Principal fonte da intensa atividade vulcânica na Islândia é descoberta por cientistas
Nos últimos anos, uma série de erupções vulcânicas têm ocorrido na Islândia, e cientistas identificaram a fonte principal que pode estar a alimentar essa atividade vulcânica. Veja mais detalhes.
Desde 2021, uma série de erupções vulcânicas tem vindo a ocorrer na Península de Reykjanes, na Islândia, o que está a perturbar a vida quotidiana na região, levando a evacuações, cortes de energia e danos às infraestruturas. A lava de erupções já incendiou casas e abriu fissuras no solo.
E investigadores da Universidade de Uppsala, na Suécia, identificaram a fonte principal que está a alimentar a atividade vulcânica na Península de Reykjanes: trata-se de uma mesma fonte subterrânea primária de magma. Além disso, eles sugerem que as erupções originadas nessa região podem continuar por anos ou até décadas. Estas descobertas foram publicadas num artigo na revista Terra Nova. Veja mais informações abaixo.
A fonte principal revelada: reservatório de magma
Os investigadores fizeram análises geoquímicas e geofísicas, e identificaram uma fonte subterrânea primária de magma, ou rocha fundida, a alimentar a atividade vulcânica na Península de Reykjanes, ou seja, várias erupções em locais diferentes a serem mantidas pela mesma fonte.
A análise geoquímica diz que o magma das erupções vem da mesma fonte, e a análise geofísica (tomografia sísmica) diz que há apenas um reservatório principal em profundidade. E usar estas duas metodologias juntas dá bastante força à previsão, segundo os autores.
As evidências do estudo apontam para o estabelecimento de um único reservatório de magma sob o vulcão Fagradalsfjall, e este reservatório pode então alimentar erupções em diferentes posições na Península de Reykjanes, dependendo das tensões que mudam na crosta.
Ou seja, as erupções são todas alimentadas por um reservatório de magma partilhado que fica de 9 a 12 quilómetros abaixo da superfície, em vez de diferentes fontes. Está diretamente abaixo do Fagradalsfjall, e isso parece ser a principal câmara de magma ou macro reservatório, abastecendo outros vulcões também, segundo os autores.
O grande número de vulcões ativos na Islândia deve-se ao facto de que a ilha está localizada exatamente numa fronteira entre placas tectónicas, criando fissuras que permitem a ascensão do magma.
As erupções podem continuar durante anos
Os investigadores também sugerem que as erupções originadas na Península de Reykjanes podem continuar durante anos ou até décadas. E a atividade vulcânica prolongada pode levar a mais interrupções e forçar a evacuação a longo prazo.
Por exemplo, a evacuação de Grindavík, uma cidade pesqueira com pouco mais de 3 mil habitantes, que abriga a maior atração turística do país: o spa geotérmico Blue Lagoon, e que tem vindo a ser afetada pelas últimas erupções.
“Acho que precisamos de preparar-nos para desistir de Grindavík. (...) Ainda pode sobreviver como um porto de pesca, com as pessoas a irem e a virem. Mas as pessoas ficarem lá, com a possibilidade de um início muito rápido de atividade vulcânica, acho que isso não é recomendável”, disse Valentin Troll, autor principal do estudo.
“Parece que estamos agora a testemunhar o início de um grande episódio de erupção. Isto é um fenómeno recorrente na península, com 800 anos de pausa ou calmaria, seguidos por 100 ou 200 anos de erupções intensas, seguidos por outro período de calmaria. Cientificamente, somos sortudos por poder observar isso, mas do ponto de vista social, não somos, porque isso acontece numa parte muito populosa do país com muita infraestrutura”, acrescentou ele.
Referência da notícia:
Troll, V. R. et al. The Fagradalsfjall and Sundhnúkur Fires of 2021–2024: A single magma reservoir under the Reykjanes Peninsula, Iceland?. Terra Nova, 2024.