Será que é necessário ter uma Categoria 6 para ciclones tropicais? Cientistas dizem que sim!

Numa investigação recente, publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, cientistas acreditam que chegou a hora de acrescentar uma Categoria 6 na escala Saffir–Simpson de ciclones tropicais.

Furacão Patricia; 2015
Imagem do furacão Patricia, em 2015, que foi a tempestade tropical mais intensa já registada nas Américas. Crédito: Scott Kelly/NASA/EPA.

Os ciclones tropicais, também conhecidos como furacões ou tufões dependendo da região em que se formam, são sistemas de baixa pressão atmosférica associados a fortes tempestades. Atuam entre as latitudes de 20°S e 20°N e nunca estão associados a uma frente fria.

Dependendo da sua localização geográfica e intensidade, o ciclone tropical é chamado de "tufão" se ocorrer no Pacífico oeste, ou “furacão” se ocorrer no Atlântico e no leste do Oceano Pacífico Norte. Logo, ‘ciclone tropical’ fica restrito aos sistemas que ocorrem no sul do Pacífico e no oceano Índico.

Dependendo da velocidade dos ventos, as pessoas preparam-se de maneiras diferentes à chegada do fenómeno. Neste caso, existe a escala Saffir–Simpson, criada em 1969 por Herbert Saffir e Robert Simpson, que classifica os ciclones tropicais em 5 categorias, segundo a intensidade dos ventos. É usada para se ter uma estimativa do risco potencial de danos esperados durante a passagem do sistema.

E num mundo de aquecimento global, espera-se que os ciclones tropicais se tornem mais intensos. Então, de acordo com a nova investigação, que foi publicada recentemente, isto significa que talvez seja o momento de se considerar uma categoria 6 na escala Saffir–Simpson para comunicar melhor a ameaça.

Quais as categorias da escala Saffir–Simpson?

Esta escala é a métrica mais utilizada hoje para a comunicação pública do nível de perigo dos ventos que um ciclone tropical representa. Ela é usada pelo Centro Nacional de Furacões (NHC) dos EUA para furacões que se formam nas bacias central e oriental do Pacífico Norte e do Atlântico Norte.

Esta escala (assim como outras que existem) é aberta, ou seja, a sua categoria final é baseada em ventos superiores a um determinado limiar – mas sem limite superior. A tabela abaixo mostra as suas categorias:

CategoriaVelocidades do vento
1 119 km/h – 153 km/h
2 154 km/h – 177 km/h
3 178 km/h – 208 km/h
4 209 km/h – 251 km/h
5 ≥ 252 km/h

Estes valores na tabela são baseados na velocidade média aferida no intervalo de um minuto de vento máximo sustentado, a uma altura de 10 metros.

Uma nova Categoria 6 na escala?

Mas será mesmo que é necessário acrescentarmos uma Categoria 6? Segundo os cientistas Michael F. Wehner e James P. Kossin, sim! Wehner é físico, engenheiro nuclear e cientista sénior da Divisão de Matemática Aplicada e Investigação Computacional do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, na Califórnia. Kossin é físico, matemático e professor do Departamento de Ciências Atmosféricas e Oceânicas da Universidade de Wisconsin-Madison (UW).

Para eles, como a escala é aberta e não se estende além da categoria 5 (252 km/h ou mais), o nível de perigo transmitido permanece constante, independente de quão longe a intensidade vai além desses 252 km/h. E isso é um ponto fraco da escala, principalmente considerando que o potencial destrutivo do vento aumenta exponencialmente. Além disso, o aquecimento global tem intensificado os ciclones tropicais, e têm-se registado intensidades muito acima do limiar da categoria 5.

Na categoria hipotética 6, a tempestade tropical mais intensa seria a Patricia, no Pacífico Leste, em 2015, que atingiu o México como categoria 4 na escala atual. As demais tempestades ocorreram no Pacífico Oeste.

Então, eles sugerem uma extrapolação da escala, propondo uma categoria hipotética 6 e modificando os valores da categoria 5 atual. Dessa forma, ficaria assim: Categoria 5: de 252 a 309 km/h; e Categoria 6: acima de 309 km/h.

Segundo as suas análises, eles descobriram que cinco tempestades tropicais recentes (que ocorreram de 2013 a 2021) já atingiram esta hipotética intensidade de Categoria 6, e acreditam que mais tempestades deste tipo irão ocorrer à medida que o clima continua a aquecer.

supertufão Haiyan; 2013; Filipinas
Imagem de satélite do supertufão Haiyan, em 2013, a aproximar-se das ilhas Filipinas. Crédito: AFP.

Um exemplo de tempestade tropical que se incluiria na categoria 6, é o supertufão Haiyan que devastou as Filipinas em novembro de 2013, com ventos de cerca de 314 km/h, sendo a tempestade mais cara do país e a mais mortal desde o século XIX. Até foi argumentado anteriormente por outros investigadores que Haiyan deveria ser classificado como categoria 6, e que o seu potencial destrutivo excedia largamente uma tempestade nominal de categoria 5 da escala atual.

O outro lado da questão

Contudo, para alguns cientistas, esta nova categoria não é necessária, pois os sistemas atuais de medição de vento ainda são imprecisos e a organização da escala Saffir–Simpson já é suficiente para representar a gravidade dos sistemas.

Outros também acham que o importante mesmo é uma melhor comunicação das ameaças que as tempestades representam. Por exemplo, o ciclone Jasper, em dezembro de 2023, atingiu o norte de Queensland (Austrália) com categoria 2, despejando grandes volumes de água e provocando inundações devastadoras. A população criticou o órgão responsável pelos alertas por não transmitir totalmente o tamanho da ameaça. Então, avisos mais específicos podem ajudar nesse sentido. Além disso, dizem que a perda catastrófica de uma Categoria 5 ou Categoria 6 teria a mesma aparência: catastrófica.

Referência da notícia:

Wehner, M. F.; Kossin, J. P. The growing inadequacy of an open-ended Saffir–Simpson hurricane wind scale in a warming world. Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), 121, 2024.