Qual é a melhor forma de reduzir o consumo de água? Estudo compara o aumento das tarifas e a sensibilização ambiental

Um estudo recente comparou o impacte causado pelo aumento das tarifas de água e das medidas de sensibilização ambiental na redução do consumo doméstico. Os resultados indicam que os incentivos não económicos são os mais eficazes.

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Estudo publicado na revista Sustainable Cities and Society demonstra que incentivos não económicos conseguem reduzir o consumo de água, superando as alterações tarifárias.

A crise hídrica é um dos grandes desafios do século XXI, impulsionada pelo crescimento populacional, urbanização e alterações climáticas. Em resposta, os governos e entidades procuram formas de reduzir o consumo de água, sendo duas abordagens principais o aumento das tarifas e a sensibilização ambiental. Mas qual destas medidas é a mais eficaz?

Um estudo publicado na revista Sustainable Cities and Society utilizou Modelos Baseados em Agentes (ABM, na sigla em inglês) para simular o comportamento de consumidores urbanos em diferentes cenários. Foram analisadas quatro variantes de tarifas progressivas e um incentivo não económico baseado em sensibilização ambiental, onde os consumidores recebiam informação sobre o consumo médio dos seus vizinhos.

Podem, afinal, os incentivos ambientais e tarifários no consumo de água influenciar decisões?

Os resultados mostraram que os incentivos não económicos conseguiram reduzir o consumo de água entre 8,1% e 15,6%, superando a eficácia das alterações tarifárias. Foi identificado que os lares com rendimentos mais elevados tendem a ser menos sensíveis a aumentos de preço, mas são influenciados por mensagens que destacam o impacte ambiental do consumo excessivo.

Os investigadores explicam que a pouca elasticidade-preço da água explica estes resultados. Ou seja, como a água é essencial, muitos consumidores não reduzem significativamente o consumo mesmo com tarifas mais altas. Por outro lado, quando expostos a informações sobre o impacte ambiental e o consumo da comunidade onde estão envolvidos (como a freguesia), sentem-se mais motivados a adotar comportamentos sustentáveis.

consumo de água e comportamentos
A mudança dos comportamentos no consumo de água são maiores por efeito de grupo, do que individualmente. A exposição à informação do consumo da comunidade pode ajudar a diminuir o uso per capita deste recurso.

Além disso, o estudo analisou o impacte das variações de tarifas e dos incentivos em diferentes perfis de consumidores. Os agregados familiares com maior consciência ambiental reduziram, em média, 9,4% do consumo, enquanto aqueles motivados por razões económicas apresentaram uma diminuição inferior, de apenas 6,2%.

O impacte das políticas hídricas na equidade social e sustentabilidade

Os resultados também indicaram que os agregados familiares de rendimento mais baixo foram os menos afetados pelas medidas tarifárias, uma vez que já consomem água de forma mais eficiente devido a restrições financeiras. No entanto, a sensibilização ambiental teve um impacte positivo em todas as faixas de rendimento, sugerindo que este tipo de intervenção pode ser mais equitativo e eficaz na gestão da água.

Ainda assim, os investigadores alertam que a redução do consumo doméstico de água, embora importante, não resolve completamente o problema da escassez hídrica. Em algumas regiões, a maior parte da água é consumida pela agricultura e pela indústria, obrigando a soluções integradas como a reutilização de águas residuais tratadas e a dessalinização da água do mar.

Os resultados deste estudo contribuem com direções importantes para a gestão dos recursos hídricos. As políticas de sensibilização e envolvimento comunitário podem ser ferramentas mais eficazes do que simples aumentos tarifários. No entanto, uma abordagem combinada, incluindo possíveis tarifas ajustadas, incentivos não económicos e gestão integrada da oferta e da procura, parece ser a estratégia mais eficaz para garantir a segurança hídrica a longo prazo.

Referência da notícia

Vidal-Lamolla, P., Molinos-Senante, M., Oliva-Felipe, L., Alvarez-Napagao, S., Cortés, U., Martínez-Gomariz, E., ... & Poch, M. (2024). Assessing urban water demand-side management policies before their implementation: An agent-based model approach. Sustainable Cities and Society, 107, 105435. https://doi.org/10.1016/j.scs.2024.105435