Serão as plantas inteligentes? Segundo um estudo da Universidade de Cornell, depende da definição
Sabia que existe uma espécie de planta que consegue detetar outras plantas nas proximidades sem nunca lhes tocar? Pois é verdade. Fique a saber mais aqui!
A planta Vara-de-ouro (Solidago virgaurea) consegue detetar outras plantas próximas a si através da deteção de rácios de luz vermelha distante refletidos nas folhas. Mas será esta resposta flexível um sinal de inteligência nas plantas?
De acordo com um artigo publicado na Universidade de Cornell e publicado na revista Plant Signaling and Behavior, Andre Kessler, um ecologista químico, defende a inteligência das plantas.
Segundo Kessler, professor do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Faculdade de Agricultura e Ciências da Vida.
De acordo com o professor muitas pessoas acreditam que a inteligência requer um sistema nervoso central, com sinais elétricos a atuar como meio de processamento de informação.
Alguns biólogos de plantas chegam a equiparar os sistemas vasculares das plantas a sistemas nervosos centrais, e propõem que algum tipo de entidade centralizada na planta lhes permite processar informação e responder.
No entanto Kessler discorda firmemente dessa ideia. Para ele não há boas provas de nenhuma das homologias com o sistema nervoso, apesar de serem vistas a sinalização elétrica nas plantas, mas a questão é saber até que ponto essa sinalização é importante para a capacidade de uma planta processar as pistas ambientais.
O que poderá acontecer quando herbívoros comem a planta?
De forma a argumentar a favor da inteligência das plantas, Kessler e o coautor Michael Mueller, um estudante de doutoramento no seu laboratório, reduziram a sua definição aos elementos mais básicos.
Como estudo de caso, Kessler aponta para a sua investigação anterior sobre a Solidago e as suas reações quando consumida por pragas.
Quando as larvas do escaravelho comem as folhas desta planta, a mesma emite um químico que informa o inseto de que a planta está danificada e é uma má fonte de alimento.
Estas substâncias químicas transportadas pelo ar, designadas por compostos orgânicos voláteis (COV), são também captadas pelas plantas vizinhas da Solidago, levando-as a produzir as suas próprias defesas contra as larvas de escaravelho.
Desta forma, as Solidago transferem os herbívoros para as plantas vizinhas e distribuem os danos.
Num outro artigo publicado em 2022 na revista Plants, Kessler e o coautor Alexander Chautá, realizaram experiências para mostrar que a Solidago também consegue percecionar rácios mais elevados de luz vermelha distante refletida nas folhas das plantas vizinhas.
Quando os vizinhos estão presentes e as Solidago são comidas por escaravelhos, elas investem mais na tolerância ao herbívoro, crescendo mais rapidamente, mas também começam a produzir compostos defensivos que ajudam as plantas a combater as pragas de insetos.
Quando não há vizinhos, as plantas não recorrem ao crescimento acelerado quando são comidas e as respostas químicas aos herbívoros são marcadamente diferentes, embora continuem a tolerar quantidades bastante elevadas de herbivoria.
A aplicação do conceito de inteligência às plantas pode inspirar novas hipóteses sobre os mecanismos e as funções da comunicação química das plantas, ao mesmo tempo que altera a forma como as pessoas pensam sobre o verdadeiro significado de inteligência.
Referência do artigo:
Kessler, A., & Mueller, M. B. (2024). "Induced resistance to herbivory and the intelligent plant."