Reconstrução 3D do Titanic revela detalhes perturbadores sobre o naufrágio que fez 1.500 vítimas
113 anos após o naufrágio do Titanic, uma reconstrução 3D inédita confirma algumas lendas e revela novas informações sobre as horas finais da tragédia mais famosa da navegação.

Pela primeira vez em mais de um século, a história do Titanic está a ser reescrita, mas não a partir dos arquivos ou depoimentos de sobreviventes, e sim das profundezas do Atlântico Norte.
O novo varrimento faz parte do projeto "Titanic: The Digital Resurrection", coliderado pela National Geographic e pela Atlantic Productions, e é a tentativa mais abrangente até agora de reconstruir a tragédia com precisão científica.

A réplica 3D captura não apenas a estrutura do navio, mas também detalhes como vidros intactos, caldeiras deslocadas pelo impacto e pertences pessoais espalhados pelo fundo do oceano. Fragmentos congelados no tempo que, mais de um século depois, ainda têm algo a dizer-nos.
A imagem mais marcante do estudo é talvez a mais simbólica: a proa do Titanic erguida no fundo do mar, como se ainda tentasse continuar a sua jornada. Em contraste, a popa — a mais de 600 metros de distância — fica num emaranhado de ferro retorcido, uma prova do momento brutal em que o navio se partiu em dois.

Mas o mais revelador não é apenas a estética fantasmagórica dos destroços. A réplica digital permite pela primeira vez estudar detalhadamente como é que ocorreu a colisão com o iceberg, como é que a estrutura do navio se comportou durante o naufrágio e o que aconteceu nas suas entranhas mecânicas enquanto os passageiros lutavam para escapar.
Sim, as luzes permaneceram acesas até ao fim
Uma das revelações mais significativas é a descoberta de uma válvula de vapor aberta na popa, indicando que os sistemas elétricos permaneceram operacionais mesmo quando o navio estava a adentrar-se rumo ao seu destino final. Este detalhe técnico, confirmado pelo estado das caldeiras ocas na casa das máquinas, dá credibilidade ao depoimento de passageiros que afirmaram que as luzes permaneceram acesas até ao último momento.
"Isto é um símbolo dos esforços da equipa de engenharia que permaneceu nos seus postos, a alimentar as caldeiras para manter a energia", explicou Parks Stephenson, um dos analistas do projeto, à BBC. “Eles mantiveram o caos sob controlo o máximo de tempo possível”, disse.

A nível estrutural, o varrimento foi acompanhado por uma simulação avançada de computador que confirmou uma teoria que circulava há anos: a de que a colisão com o iceberg não foi frontal nem aparentemente catastrófica, mas sim uma série de pequenas perfurações — do tamanho aproximado de uma folha de papel A4 — que se estendiam por seis compartimentos do casco. Embora o Titanic tenha sido projetado para flutuar com até quatro compartimentos inundados, esta pequena diferença selou o destino do navio.
"Estes pequenos furos, distribuídos por toda a estrutura, permitiam que a água entrasse lentamente, até que não fosse mais possível regressar", explicou o professor Jeom-Kee Paik, da University College London.

O modelo também mostra uma vigia quebrada em primeiro plano, provavelmente o primeiro ponto de contacto com o iceberg. De acordo com vários relatos de sobreviventes, o gelo chegou a entrar nalgumas cabines, algo que agora parece plausível graças ao nível de detalhes do varrimento.
Apesar de tudo o que já foi revelado, os especialistas garantem que uma análise completa levará anos. “Continua a contar-nos as suas histórias aos poucos. E cada vez vai deixar-nos querer mais”, diz Stephenson.
O Titanic: uma tragédia que continua viva
O Titanic afundou nas primeiras horas de 15 de abril de 1912, durante a sua viagem inaugural entre Southampton e Nova York. Das mais de 2.200 pessoas a bordo, cerca de 1.500 morreram, a maioria por hipotermia nas águas geladas do oceano Atlântico.

Construído para ser o navio mais moderno e luxuoso da sua época, o Titanic foi equipado com compartimentos estanques que eram considerados suficientes para evitar que ele afundasse. Ironicamente, este excesso de confiança levou à escassez de botes salva-vidas: havia capacidade para apenas cerca de 1.170 pessoas.
O naufrágio foi descoberto em 1985 a uma profundidade de 3.800 metros. Desde então, tem sido tema de várias expedições, documentários e filmes.