distritos da Guarda, Beja, Viseu, Portalegre, Coimbra, Castelo Branco e Vila Real. O período de maior ocorrência de trovoada é, segundo o referido estudo, entre os meses de maio e setembro, “com um pico entre as 15:00 e as 18:00” da tarde.

De acordo com estudo do IPMA datado de 2018, Guarda e Beja foram os distritos com maior prevalência de queda de raios em 15 anos, sendo o período entre maio e setembro o mais frequente. Contudo, nos últimos dois anos a realidade foi algo diferente.

Porém, em análise somente ao último ano - 2023 - é possível constatar uma realidade bastante distinta. No ano passado, à semelhança de 2022, Bragança (Nordeste Transmontano), distrito situado na Região Norte, foi aquele com maior número de descargas elétricas atmosféricas nuvem-solo (DEA NS), tendo registado 4798. Seguiram-se os distritos de Vila Real com 3520 DEA NS, Guarda com 3005 DEA NS, Castelo Branco com 2944 DEA NS e Viseu com 2589 DEA NS.

Continentalidade/afastamento ao mar das regiões do interior é algo que deve ser tido em conta quanto às trovoadas

As regiões situadas no interior Norte e Centro de Portugal continental não beneficiam da proximidade ao mar - que atua como um elemento termorregulador (regula a temperatura do ar) - e, por isso são, normalmente, mais quentes no verão.

Estando mais quentes, o (sobre)aquecimento da superfície terrestre ocorre e gera-se um ambiente claramente favorável ao desenvolvimento de células convectivas nas regiões do interior, daí que zonas de Portugal continental como os distritos de Bragança, Vila Real, Viseu, Guarda e Castelo Branco sejam as mais propícias para a observação de trovoadas na estação estival.

Por último, o efeito orográfico das cadeias montanhosas do Norte e Centro também é um fator potenciador da ocorrência de trovoadas, que distingue o interior Norte e Centro face a outras regiões do interior de Portugal.