Previsões do tempo a longo prazo: as melhorias já são percetíveis

A previsão meteorológica a longo prazo está a experimentar um salto de fiabilidade que começa a ser percetível, embora ainda esteja em fase de desenvolvimento. Tanto as previsões subsazonais como as sazonais são muito úteis para o planeamento de uma multitude de tarefas afetadas pelo comportamento atmosférico.

Padrões meteorológicos
Prever padrões meteorológicos a longo prazo é um dos grandes desafios da Meteorologia. Fonte: https://www.severe-weather.eu

O grande poder de cálculo dos supercomputadores permite-nos ter mais e melhores produtos de previsão a longo prazo. Embora ainda tenham muita margem para melhorias, foi dado um salto qualitativo em relação aos mapas de tendências que tínhamos há apenas alguns anos. O Centro Europeu de Previsão do Tempo a Médio Prazo está a apostar em grande - com muitos recursos, tanto técnicos como humanos - na melhoria das previsões do tempo para além dos 10 a 15 dias fornecidos pelos modelos meteorológicos convencionais, da circulação geral da atmosfera, cujo nível de confiança atingiu, de facto, um nível muito elevado.

Como são realizadas as previsões a longo prazo?

Uma crítica muito rude às projeções climáticas é a de como é que podemos confiar nelas - por exemplo, a temperatura que tivermos em 2100 - quando as previsões com apenas alguns dias de antecedência falham. Pensando em previsões mensais ou sazonais, a sua validade baseia-se no facto de o comportamento do clima não ser aleatório mas caótico, o que não é o mesmo. Este último implica que a evolução atmosférica tem um certo grau de previsibilidade. A partir do conhecimento (através de dados) de todos os fatores que estão a agir no clima da Terra a todo o momento, são elaborados modelos capazes de antecipar anomalias a longo prazo em variáveis de interesse como a temperatura ou a precipitação.

Há vários anos, quando os mapas de tendência trimestrais começaram a ser gerados, tinham como principais inputs de entrada a fase na qual estava o fenómeno da ENSO (neutra, El Niño ou La Niña), com base nos dados de temperatura da superfície da água do Pacífico tropical, devido à influência que exerce sobre longas distâncias (teleconexão) e à escala global, se bem que existem regiões terrestres onde o sinal não é muito forte, passando a dominar a elevada variabilidade meteorológica. Hoje em dia, os modelos utilizados são capazes de integrar uma multitude de outros dados e processos da atmosfera, os oceanos ou os gelos, o que resulta num maior nível de confiança nos produtos de previsão a longo prazo.

Fatores e processos na atmosfera
Esquema com alguns processos e sistemas meteorológicos que são tidos em conta na modelização à escala subsazonal e sazonal por parte do Grupo de Trabalho de Previsão S2S da NOAA. Fonte: © NOAA

Recorre-se também a uma multitude de parâmetros estatísticos, é realizada uma comparação com situações meteorológicas do passado, com base em reanálises, e são executadas técnicas probabilísticas, gerando conjuntos de previsões a partir de estados de inicialização do modelo ligeiramente perturbados. Como se tudo isto não fosse suficiente, os modelos são postos à prova através da simulação de situações do passando, corroborando desta maneira a sua bondade do ajuste. Hoje em dia, os supercomputadores permitem a implementação de todas estas operações, de grande complexidade físico-matemática, obtendo no final um conjunto de produtos de previsão a longo prazo, que em muitos casos (nem sempre) oferecem um valor acrescentado sobre o que se espera da climatologia.

A utilidade das previsões sazonais

O planeamento de todo o tipo de atividades, como a agricultura, a gestão dos recursos hídricos, a indústria, o turismo, etc., tem nas previsões sazonais uma poderosa ferramenta de trabalho que, embora ainda estejam em fase de desenvolvimento, já começa a mostrar resultados promissores numa área como a Europa, onde a variabilidade do comportamento atmosférico é elevada. Em períodos de seca como o que se agravou em Portugal no início de 2022, é de particular interesse consultar as previsões semanais, mensais e sazonais, a fim de poder antecipar uma mudança duradoura ou não do padrão meteorológico dominante.

Previsão sazonal do ECMWF
Mapa de previsão probabilística das anomalias de precipitação em relação ao período 1993-2016 para o trimestre Abril-Maio-Junho de 2022, gerado pelo modelo do Centro Europeu. Fonte: © ECMWF

Quando, em meados de janeiro, a seca começou a ser notícia e começámos a falar dela, as previsões a longo prazo mostravam com um forte sinal como as anomalias negativas de precipitação continuariam para o que restava de janeiro, em fevereiro e também em março, o que não convidava ao otimismo. Até à terceira semana de fevereiro (um mês que foi extremamente seco em Portugal continental) as previsões a longo prazo não vacilaram e permaneceram firmes nas suas tendências, mas no final desse mês, começaram a dar sinais de mudança. As anomalias húmidas começaram a aparecer nos mapas, paralelamente a uma quebra do anticiclone de bloqueio que nos acompanhava desde o início do ano.

Com uma atmosfera mais dinâmica a coincidir com a chegada da primavera meteorológica, a previsibilidade a longo prazo é menor que há algumas semanas, quando as altas pressões predominavam.

Neste momento, com o tipo de tempo que passou a dominar o cenário meteorológico, a previsibilidade a longo prazo é muito menor do que quando o anticiclone permanecia quase inamovível, embora o Centro Europeu continue a mostrar anomalias de precipitação negativas para os meses de abril, maio e junho, o que, a confirmar-se, iria mais uma vez agravar a seca, apesar da chuva e queda de neve que está agora a ocorrer em março. É uma boa oportunidade para verificar a fiabilidade das previsões a longo prazo, cujo nível de confiança é cada vez maior.