Sabia que as flores têm um poder secreto para atrair os polinizadores?

As plantas com flores utilizam alguns sinais, como a ativação do néctar para comunicar com os seus polinizadores. Fique aqui a saber mais!

Abelha
Quando uma abelha se aproxima de um ranúnculo, a flor pode sentir as alterações elétricas desencadeadas pelo bater de asas do inseto e alertar as plantas vizinhas através dos seus próprios sinais elétricos, sugere uma nova investigação.

Segundo o biofísico Daniel Robert, num artigo publicado no Jornal da Física as flores das plantas podem atuar como antenas para os sinais elétricos das abelhas e transmitir sinais através do solo.

A descoberta oferece uma possível pista sobre a forma como os vizinhos florais partilham informação sobre o momento de produzir néctar, poupando energia para quando a polinização parece promissora.

Víctor Ortega-Jiménez, um investigador de biomecânica da Universidade do Maine em Orono, afirma que se o bater de asas de uma abelha desencadear mesmo uma pequena diferença de voltagem nas plantas, pode ser uma demonstração interessante de comunicação.

Este palpite dos investigadores sobre a comunicação elétrica já não é recente. Porém a forma como funciona a comunicação elétrica das plantas e de que forma se conecta às espécies acima e abaixo do solo continua a ser um enigma.

Os abelhões transportam uma carga elétrica positiva, enquanto as flores transportam uma carga negativa

De acordo com os cientistas, os caules das petúnias não só ficam mais carregados quando uma abelha se aproxima, como as suas flores também aumentam a produção de odores, o que sugere que a planta pode detetar polinizadores com base num sinal elétrico sem contacto.

No novo estudo, o ecologista Fraser Woodburn, que trabalha no laboratório de Robert, concebeu antenas para emitir sinais que imitam os produzidos pelas asas de uma abelha a bater num campo elétrico.

Montagem do estudo
Montagem do condensador de placas paralelas para as experiências de remoção de componentes florais de narcisos. Cada narciso foi colocado em 35 ml de água para evitar a dissecação. Fonte: F A Woodburn et al 2024

As antenas foram colocadas por cima de narcisos que a equipa cultivou no laboratório. Foram também colocados peças de metal, ou elétrodos, nos caules das flores.

"...alterar a forma da flor, retirando-lhe a trombeta central ou as pétalas, reduziu a sua capacidade de receção de sinais, talvez por a tornar menos "um prato"."
Fraser Woodburn - ecologista

Ao medir a variação da tensão na superfície do caule, os investigadores puderam inferir se as plantas conseguiam detetar o sinal. Os resultados sugerem que os narcisos podem receber sinais elétricos das antenas sem entrar em contacto físico com elas.

Comunicação das flores através de elétrodos

Em seguida, os investigadores levaram o trabalho para o exterior, para as plantas de hogweed e ranúnculos nos jardins da Universidade de Bristol. A equipa voltou a imitar o envio de sinais elétricos das abelhas por cima de uma fila de flores equipadas com elétrodos.

As flores vizinhas no mesmo solo também tinham elétrodos, mas essas plantas estavam cobertas com um escudo metálico para bloquear quaisquer sinais elétricos ou químicos no ar.

Surpreendentemente, os elétrodos das plantas protegidas detetaram sinais elétricos, o que sugere que as plantas os transmitiram para o subsolo. Esses sinais mantiveram a sua força mesmo em plantas mais afastadas do sinal inicial semelhante a uma abelha.

"O que é extraordinário neste trabalho é que sugere que as plantas talvez falem umas com as outras através de campos eléctricos".
Scott Waitukaitis, físico do Instituto de Ciência e Tecnologia da Áustria.

O biofísico e botânico Ingo Dreyer, da Universidade de Talca, no Chile, é cético quanto ao resultado. Do ponto de vista elétrico, uma abelha voadora "dificilmente troca cargas com o seu ambiente".

Além disso, o sinal de entrada nas experiências foi de 10 volts, enquanto o sinal detetado foi inferior a 20 milivolts, um quíntuplo da força do original. Isto levanta questões sobre a transmissão.

Segundo Robert a troca poderia, em última análise, ajudar as plantas a conservar energia, pois produzir néctar para atrair polinizadores é bastante dispendioso.

Assim, encontrar uma forma de programar a produção para a altura em que os polinizadores estão presentes pode ser compensador.

Referência da notícia:

F A Woodburn et al 2024, "Electrostatic detection and electric signalling in plants: do flowers act as antennas?"