Sistema imunitário pode ser alterado pelo simples facto de pensar que se tem fome

Segundo um estudo, o facto de se sentir com fome pode também alterar o sistema imunitário. Veja mais aqui!

Perceção de fome
Segundo um estudo de Manchester, o jejum influencia a mobilização e as funções das células imunitárias, mas os mecanismos subjacentes não são claros.

De acordo com um estudo da Universidade de Manchester, publicado na revista Science Immunology, a simples perceção da fome pode alterar o número de células imunitárias no sangue. Isto mostra que até a interpretação da fome pelo cérebro pode moldar a forma como o sistema imunitário se adapta.

Esta investigação desafia a ideia de longa data de que a imunidade é moldada principalmente por mudanças reais e físicas na nutrição, tais como alterações no açúcar no sangue ou nos níveis de nutrientes. Em vez disso, mostra que a perceção por si só pode remodelar a imunidade.

Os cientistas centraram-se em dois tipos de células cerebrais altamente especializadas, neurónios AgRP e neurónios POMC, que detetam o estado energético do corpo e geram as sensações de fome e plenitude em resposta.

Utilização de ferramentas genéticas

Para a experiência foram utilizados ratos, nos quais foram ativados artificialmente os neurónios da fome que já tinham comido bastante.

Cérebro
A perceção cerebral da fome e da saciedade é, por si só, suficiente para conduzir alterações imunitárias.

A ativação deste pequeno, mas poderoso grupo de células cerebrais desencadeou uma vontade intensa de procurar comida nos ratos.

Pelo contrário, quando foram ativados os neurónios da plenitude em ratos em jejum, os níveis de monócitos voltaram quase ao normal, apesar de os ratos não terem comido.

"Estas experiências mostraram-nos que a perceção cerebral de estar com fome ou alimentado era, por si só, suficiente para influenciar o número de células imunitárias no sangue."
João Paulo Cavalcanti de Albuquerque et al.,

Para compreender o funcionamento deste eixo entre o cérebro e o sistema imunitário, foi analisado a forma como o cérebro comunica com o fígado.

Este órgão é importante na deteção dos níveis de energia no corpo. A investigação mostrou também que o fígado comunica com a medula óssea e o tecido mole no interior dos ossos onde são produzidas as células sanguíneas e imunitárias.

Ligação direta entre os neurónios da fome e o fígado

Esta ligação acontece através do sistema nervoso simpático, que desempenha um papel importante na regulação de funções como o ritmo cardíaco, o fluxo sanguíneo e a forma como os órgãos respondem ao stress e às necessidades energéticas.

Quando os neurónios da fome foram ativados, diminuíram a deteção de nutrientes no fígado, reduzindo a atividade simpática.

Isto sugere que o cérebro pode influenciar a forma como o fígado interpreta o estado energético do corpo, convencendo-o essencialmente de que a energia é baixa, mesmo quando os níveis reais de nutrientes são normais.

Referência da notícia

Joao Paulo Cavalvanti de Albuquerque, Jenna Hunter, Rita G. Domingues, Erika Harno, Amy A., Fabrizio Maria Liguori, Aurora D’Alessi, Gabriella Aviello, David Bechtold, Anne White, Simon M. Luckman Matthew R. Hepworth, Giuseppe D’Agostino "Brain sensing of metabolic state regulates circulating monocytes" Science Immunology (2025)