Segundo os investigadores os Dodós não eram pouco inteligentes nem lentos

Um grupo de investigadores, após analisarem cerca de 400 anos de literatura científica, estão a desmistificar a ideia sobre as aves extintas que não voam, o dodó e o solitário.

Extinção do Dodó
Uma combinação de predatismo por humanos e por animais introduzidos por humanos levou à queda do dodó, transformando-o num caso clássico de extinção.

Os Dodós (Raphus cucullatus) extinguiram-se em 1662, devido à caça e à desflorestação, poucas décadas após a colonização holandesa na ilha Maurícia, no Oceano Índico, onde as aves eram endémicas.

Segundo Neil Gostling, da Universidade de Southampton, no Reino Unido, esta investigação trata-se da mais completa revisão da taxonomia do dodó e do seu parente mais próximo, o também extinto solitário (Pezophaps solitaria) da vizinha ilha Rodriguez.

Muito do que foi escrito sobre o dodó e o solitário teve como base relatos de marinheiros holandeses, representações artísticas e restos mortais incompletos.

Este facto levou a uma série de identificações incorretas, incluindo o dodó nazareno, o solitário branco e o dodó branco. O dodó branco foi provavelmente assumido como existente devido a pinturas de dodós brancos e à existência de outra ave extinta de outra ilha próxima, o íbis da Reunião (Threskiornis solitarius).

“No século XVIII e início do século XIX, o dodó e o solitário eram considerados animais mitológicos. Mas foi o trabalho árduo dos cientistas da era vitoriana que acabou por provar que o dodó e o solitário não eram mitológicos, mas sim pombas terrestres gigantes.”
Mark Young, da Universidade de Southampton.

Young salienta que não havia consenso sobre o número de espécies de aves que não voavam. Nos séculos XIX e XX, os investigadores pensavam que existiam até 5 espécies diferentes.

Afinal não se sabe muito sobre estas aves

Julian Hume, um paleontólogo de aves do Museu de História Natural de Londres afirma que se tem vindo a escrever mais sobre o dodó do que sobre qualquer outra ave, mas não se sabe praticamente nada sobre a sua vida.

Alguns estudos sugerem a ideia do dodó como um animal burro, lento e gordo não é verdade.

“As provas obtidas a partir de espécimes ósseos sugerem que o tendão do dodó que fechava os dedos dos pés era excecionalmente poderoso, análogo ao das aves atuais que trepam e correm. O dodó era quase de certeza um animal muito ativo e muito rápido”, diz Gostling.

Estas criaturas estavam perfeitamente adaptadas ao seu ambiente, mas as ilhas onde viviam não tinham predadores mamíferos. Assim, quando os humanos chegaram, trazendo ratos, gatos e porcos, o dodó e o solitário nunca tiveram hipótese.

Escultura de Dodó
Dr. Neil Gostling com a escultura de Dodó da paleoartista Karen Fawcett. Fonte: Universidade de Southampton.

Segundo esta investigação os dodós ocupavam um lugar integral nos seus ecossistemas. E, se houver compreensão por parte da comunidade científica, talvez se possa apoiar a recuperação do ecossistema na Maurícia, começando por desfazer os danos que começaram com a chegada dos humanos há quase meio milénio.

Os investigadores afirmam que o estudo contém “lições valiosas” para a conservação atual

Os investigadores com a tecnologia informática de ponta, estão a reconstituir a forma como o dodó vivia e se deslocava. Ao compreenderem como as aves evoluíram no passado, estão a aprender lições valiosas que podem ajudar a proteger as espécies de aves atuais.

Com este estudo os investigadores conseguiram confirmar que tanto o dodó como o solitário são membros da família dos columbídeos (pombos e pombas).

Assim, compreender as suas relações mais amplas com outros pombos é de importância taxonómica, mas do ponto de vista da conservação, a perda do dodó e do solitário algumas décadas mais tarde significa que se perdeu um ramo único da árvore genealógica dos pombos.