Será possível a monitorização da biodiversidade a partir do espaço como fazemos com o clima?
Uma vez que os dados existentes sobre a biodiversidade apresentam bastantes lacunas, um sistema global de satélites pretende colmatar estas falhas para proteger os nossos mares, solos e vida selvagem.
De acordo com o jornal The Guardian, os cientistas estão a desenvolver um novo sistema que, segundo eles, utilizará a vista do espaço para transformar a nossa compreensão da ecologia em mudança da Terra e dos seus sistemas complexos.
Os cientistas afirmam que a criação de um novo esquema internacional de vários milhares de milhões de euros permitiria aos países acompanhar eficazmente a saúde do planeta e salvaguardar o abastecimento de alimentos, água e materiais para milhares de milhões de pessoas.
Tal só seria possível através da combinação de dados e imagens de satélite com tecnologias no terreno.
Em 2022, os governos comprometeram-se a transformar a sua relação com a natureza: travar as extinções causadas pelo comportamento humano até à recuperação de quase um terço dos ecossistemas degradados do planeta.
Um número crescente de cientistas adverte que os dados sobre os mares, os solos, as florestas e as espécies do planeta são tão deficientes que será impossível saber se conseguimos atingir os objetivos acordados.
Apesar dos grandes avanços na monitorização do clima, a informação sobre a biodiversidade da Terra é comparativamente pobre. Assim, para ultrapassar este problema, os investigadores propuseram a criação de um novo sistema de monitorização da biosfera, semelhante à forma como os humanos monitorizam o tempo.
Desenvolvimento de redes de observação
O Canadá ou até mesmo a Colômbia estão entre os países que estão a desenvolver as suas próprias redes de observação da biodiversidade, conhecidas como BONs, que, segundo os investigadores, deveriam ser combinadas num sistema de observação global.
Um sistema BON reúne dados brutos sobre os mares, os solos, as florestas e as espécies para dar uma visão geral da saúde da biodiversidade de uma nação.
Andrew Gonzalez, professor de Biologia da Conservação na Universidade de McGill.
Este ano, as agências espaciais mundiais estão a unir-se para melhorar a monitorização da biodiversidade.
Porém, segundo os investigadores, há várias limitações nos dados atuais. A análise de 742 milhões de registos de cerca de 375 000 espécies em 2021 revelou uma série de lacunas: apenas 6,74% do planeta foi amostrado, sendo as altitudes elevadas e os mares profundos particularmente desconhecidos.
Algumas das maiores lacunas registaram-se nos trópicos, apesar destas áreas albergarem grandes quantidades de vida. A Europa, os EUA, a Austrália e a África do Sul representaram 82% de todos os registos, e mais de metade dos registos incidiram em menos de 2% das espécies conhecidas.
As inovações nas tecnologias de digitalização permitem aos investigadores verificar a existência de doenças numa floresta inteira e identificar a distribuição das espécies. Mas os cientistas dizem que ainda há muito a fazer para analisar os sistemas da Terra como um todo.