Propagação de vírus na América Latina pode causar defeitos congénitos
Segundo um grupo de cientistas, um vírus em propagação na América Latina está a afetar os fetos que ainda se encontram no útero. Saiba mais aqui!
Cientistas brasileiros, segundo um artigo publicado na Science, alertaram para o facto de o vírus Oropouche, em ascensão na América do Sul e Central, poder causar nados-mortos e defeitos neurológicos em bebés infetados ainda no útero.
Este vírus ainda é pouco conhecido, no entanto o Ministério da Saúde do Brasil recomenda aos médicos que acompanhem de perto as mulheres grávidas infetadas.
Já foram reportados, até ao momento pelo Ministério da Saúde, quatro casos de microcefalia, ou seja, um tipo de desenvolvimento cerebral reduzido em recém-nascidos de mães infetadas e uma morte fetal que pode estar associada ao vírus.
Emissão de alerta epidemiológico
A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) pediu a outros países para ficarem atentos a casos semelhantes.
Estes surtos lembram os investigadores de problemas semelhantes durante surtos de Zika, uma doença transmitida por mosquitos, nas Américas.
Mais de 3500 casos de microcefalia infantil foram registados durante um enorme surto de Zika no Brasil em 2015 e 2016, quando cerca de 1,5 milhões de pessoas foram infetadas.
Mas quais os efeitos do vírus Oropouche?
O vírus Oropouche, que pode causar febre súbita, dor de cabeça, dores musculares e articulares, tonturas, náuseas e vómitos, é transmitido principalmente pelo Culicoides paraensis, um mosquito do tamanho de uma cabeça de alfinete que se encontra em todo o continente americano.
Os casos de febre de Oropouche aumentaram desde o final de 2022, sendo o Brasil o país mais atingido, com 7044 casos confirmados até agora.
A maioria dos casos é ligeiro, mas o vírus pode causar danos neurológicos em alguns pacientes.
De acordo com os resultados de uma amostra realizada pelos cientistas do Instituto Evandro Chagas, no Pará, foram identificados quatro bebés que nasceram com microcefalia e que apresentaram resultados positivos nos testes de anticorpos contra o Oropouche.
Os anticorpos foram encontrados no sangue e no líquido cefalorraquidiano, o que sugere que o vírus passou diretamente da mãe para o feto. Foi também identificado material genético do vírus Oropouche no cordão umbilical e em vários órgãos incluindo o cérebro, fígado, rins, pulmões, coração e baço de um feto que nasceu morto com 30 semanas de gestação.
O virologista Felipe Naveca, da Fundação Oswaldo Cruz Naveca, afirma que os parentes do vírus Oropouche, incluindo o vírus Akabane e o vírus Schmallenberg, são conhecidos por causar defeitos congénitos em vacas, ovelhas e cabras, incluindo quistos cerebrais e a ausência de regiões inteiras do cérebro, bem como nados-mortos.
A Bolívia, a Colômbia e o Peru também registaram aumentos nos casos de Oropouche, mas não comunicaram defeitos congénitos ou nados-mortos que possam estar relacionados.
Circulação livre do Oropouche
O vírus Oropouche circula naturalmente entre primatas, preguiças e aves na floresta amazónica. Os cientistas suspeitam que a desflorestação e as alterações climáticas estejam na origem da propagação.
Não existem fármacos nem vacinas para a Oropouche, desta forma o Ministério da Saúde do Brasil recomenda medidas preventivas, como evitar locais que possam abrigar muitos mosquitos, usar mosquiteiros, instalar telas de proteção contra insetos em portas e janelas e usar repelente de insetos.