Sabia que absorção global de carbono pelos oceanos é reforçada pela precipitação?

De acordo com um estudo recente, cerca de 6% da absorção total de dióxido de carbono (CO2) pelos oceanos deve-se à precipitação. Fique a saber mais aqui!

Precipitação e os oceanos
A precipitação potencia o sumidouro de dióxido de carbono que representa os oceanos, de acordo com um estudo da Universidade do Havai.

As emissões de dióxido de carbono (CO2) provenientes de atividades humanas, principalmente através da queima de combustíveis fósseis, do fabrico de cimento e de alterações na utilização dos solos, causaram um aumento da temperatura global e subsequentes alterações no sistema climático.

Uma fração das emissões de CO2 é absorvida pelo oceano, mitigando o aumento do CO2 atmosférico e atenuando alguns dos impactos das alterações climáticas.

De acordo com a avaliação de 2022 do Orçamento Global do Carbono (GCB), a absorção pelos oceanos manteve-se relativamente constante entre 1960 e 2022, representando uma média de 25% do total das emissões antropogénicas.

Todavia, um recente estudo da Universidade do Havai e publicado na revista Nature Geoscience, revelou que cerca de 6% da absorção total de dióxido de carbono (CO2) pelo oceano se deve à precipitação.

Segundo David Ho, coautor do estudo e professor da Escola de Ciências e Tecnologia do Oceano e da Terra da UH Mānoa, as trocas entre o oceano e a atmosfera são reguladas por propriedades e processos químicos, físicos e biológicos. A precipitação altera estas propriedades da superfície do oceano, promovendo a troca de CO2 entre o ar e o mar.

O impacto da chuva e dos fluxos de CO2 ar-mar não foram examinados sistematicamente, mas há que compreender que nos brinda com uma imagem mais completa.

A chuva tem impacto nesta troca de carbono de três formas distintas: em primeiro lugar, ao cair sobre a superfície do oceano, gera turbulência que facilita o contacto da água logo abaixo da superfície com a atmosfera.

Em segundo lugar, dilui a água do mar à superfície, alterando o equilíbrio químico no ciclo do carbono oceânico, permitindo que a água do mar absorva maiores quantidades de CO2. Por último, as gotas de chuva injetam diretamente no oceano o CO2 absorvido durante a sua queda na atmosfera.

Distribuição da chuva
Distribuição espacial dos distintos efeitos da precipitação. Fonte Parc, L., Bellenger, H., Bopp, L. et al. "Global ocean carbon uptake enhanced by rainfall." (2024)

Para chegar a esta conclusão, a equipa de investigação baseou-se numa análise das observações por satélite e na reanálise dos dados climáticos e meteorológicos globais durante um período de 11 anos, de 2008 a 2018.

O efeito da chuva nos sumidouros de carbono

Esta investigação mostrou que a chuva aumenta o sumidouro de carbono oceânico em 140 a 190 milhões de toneladas de carbono por ano!

Ou seja, um aumento de 5% a 7% nas 2,66 mil milhões de toneladas de carbono absorvidos anualmente pelos oceanos. O aumento das trocas superficiais devido à turbulência e à diluição da água do mar desempenha um papel de ordem de grandeza comparável à injeção direta de carbono dissolvido nas gotas de chuva.

As regiões onde estes processos são significativos não são iguais

A turbulência e a diluição aumentam principalmente o sumidouro de CO2 em regiões tropicais caracterizadas por chuvas intensas associadas a ventos fracos, o que induz uma salinidade e uma diluição de CO2 assinaláveis.

Em contrapartida, a deposição por gotas de chuva é significativa em todas as regiões com precipitação intensa: os trópicos, evidentemente, mas também as zonas de tempestade e o Oceano Austral.

"Isto é especialmente importante já que se espera que os padrões de precipitação sobre o oceano mudem com as alterações climáticas, e isso poderia afetar o sumidouro de carbono do oceano."
De acordo com David Ho.

Os resultados deste estudo sugerem que o efeito da chuva deve ser explicitamente incluído nas estimativas utilizadas para construir o orçamento global do carbono, que é compilado anualmente e integra as emissões antropogénicas, o crescimento do CO2 atmosférico e os sumidouros naturais de carbono.

Referência do artigo:
Parc, L., Bellenger, H., Bopp, L. et al. "Global ocean carbon uptake enhanced by rainfall." Nature Geoscience (2024).