A recuperação natural das florestas tropicais só é possível com a ajuda de pássaros frugívoros, diz estudo
Segundo um novo estudo, as florestas tropicais não conseguem recuperar-se naturalmente sem a presença de pássaros frugívoros, aqueles que têm a alimentação baseada em frutas.
As florestas tropicais são um tipo de ecossistema que se encontra aproximadamente na região compreendida entre as latitudes de 35ºN e 35ºS, ou seja, na zona equatorial entre os Trópicos de Câncer e de Capricórnio. É uma formação vegetal típica de regiões de clima quente e húmido, e que possui uma grande diversidade de espécies animais e vegetais.
Infelizmente, essas florestas têm sofrido com a desflorestação. Assim sendo, é extremamente importante protegê-las ativamente para tentar reverter a degradação, contribuindo com a sua restauração. Nesse sentido, um estudo realizado pelo Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETHZ) destaca que as florestas tropicais não se podem recuperar naturalmente sem a ajuda de pássaros frugívoros. Saiba mais abaixo.
De que forma é que estes pássaros ajudam na recuperação?
Cerca de 70% a 90% das espécies de árvores das florestas tropicais dependem da dispersão de sementes pelos animais; isso é essencial para permitir que elas se desenvolvam.
Os pássaros frugívoros são importantes na recuperação das florestas pois conseguem dispersar plantas com sementes grandes, desempenhando um papel fundamental na dispersão em florestas da América do Sul e América Central. Estes auxiliam na restauração ao consumir, excretar e espalhar as sementes à medida que se movimentam pelas florestas.
E agora, os investigadores apresentam uma análise quantitativa de como estas aves contribuem para a restauração das florestas. Usando modelos de estatística e dados terrestres recolhidos na Mata Atlântica do Brasil, mostraram que as aves podem aumentar o armazenamento de carbono da floresta em regeneração em até 38%. Esses dados foram coletados em alguns pontos de florestas no Estado de São Paulo.
Os investigadores observam também que é fundamental manter um mínimo de 40% de cobertura florestal na Mata Atlântica para otimizar a contribuição das aves no sucesso da restauração. Além disso, uma distância de cerca de 133 metros (ou menos) entre as áreas florestais garante que as aves possam continuar a mover-se pela paisagem e facilitar a recuperação natural.
E diferentes espécies de pássaros têm impactos diferentes em relação à dispersão. Os menores dispersam mais, mas só conseguem espalhar as sementes pequenas de árvores com menor potencial de armazenamento de carbono. Por outro lado, os pássaros maiores, como o tucano-toco ou tucanuçu (Ramphastos toco) e a gralha-de-topete (Cyanocorax cristatellus), dispersam as sementes de árvores com maior potencial de armazenamento de carbono. O problema é que os pássaros maiores têm menos probabilidade de se deslocar através das florestas altamente degradadas.
“Permitir que frugívoros maiores se movam livremente pelas paisagens florestais é fundamental para a recuperação saudável das florestas tropicais”, disse Carolina Bello, autora principal do estudo.
Os autores destacam que uma série de estratégias, como a plantação de árvores frutíferas e a prevenção da caça furtiva, poderiam melhorar o movimento dos animais em florestas tropicais onde a restauração natural (feita dessa forma com ajuda dos animais) é mais provável.
Referência da notícia:
Bello, C. et al. Frugivores enhance potential carbon recovery in fragmented landscapes. Nature Climate Change, 2024.