Remo, o peixe que "anuncia" os terramotos: qual é a origem desta crença popular?
Muitos assustam-se com o avistamento deste animal marinho nas zonas costeiras e associam-no à eventual ocorrência de catástrofes socio-naturais. O que é verdade? De onde veio isto? Ah, já agora, há catástrofes todos os dias, com ou sem avistamentos.
Neste ponto, ninguém deve duvidar da sabedoria da natureza, mas devemos ser cautelosos quando se trata de atribuir poderes fora do comum a certas manifestações que se prestam à confusão.
Uma delas é o aparecimento de um dos peixes mais peculiares do vasto mar. Foi o que aconteceu há alguns dias em Tumbes, uma zona costeira no extremo norte do Peru. Ali, um grupo de pessoas apanhou um enigmático peixe-remo ou peixe-sabre com cerca de 3 metros de comprimento.
De acordo com os pescadores locais, esta não é a primeira vez que um exemplar desta espécie é avistado nesta zona costeira do Oceano Pacífico, de facto, indicaram que já tinham sido avistados exemplares ainda maiores antes deste.
Um peixe-remo pode medir até 17 metros e pesar mais de 200 quilos. É considerado um dos maiores peixes vivos com uma das mais extensas estruturas ósseas conhecidas.
Porque é que o peixe-remo está associado a terramotos?
A literatura associa esta crença popular à cultura japonesa, que atribuiria ao peixe-remo ou sabre (regalecus glesne) a suposta capacidade de anunciar terramotos ou outras calamidades pela sua presença nas zonas costeiras.
Este animal é também conhecido no Japão como Ryugu no tsukai (mensageiro do palácio do Deus do Mar). A verdade é que não existem provas científicas que liguem o seu avistamento a fenómenos naturais extremos.
O biólogo marinho chileno Nicolás Pérez explica na sua conta do Tiktok (@nico.olasp) que o peixe-remo ou o peixe-sabre geralmente "vêm à superfície quando estão feridos, doentes ou velhos". E depois sublinha com ênfase: "não, não prevêem catástrofes".
No entanto, há quem levante a hipótese desta ligação, como o sismólogo Kiyoshi Wadatsumi (Japão), que defende que este animal vive perto do fundo do mar. Por isso, seria muito sensível aos movimentos das falhas ativas, afirma.
Esta última é uma hipótese que contribui para a discussão, mas não é de modo algum uma certeza. De facto, pouco se sabe sobre esta espécie.
O que sabemos?
O peixe-remo ou sabre é uma espécie de águas profundas, normalmente a mais de mil metros abaixo da superfície. "Este é um dos poucos peixes que não tem escamas, a sua pele é lisa, viscosa e prateada", revela Nicolás Pérez.
Muitas pessoas ficam impressionadas com o seu aspeto um pouco estranho aos nossos olhos, mas a verdade é que o peixe-remo ou sabre se alimenta de plâncton, ou seja, não constitui sequer uma ameaça para outros animais de grande porte.
Estranho? Talvez. Causadores de catástrofes? Não, não está provado. O que é certo é que todos os dias relatamos tragédias relacionadas com a natureza, quer com a presença quer com a ausência desta impressionante criatura das profundezas do mar.