Se é alimentado pela chuva e por rios de água doce, porque é que o mar é salgado?

Embora chovam diariamente 1,397 biliões de litros de água doce, os oceanos continuam a ser salgados, graças a um equilíbrio milenar de processos naturais.

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Os oceanos têm uma concentração média de sal de 3,5%.

Estima-se que todos os dias chovem 1,397 biliões de litros de água no nosso planeta, o que equivale a cerca de 2,7 mm em toda a superfície do globo. No entanto, apesar desta impressionante quantidade de água doce, os oceanos são, como sabemos, salgados.

Os oceanos têm uma concentração média de sal de 3,5%. Por outras palavras, cada litro de água contém cerca de 35 gramas de sal, o que é suficiente para explicar o seu sabor salgado e a sua capacidade de suportar uma biodiversidade impressionante.

Porque é que os oceanos são salgados e porque é que se mantêm assim desde há milhões de anos? A resposta revela o delicado equilíbrio de processos geológicos e químicos que se mantêm até aos dias de hoje.

Um sistema cumulativo

A água da chuva contém pequenas quantidades de dióxido de carbono do ar, o que faz dela um ácido muito, muito fraco. Mesmo assim, ao entrar em contacto com as rochas, a água da chuva provoca a sua erosão e as rochas libertam pequenas quantidades de sais e minerais que, através do curso de água, fluem para os mares e oceanos.

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Embora os rios e as fontes hidrotermais adicionem constantemente minerais ao oceano, a salinidade não aumenta indefinidamente.

Não nos apercebemos de qualquer salinidade na água dos rios porque a água está em movimento e é constantemente renovada pelas chuvas, que diluem as concentrações de sais nela dissolvidos. Assim, o volume de água doce é muito maior do que o volume de minerais dissolvidos.

Mas no mar as coisas são diferentes. Ao contrário da constante renovação e movimento dos rios, os oceanos são sistemas cumulativos, como enormes reservatórios onde os sais e minerais de várias origens não são tão facilmente removidos.

água
Os oceanos acumulam sais provenientes de rios, vulcões e fontes submarinas, mas um equilíbrio natural impede-os de se tornarem mais salgados.

Os rios não são a única fonte de minerais para os oceanos. As erupções dos vulcões submarinos também libertam gases e minerais que enriquecem ainda mais o oceano. Além disso, ocorre um processo fundamental no fundo do mar: através de fissuras na crosta terrestre, a água infiltra-se e torna-se muito quente, até 400 °C. A esta temperatura, a água atua sobre as rochas e dissolve mais sais e minerais.

Estes “géiseres submarinos” expulsam água aquecida pelo magma, carregada de minerais dissolvidos da crosta terrestre.

De todos os sais despejados no oceano, a grande maioria - 85% - são iões de sódio e cloreto, cuja combinação forma o cloreto de sódio, o sal comum que todos conhecemos e que define o sabor da água do mar. Estes iões não são libertados para a atmosfera no processo de evaporação, mas permanecem na água líquida.

Equilíbrio dinâmico: tudo o que entra, sai

Com um fornecimento tão constante de sais e minerais, não deveria o oceano estar a ficar cada vez mais salgado? Na realidade, não, e isso deve-se a um equilíbrio natural: uma parte dos sais é armazenada sob a forma de sedimentos no fundo do mar, e organismos como os corais e alguns outros mais pequenos utilizam-nos nas suas estruturas.

Assim, apesar da entrada de sal dos rios e das fontes hidrotermais, a mesma quantidade de sal é removida através da sedimentação e de outros processos naturais. Este equilíbrio dinâmico manteve o nível de salinidade dos oceanos estável durante, pelo menos, 200 milhões de anos.

oceanos
A salinidade dos oceanos não é uniforme: fatores como a precipitação, a evaporação e a fusão do gelo criam um mapa dinâmico de águas mais ou menos salgadas.

No entanto, a concentração de sal no oceano não é uniforme. Nas zonas próximas do equador, onde chove mais, os sais estão mais diluídos e a água é menos salgada. O mesmo acontece nas zonas polares, onde a fusão do gelo torna a água menos salgada. Em contrapartida, nas latitudes médias, a evaporação é maior e a salinidade é mais elevada.

O Mar Morto, na Jordânia, é uma das massas de água mais salgadas do planeta, com uma salinidade de 34%, quase dez vezes superior à dos oceanos. Isto deve-se ao facto de se situar numa bacia fechada, sem contacto com outros mares e oceanos, o que significa que a água que nele aflui, principalmente do rio Jordão, não tem forma de escapar a não ser por evaporação. Nesta região, as altas temperaturas e a baixa humidade provocam uma rápida evaporação da água, o que deixa os sais concentrados.

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O Mar Morto é uma das massas de água mais salgadas do planeta, com uma salinidade de aproximadamente 34%, o que o torna num ambiente extremo.

Estes processos fazem do Mar Morto um ambiente extremo onde poucas formas de vida conseguem sobreviver, mas cujas águas e lamas são famosas pelas suas propriedades terapêuticas e minerais.

O mar salgado é a prova dos processos geológicos que moldaram a Terra e que são cruciais para a vida. A salinidade influencia as correntes oceânicas, regula a temperatura global e cria diversos habitats que suportam a vida marinha.