Quando é provável que o mundo ultrapasse os 1,5 ºC? Uma análise de um especialista revela na Carbon Brief
Temperaturas globais em 2023 batem recordes e aquecem o planeta a um ritmo alarmante, colocando o mundo na rota para ultrapassar o limite crucial de 1,5 ºC do Acordo de Paris antes do que se previa. Uma análise recente da Carbon Brief indica quando ocorrerá.
As temperaturas globais em 2023 ultrapassaram as expectativas, tornando-se o ano mais quente já registado, chegando mesmo a 1,5 ºC num dos principais conjuntos de dados. Este calor tem vindo a manter-se em 2024, o que significa que este ano também está a caminho de potencialmente ultrapassar 1,5 ºC num ou mais conjuntos de dados. A ultrapassagem de 1,5 ºC num ou mesmo em dois anos não é o mesmo que exceder o limite de 1,5 ºC definido pelo Acordo de Paris.
Tendo em consideração a possibilidade de excedermos mais cedo o limite do Acordo de Paris, a Carbon Brief realizou uma análise sobre quando irá exceder o limite de 1,5 ºC. As evidências mostram que, embora a melhor estimativa para ultrapassar 1,5 ºC tenha subido em dois anos em comparação com a análise anterior da Carbon Brief de 2020, o mais provável é que isso aconteça no final da década de 2020 ou início de 2030, ao invés dos próximos anos.
As metas de temperatura e o aquecimento do planeta nas próximas décadas
As emissões humanas de CO2 e outros Gases com Efeito de Estufa (GEE) aqueceram substancialmente o planeta nos últimos 150 anos. Além deste aquecimento induzido pelo Homem, existe uma variabilidade natural ano a ano, associada aos eventos El Niño e La Niña. Um evento El Niño ou La Niña pode resultar numa anomalia positiva ou negativa de temperaturas globais até 0,2 ºC, respetivamente.
Com o aquecimento de 0,2 ºC por década, um evento El Niño pode antecipar os valores de temperaturas globais típicas dentro de uma década. Ou, para colocar de outra forma, as emissões humanas estão a adicionar o equivalente a um "super El Niño" permanente ao sistema climático a cada década.
No Acordo de Paris de 2015, a comunidade internacional concordou em limitar o aquecimento a menos de 2 ºC acima dos níveis pré-industriais e limitar o aumento a 1,5 ºC.
Embora seja uma abordagem útil, esta definição tem o infeliz efeito colateral de que os cientistas não saberão ao certo se o mundo ultrapassou 1,5 ºC até 10 anos depois de se ter verificado. Isto levou a comunidade a propor uma série de abordagens alternativas, como a análise de 2020 da Carbon Brief e um comentário de 2023 na Nature pelo Prof. Richard Betts e colaboradores do UK Met Office.
Uma abordagem atualizada para determinar a data em que ultrapassa 1,5 ºC
A Carbon Brief revela uma atualização à análise de 2020, para avaliar quando o mundo provavelmente ultrapassará o limite de 1,5 ºC em diferentes conjuntos de dados de temperatura da superfície. Embora a média de 20 anos do IPCC seja uma abordagem para remover a variabilidade de curto prazo, patenteia a desvantagem de não poder ser estendida até aos dias atuais.
Uma abordagem alternativa é uma média ponderada usando uma regressão local (LOWESS). O LOWESS, identificado na CarbonBrief, apresenta um valor estimado em cada ponto no tempo com base na ponderação onde os pontos próximos recebem as ponderações mais altas e aqueles mais distantes recebem peso menor. É uma abordagem comum usada em análises de séries temporais que pode levar em conta as mudanças no comportamento dos dados ao longo do tempo, sem que seja linear.
Esta abordagem sugere que o mundo ultrapassará 1,5 ºC em 2030, com uma faixa que varia entre 2028 (5º percentil) e 2036 (95º percentil). Da mesma forma, segundo o modelo ultrapassará 2 ºC por volta do ano 2048, com uma faixa de 2040 a 2062 em todos os modelos avaliados.
Os resultados são semelhantes à análise de 2020 da Carbon Brief, embora a melhor estimativa de quando o mundo ultrapassará 1,5 ºC tenha passado de 2032 para 2030. O 5º e o 95º percentil diminuíram para 2028-36 em comparação com 2026-42 na análise de 2020, mostrando o impacte de três anos adicionais de dados na redução da propagação do modelo resultante.