Salvar o gelo marinho do Ártico: será que a geoengenharia vai funcionar?
Está em curso uma técnica experimental para engrossar o gelo do Ártico com milhares de litros de água do mar, mas será que funciona?
Uma experiência de geoengenharia vai permitir bombear milhares de litros de água salgada através do oceano Ártico congelado, numa tentativa de abrandar o aquecimento global.
Esta abordagem de intervenção no sistema climático da Terra tem como objetivo reduzir a energia absorvida pela Terra; impedir que o gelo derreta evita que mais energia solar seja absorvida, abrandando o aquecimento global.
Enorme defesa
Sir David Attenborough afirmou: "O recongelamento do Ártico, se possível, seria uma enorme defesa contra as catástrofes globais atualmente ameaçadas pelo aquecimento global contínuo", e os cientistas do Centro de Reparação Climática da Universidade de Cambridge esperam engrossar o gelo o suficiente para abrandar - ou mesmo inverter - o degelo já observado.
Os defensores argumentam que estas abordagens podem dar uma ajuda ao planeta enquanto a humanidade limpa o que estragou, mas os críticos avisam que estas tentativas de geoengenharia podem desviar a atenção de outras medidas críticas, como a redução das emissões de carbono, e causar mais danos do que benefícios.
"Na realidade, não sabemos o suficiente para determinar se se trata de uma boa ou má ideia", afirma o Dr. Shaun Fitzgerald, cuja equipa está por detrás do projeto.
Os investigadores têm vindo a testar a sua hipótese em Cambridge Bay, uma pequena cidade canadiana no Círculo Polar Ártico, perfurando um buraco no gelo marinho que se forma naturalmente no inverno e bombeando cerca de 1000 litros de água do mar por minuto através da superfície.
Esta água do mar congela rapidamente quando exposta ao ar frio e ajuda a engrossar o gelo na parte superior e a compactar a neve; a neve fresca é uma boa camada isolante e permite que o gelo se forme mais facilmente na parte inferior em contacto com o oceano. A hipótese é que quanto mais espesso for o gelo no final do inverno, mais tempo sobreviverá na época do degelo. Os cientistas já viram o gelo na área de estudo engrossar algumas dezenas de centímetros e vão deixar a área sob vigilância da comunidade local nos próximos meses.
Será que vai funcionar?
É muito cedo para dizer se o projeto vai funcionar, pois há muitos fatores que podem afetar o seu sucesso, incluindo a possibilidade de o gelo mais salgado derreter mais rapidamente no verão. Também pode ser logisticamente difícil aumentar a escala do projeto para ter um efeito significativo.
Os cientistas, incluindo as agências climáticas e meteorológicas das Nações Unidas, alertam para o facto de estas abordagens poderem ser mais prejudiciais do que benéficas, alterando os padrões climáticos globais, por exemplo, e muitos investigadores querem que sejam banidas em favor de cortes mais acentuados nos combustíveis fósseis e nas emissões de carbono.