A relevância do anticiclone dos Açores
O sistema climático é um dinâmico mecanismo interactivo. Personifica a variabilidade regional e espacial na história do clima do planeta, vulgarmente confundida com o termo alterações climáticas. Aqui falamos-lhe da importância do anticiclone dos Açores.
Do intercâmbio contínuo de calor e de humidade entre a hidrosfera e a atmosfera, resulta um optimum climático traduzido através de elementos meteorológicos. Embora o oceano consiga exercer um efeito tampão sobre as mudanças de temperatura da atmosfera e da radiação, ele próprio sofre efeito reativo manifestado através da redistribuição do calor entre as latitudes baixas e altas.
Adicionando ao facto do aquecimento do planeta ser maior no Equador do que nas zonas polares, os efeitos da rotação do planeta, da inclinação do eixo de rotação sobre o plano da órbita, da força de Coriolis, da heterogeneidade da superfície litosférica nos dois hemisférios, isto reflete-se numa dissemelhante dinâmica das massas de ar na atmosfera - formam-se sistemas de baixas e altas pressões, que variam em intensidade e localização ao longo do ano.
Decorrente da volubilidade do efeito de estufa, com inerente redistribuição da energia disponível, tem-se vivenciado um cenário de aquecimento global da atmosfera. Por consequência, ocorrem inevitáveis alterações das propriedades físicas do ar e da água dos oceanos, levando ao aumento de vapor de água na atmosfera. A conjugação destas circunstâncias, conduz a um rearranjo dos sistemas meteorológico e oceânico, condicionando o clima das regiões.
A zona setentrional do Atlântico vivencia uma constante actividade devido a trocas de massas de ar
Dos elementos que caracterizam o estado do tempo (temperatura, humidade, precipitação, vento, pressão atmosférica, entre outros), as diferenças de pressão, apesar de menos perceptivel fisicamente, exercem influência determinante na variação do tempo. Confinado na base pela superfície de terra/oceano, e no topo da atmosfera pela força da gravidade, o ar, como reação ao contínuo bombardeamento das moléculas que o compõem, é pressionado a exercer força sobre as superfícies em contacto - pressão atmosférica.
Ora, os centros de baixas pressões representam uma região em que o ar quente ascende, favorecendo a formação de nuvens e precipitação, antagonicamente aos centros de altas pressões, regiões em que o ar descende, aquece e fica muito estável.
De facto, em toda a bacia do Atlântico Norte, o comportamento da pressão atmosférica assume particular importância, traduzindo-se no posicionamento dos centros de altas e baixas pressões, resultando numa variabilidade climática, que influi inclusive nos ciclos fenológicos de algumas espécies da flora.
Movendo-se de Sudoeste, o ar aquecido nas regiões equatorial e subtropical, penetra na zona temperada sob a forma de uma corrente superficial, com vento quente e húmido. Por outro lado, o ar proveniente do Ártico irrompe do Noroeste, sob a forma de corrente fria e seca. Balizando a massa de ar polar proveniente do Noroeste, da tropical que é obrigada a ascender e a inflectir para Sul, forma-se uma extensa banda - a frente polar, onde a luta das duas massas de ar se exterioriza sob a forma de precipitação, vento, e nebulosidade. Um confronto ininterrupto, pois, apesar de variar na intensidade, a uma frente segue-se sempre outra.
As altas pressões no Atlântico
Próximo do arquipélago do Açores, existe uma zona de altas pressões, denominada de “anticiclone dos Açores”, mas não existe um só anticiclone nos Açores. A média de vários anos de monitorização da região, configurada nas cartas de isóbaras, assevera a existência de um dinâmico centro de altas pressões que gera anticiclones. Uma mesma massa de ar não consegue manter-se 'tranquila' por muito tempo numa mesma região, pois o ar, em contacto com o mar aquece, e arrefece por radiação nas zonas mais elevadas, obrigando-o a entrar, inevitavelmente, na circulação geral da atmosfera, e assim, um anticiclone acaba sempre por se desfazer, e voltar a formar-se.
Não tendo todos a mesma estrutura termodinâmica e extensão vertical, os anticiclones representam regiões de alta pressão atmosférica, máxima no centro (no anticiclone dos Açores atinge frequentemente 1040 hPa), diminuindo inversamente ao aumento da distância ao centro, e, têm em seu redor, o vento a soprar no sentido do movimento dos ponteiros do relógio no hemisfério Norte, e no sentido oposto no hemisfério Sul.
Apesar de alguns poderem parecer algo estacionários, deslocando-se lentamente com o movimento anual aparente do Sol, para Norte no verão e para Sul no inverno, devido à distribuição da radiação solar, outros deslocam-se acompanhando o movimento dos sistemas frontais. De destacar os dois centros de altas pressões no hemisfério Norte - anticiclone dos Açores e do Pacífico, e as três células quase permanentes no hemisfério Sul - anticiclone de Santa Helena, do Índico e do Pacífico Sul.
Meteorologicamente, um Anticiclone dos Açores localizado mais para Sul ou Sudeste, tendencialmente mais fraco, permite a descida de ar, adquire instabilidade no seu percurso sobre um oceano quente, maior atividade de origem frontal, traduzindo-se num estado do tempo mais irregular. Por outro lado, um anticiclone dos Açores deslocado mais para Norte, mais forte, propicia a períodos de seca nas Ilhas e no Sul da Península Ibérica. E, deste intrincado jogo, resulta a variabilidade climática que se tem assistido um pouco por todo o lado.