Previsão de seca devastadora no sudoeste dos EUA e norte do México

Com o oeste dos Estados Unidos e o norte do México a sofrerem desde 2000 uma série cada vez maior de anos de seca, os cientistas alertam há algum tempo que a mudança climática pode estar a provocar na região uma situação de seca extrema, pior do que qualquer outra registada na história.

Seca
A seca é um dos fenómenos com mais implicações a médio e longo prazo.

Um novo estudo publicado na revista Science aponta para que possa estar em andamento uma situação de seca devastadora tão adversa ou pior do que qualquer outra conhecida da pré-históricas.

Observações climáticas e estimativas do passado

O estudo realizado recentemente pelo Observatório Terrestre Lamont-Doherty da Universidade de Columbia foi baseado em observações climáticas modernas, 1.200 anos de dados de anéis de árvores, que permitem avaliar o clima no passado e dezenas de modelos climáticos. Observações modernas e fiáveis datam apenas de há cerca de 1900 anos, mas anéis de árvores permitiram aos cientistas inferir a humidade anual do solo por séculos antes dos humanos começarem a influenciar o clima.

Há observações suficientes da atual seca e de registos de anéis de árvores da seca passada para afirmar que estamos na mesma direção das piores secas pré-históricas

Entre outros aspetos, pesquisas anteriores vincularam secas catastróficas naturalmente registadas em anéis de árvores no período das civilizações indígenas da era medieval no sudoeste dos EUA. O novo estudo é uma análise de longo prazo mais atualizada e abrangente. Abrange uma área que se estende por nove estados dos EUA, de Oregon e Montana, passando pela Califórnia e Novo México e parte do norte do México.

De acordo com o principal autor, Park Williams, bioclimatologista do Observatório Terrestre Lamont-Doherty da Universidade de Columbia, "Os estudos anteriores foram em grande parte projeções de um modelo do futuro, mas neste momento não estamos mais a analisar olhando para projeções, mas para a situação atual. Agora temos observações suficientes da seca atual e registos de anéis de árvores da seca passada para dizer que estamos na mesma trajetória das piores secas pré-históricas.

Anéis de árvores
Os anéis de árvores permitem aos cientistas inferir a humidade anual do solo por séculos.

Usando anéis de milhares de árvores, os investigadores mapearam dezenas de secas em toda a região do sudoeste americano e norte do México, começando em 800 d.C. Destacam-se quatro grandes secas, as chamadas “megasecas” (“megadroughts”), com extrema aridez que duraram décadas: finais dos anos 800, meados dos anos 1100, 1200 e finais de 1500 e as secas depois de 1600, que ocorreram a menor escala.

A equipa então comparou as “megasecas” antigas com os registos de humidade do solo calculados a partir das condições meteorológicas observadas nos 19 anos entre 2000 e 2018.

Comparando os registos mais recentes com os piores 19 anos dos episódios anteriores, a seca atual já está a superar as três primeiras secas mais gravosas. Além disso, a atual seca está a afetar áreas mais amplas de maneira mais consistente do que as anteriores.

Segundo os investigadores, trata-se de uma impressão digital do aquecimento global. Todas as secas antigas duraram mais de 19 anos. A que começou nos anos 1200 durou quase um século, mas todas começaram um caminho semelhante ao que está a aparecer agora.

Prováveis causas de situação atual

Um estudo realizado no ano passado, liderado por Nathan Steiger, também do Observatório Terrestre Lamont-Doherty, mostrou que, entre outras coisas, condições periódicas extraordinariamente frias sobre o Oceano Pacífico tropical (situação chamada La Niña) durante as secas anteriores provocaram deslocamentos das tempestades mais para o norte e deixaram a região sem precipitação.

Tais condições, e possivelmente outros fatores naturais, parecem também ter reduzido a precipitação nos últimos anos. Um dos fatores decisivos tem sido o aquecimento global. Segundo os autores as temperaturas médias desde 2000 subiram em média na região cerca de 1,2 ºC. Como o ar mais quente tende a reter mais humidade, essa humidade está a ser retirada do solo, o que intensificou a secagem de solos já sem precipitação.