Satélites da NASA prestes a aposentar deixam várias lacunas na observação da Terra
Cientistas temem a perda de dados cruciais para a monitorização da camada de ozono e alterações climáticas com a desativação dos satélites Terra, Aqua e Aura. A comunidade científica procura soluções alternativas para minimizar o impacte da interrupção das informações.
Três satélites da NASA, cada um com o peso de aproximadamente um elefante, estão prestes a aposentar-se. Já em processo de desativação gradual, observam o planeta há mais de duas décadas, superando em muito a expectativa inicial.
Além de auxiliarem na previsão do tempo, são importantes quer no combate aos incêndios florestais, quer, por exemplo, na monitorização de derrame de óleo. Mas a idade não perdoa, e em breve enviarão as suas últimas transmissões, iniciando a queda final lenta em direção à superfície terrestre.
Esse é o momento que os cientistas temem. Quando os três satélites – Terra, Aqua e Aura – forem desligados, grande parte dos dados que se encontram a coletar perder-se-ão, e os satélites mais novos não conseguirão suprir todas as necessidades.
Podem perder-se dados fundamentais ao estudo da camada de ozono e das alterações climáticas
Os investigadores terão a partir desse momento que confiar em fontes alternativas que podem não atender exatamente às exigências ou procurar soluções alternativas para permitir a continuidade dos registos.
Para alguns dos dados registados por esses satélites, a situação é ainda pior: nenhum outro instrumento continuará a captar estas informações. Em poucos anos, as características detalhadas que eles revelam sobre o nosso mundo serão menos claras.
A principal área que ficará sem vigilância é a estratosfera, lar importantíssimo da camada de ozono. Através do ar frio e rarefeito da estratosfera, as moléculas de ozono estão constantemente a formar-se e destruir-se, transportadas e varridas pela interação com outros gases. Alguns destes gases têm origem natural; outros estão lá por causa de nós – seres humanos.
Um instrumento da Aura, o MLS (Microwave Limb Sounder), dá-nos a melhor visão desta intensa atividade química, explica Ross J. Salawitch, cientista da Universidade de Maryland. Uma vez que o satélite Aura desapareça, a visão possível sobre o planeta diminuirá consideravelmente.
Impacte na investigação: camada de ozono estagna e monitorização climática em perigo
Recentemente, os dados do MLS têm vindo a demonstrar a sua mais-valia de modo inesperado, segundo Salawitch. O instrumento mostrou o quanto os incêndios florestais na Austrália no final de 2019 e início de 2020, e a erupção vulcânica perto de Tonga em 2022, tiveram consequências sobre a camada do ozono.
Se não estivesse prestes a ser desativado, o MLS também poderia ajudar a resolver algumas problemáticas que ainda persistem, diz Salawitch.
Jack Kaye, diretor associado de investigação da Divisão de Ciência da Terra da NASA, reconhece as preocupações dos investigadores com o fim do MLS. No entanto, argumenta que outras fontes, incluindo instrumentos em satélites mais novos, na Estação Espacial Internacional e aqui na Terra, facultarão “uma janela bastante boa para providenciar a informação sobre o que se passa na atmosfera”.
Para os cientistas que estudam as alterações climáticas, a diferença entre dados iguais e semelhantes pode ser enorme. De facto, somente por meio da monitorização contínua, de maneira inalterada, por um longo período, se pode ter a certeza do que está a acontecer.
Mesmo uma pequena interrupção nos registos pode criar problemas. Por exemplo, se uma plataforma de gelo colapsa na Gronelândia, a menos que se meça o aumento do nível do mar antes, durante e depois, nunca haverá certeza se a mudança repentina foi causada pelo colapso.