Serão as nossas cidades amigas dos mais idosos?
Com o aumento do envelhecimento da população e a crescente urbanização, as cidades deparam-se com novos desafios. Estarão as nossas cidades bem adaptadas para promover melhor qualidade de vida às pessoas idosas? Saiba mais aqui!
O envelhecimento da população está a verificar-se em todos os países do mundo. A população com 60 anos ou mais anos, está a crescer mais rápido do que qualquer outra faixa etária, que associado a um declínio na proporção de crianças e jovens, promove o envelhecimento da população.
A consciência da mudança demográfica tem vindo a aumentar nos últimos anos, e por isso tem havido uma maior discussão de estratégias e práticas que assegurem serviços e produtos para uma melhor qualidade de vida. Assim, as políticas e ações que englobem a política do envelhecimento ativo e o desenho urbano que possibilite envelhecer ativamente na cidade devem ser prioridades.
De acordo com a OMS, uma cidade age-friendly, amiga das pessoas idosas, estimula o envelhecimento ativo através da criação de condições de saúde, participação e segurança, de modo a reforçar a qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem.
Em termos práticos, estas cidades adaptam as suas estruturas e serviços de modo a que estes incluam e sejam acessíveis a pessoas mais velhas, com diferentes necessidades e capacidades.
Enfrentar o desafio do sucesso da Humanidade
Em Portugal são já várias as autarquias que pensam em reforçar de forma significativa as respostas dirigidas ao envelhecimento, criando ambientes urbanos que fomentem junto das pessoas de maior longevidade uma maior participação cívica.
Um caso único no pais surgiu em 2010, no município de Águeda, distrito de Aveiro, quando uma associação - “Os Pioneiros” - pretendeu dar uma resposta social que antecedesse o lar, e que desse a possibilidade de as pessoas serem autónomas e terem a sua vida normal.
Assim, nasceu uma espécie de aldeia social habitada por 19 idosos, divididos por dez casas pré-fabricadas de madeira, separadas por poucos metros de distância e envolvidas por um extenso jardim e um pinhal.
Nesta “Aldeia” não existem os obstáculos típicos que tornam o espaço público pouco acessível aos mais velhos. Todas as habitações são servidas por rampas, para facilitar o acesso, o desporto é encorajado, há um circuito de manutenção e existe uma equipa de médicos e enfermeiros que prestam os cuidados de saúde numa base diária.
Ao contrário do que acontece, muitas vezes nas grandes cidades, aqui o isolamento e a solidão não fazem parte da rotina, o que se explica com a facilidade de movimentos e a solidariedade entre os vizinhos.
Mas será que este modelo poderia ser replicado na escala de uma comunidade urbana?
As autarquias, que têm por ambição incrementar medidas que estimulem a pessoa idosa como protagonista de uma vida ativa e de um envelhecimento positivo e saudável, devem apostar numa mudança radical do paradigma urbano.
Isto implica eliminar todas as barreiras que praticamente obrigam os mais velhos a não sair das suas casas: eliminar passeios perigosos, desníveis, diferentes obstáculos, criar mais espaços verdes e de convívio.
É esse um dos principais desafios das autarquias: adaptar a cidade às necessidades desta população.
E de que forma é que isto se materializa?
De acordo com o vereador da Educação e Coesão Social da Câmara Municipal do Porto, Fernando Paulo, numa entrevista ao jornal Expresso, o município do Porto oferece transporte individual para entidades prestadoras de cuidados de saúde ou vacinação a um preço simbólico, pelo projeto Táxi +65 e teleassistência, que permite a permanência dos idosos na sua habitação de forma segura e monitorizada.
Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, destaca, por exemplo, a importância dos transportes públicos gratuitos para todos os seniores e o acesso de todos os idosos à saúde, através de teleconsultas, assistência ao domicílio, transporte em ambulância para um hospital, e que protege os idosos mais vulneráveis.
Porém, Nuno Marques, presidente do Observatório Nacional do Envelhecimento, assume serem necessárias mudanças de fundo, principalmente no que diz respeito à habitação. Devem ser definidas políticas impactantes que melhorem as condições de habitabilidade dos mais idosos. "Não basta construir novas habitações, necessitamos de adaptar as habitações dos mais idosos para o seu envelhecimento, de uma forma contínua e dinâmica", afirma Marques.
Estima-se que 1400 cidades de todo o mundo, de acordo com a lista da Organização Mundial da Saúde, estejam a trabalhar para tornar as cidades acessíveis a todas as idades, sobretudo aos idosos, que são das faixas etárias mais predominantes em contexto urbano.
No entanto, a recessão económica, as políticas de austeridade e a intensificação da competição global geram desigualdades para o crescimento saudável das cidades.