Será o comportamento humano culpado pela disseminação do coronavírus?
A pandemia do novo coronavírus pode estar associada à forma como a atividade humana tem modificado o meio ambiente! A destruição de habitats naturais expõe os seres humanos a novos vírus desconhecidos que dantes estavam isolados na natureza.
A pandemia do novo coronavírus apanhou o mundo inteiro de surpresa, obrigando quase toda a população mundial a parar e isolar-se nas suas casas. O aparecimento repentino deste novo vírus faz-nos pensar: será que pandemias como esta serão mais comuns no futuro? Porque é que elas surgem desta maneira?
Muitas investigações científicas sugerem que os surtos de doenças transmitidas por animais e outras doenças infecciosas, como a Ébola, SARS, gripe aviária e agora o COVID-19, causada pelo novo coronavírus, estão a aumentar cada vez mais ao longo dos anos! Os agentes infecciosos (patogénicos) estão a passar de animais para humanos com mais facilidade, muitos desses agentes conseguem fazer mutações e espalhar-se rapidamente.
O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos estima que três quartos das doenças “novas” que infetam seres humanos originam-se em animais. No caso do novo coronavírus, os morcegos são a possível fonte. Porém, será que os morcegos são os culpados por transmitir a doença aos humanos? A resposta é não, os verdadeiros culpados são os próprios humanos!
Diversos zoólogos e especialistas dizem que as mudanças no comportamento humano e a forma como tratamos a natureza, com a destruição de florestas e a grande e rápida circulação de pessoas pelo planeta, permitiram que as doenças que antes estavam confinadas na natureza se espalhassem rapidamente.
Num artigo publicado noThe New York Times, David Quammen, autor do livro “Spillover: Infecções animais e a próxima pandemia humana”, disse: “Invadimos florestas tropicais e outros ambientes selvagens, que abrigam várias espécies de animais e plantas – e, dentro dessas criaturas, vários vírus desconhecidos. Cortamos as árvores, matamos os animais ou enjaulamo-los e enviamo-los para os mercados. Nós rompemos os ecossistemas e libertamos os vírus dos seus hospedeiros naturais. Quando isso acontece, eles precisam de um novo hospedeiro. Muitas vezes, somos nós.”
Kate Jones, da University College London em Inglaterra, liderou um estudo publicado em 2008 na Nature, onde identificou o surgimento de 335 doenças entre 1940 e 2004, das quais pelo menos 60% são zoonoses, ou seja, doenças infecciosas transmitidas por animais. Das zoonoses identificadas, 71.8% tiveram origem na vida selvagem. A investigação destaca que de todas as doenças infecciosas emergentes, as zoonoses originadas a partir da vida selvagem representam a ameaça mais significativa e crescente à saúde global.
Jones disse, num artigo naScientific American, que cada vez mais as disseminações de doenças zoonóticas estão ligadas às mudanças ambientais feitas pela atividade humana. A destruição de florestas que antes estavam intactas, a construção de estradas em lugares remotos, a rápida urbanização e crescimento populacional estão a aproximar os humanos de espécies animais que antes ficavam distantes e isoladas nos seus hábitats. Desta forma os seres humanos criam novos habitats onde os vírus são transmitidos facilmente e acabam por se surpreender com o surgimento de novas doenças.
Alguns ecologistas, como Thomas Gillespie, da Universidade Emory, não se surpreenderam com o surto do novo coronavírus já que, de acordo com Gillespie a maioria dos agentes patogénicos ainda não foram descobertos, “nós estamos ainda na ponta do icebergue”.
Desta forma, devemos perceber que a natureza possui ameaças, mas não é a responsável pela disseminação destas doenças e os danos provocados. Para evitar que vírus, como o coronavírus, continuem a surgir e espalhar-se pelo mundo, o comportamento humano e a sua interação com a natureza deve mudar.