Será que os adultos conseguem aprender uma nova língua tão facilmente como os bebés?

Aprender uma nova língua em adulto pode ser uma experiência desafiante, apesar dos nossos cérebros mais maduros e experientes. Mas na verdade, segundo um estudo publicado na revista Cambridge Core, são as crianças jovens e analfabetas que adquirem línguas com aparente facilidade.

Desde muito cedo que o Ser Humano começa a sua jornada de aprendizagem de línguas, ainda no útero. Quando os seus ouvidos e cérebros o permitem, ficam sintonizados com o ritmo e a melodia da fala audível através do útero. Poucos meses após o nascimento, começam a dividir o discurso contínuo em fragmentos e a aprender o som das palavras.

Contudo, para os adultos que estão a aprender uma língua estrangeira, o processo é muitas vezes inverso. Começam por aprender palavras e tentam pronunciá-las antes de aprenderem o som geral da língua.

A aprendizagem de uma nova língua

Segundo o estudo da Universidade de Cambridge, os adultos conseguem captar rapidamente os padrões melódicos e rítmicos de uma língua completamente nova.

Na experiência realizada participaram 174 adultos checos que ouviram durante 5 minutos a língua maori, uma língua que nunca tinham ouvido antes.

Em seguida, foram testados com novos clips de áudio em maori ou em malaio, outra língua desconhecida mas semelhante, e foi-lhes pedido que dissessem se estavam a ouvir a mesma língua que antes ou não.

Os ouvintes distinguiram as línguas corretamente na maior parte das vezes, mostrando que mesmo uma exposição muito breve era suficiente para captarem implicitamente os padrões melódicos e rítmicos de uma língua, tal como fazem os bebés.

Os resultados mostraram que a leitura da ortografia alfabética dificultava aos adultos a tomada de consciência da melodia e do ritmo gerais da nova língua, o que reduzia o seu desempenho no teste. Como principiantes, os participantes foram capazes de aprender mais maori sem qualquer tipo de ajuda textual.

Como aprende um bebé?

Ouvir sem ler letras pode ajudar-nos a deixar de nos concentrarmos nas vogais, consoantes e palavras individuais e, em vez disso, a absorver o fluxo global de uma língua, tal como fazem os bebés.

Esta investigação sugere que os alunos adultos podem beneficiar da adoção de uma abordagem mais centrada na audição, ou seja, interagir primeiro com a linguagem falada antes de introduzir a leitura e a escrita.

De modo geral, os bebés têm um ouvido melhor para sons diferentes e as crianças conseguem assimilar sotaques nativos com uma velocidade surpreendente. Já os adultos têm uma capacidade de atenção maior e habilidades cruciais, como o grau de instrução, que permitem expandir continuamente o vocabulário.

As implicações para o ensino das línguas são significativas. Os métodos tradicionais colocam frequentemente uma forte ênfase na leitura e na escrita desde o início, mas uma mudança para experiências auditivas imersivas poderia acelerar a proficiência oral.

Por conseguinte, tanto os estudantes de línguas como os educadores devem considerar a possibilidade de ajustar os seus métodos.

Referência da notícia

Kateřina Chládková, Václav Jonáš Podlipský, Lucie Jarůšková and Šárka Šimáčková "Tuning in to the prosody of a novel language is easier without orthography" Cambridge University (2025)