Preocupante! Em 2023, os glaciares sofreram a maior perda de massa registada em mais de 50 anos

Relatório da Organização Meteorológica Mundial releva dados preocupantes: 2023 foi o pior em perda de massa de glaciares em cinco décadas, o segundo maior ano de perda generalizada.

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O ano de 2023 mostrou ser o mais implacável em cinco décadas para os glaciares em redor do mundo.

O ano de 2023 foi marcado por um calor sem precedentes, tornando-se o mais quente alguma vez registado, superando em 1,45 °C os níveis pré-industriais. A transição das condições de La Niña para El Niño, bem como a fase positiva do Dípolo do Oceano Índico contribuíram para esse calor extremo e para diversos impactos climáticos que vão desde chuvas intensas, a cheias e inundações generalizadas e até secas severas e prolongadas.

Todo este calor contribuiu em larga medida para um stress severo nos suprimentos globais de água, destaca o State of Global Water Resources 2023. O relatório destaca os cinco anos consecutivos de fluxos de rios e influxos de reservatórios abaixo do normal. Essa escassez está a afetar comunidades, agricultura e ecossistemas.

Os glaciares experimentaram a sua maior perda de massa nos últimos 50 anos, com 2023 a revelar-se o segundo maior ano de perda generalizada de gelo globalmente.

O relatório dá conta de que em 2023, os glaciares perderam mais de 600 gigatoneladas (Gt) de água, a maior perda de massa registada nas últimas cinco décadas. Após 2022, 2023 é o segundo ano consecutivo em que todas as regiões glaciais do mundo relataram perda de gelo.

A perda de massa observada no verão nos últimos anos indica que os glaciares na Europa, Escandinávia, Cáucaso, noroeste do Canadá, oeste do sul da Ásia e Nova Zelândia passaram do "pico de água" (o limite do escoamento máximo devido ao derretimento), enquanto os Andes do sul, o Ártico russo e Svalbard parecem ainda apresentar taxas de derretimento crescentes.

O balanço anual de massa de um glaciar é definido pela diferença entre a acumulação de neve no inverno (ganho de massa) e o derretimento do verão (perda de massa), reflete as condições atmosféricas e serve como um indicador-chave para o entendimento das alterações climáticas.

A perda líquida global de massa de um glaciar contribui para o aumento do nível do mar. O derretimento sazonal de gelo e neve contribui para o escoamento. Portanto, os glaciares contribuem para o escoamento sazonal mesmo em anos com condições equilibradas ou balanço anual de massa positivo.

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O desparecimento dos glaciares tem consequências globais preocupantes a curto, médio e longo prazo.

Consequências de uma triste realidade

Os glaciares desempenham um papel crucial durante meses específicos, especialmente em regiões áridas e semiáridas. Aqui, a libertação tardia de água derretida ajuda a sustentar os fluxos dos rios durante os meses mais secos e em períodos de seca.

À medida que os glaciares respondem ao aquecimento, o seu escoamento inicialmente aumenta, atingindo um ponto de “pico de água”, após o qual diminui à medida que os volumes também diminuem. Se as temperaturas continuarem a aumentar, os glaciares tenderão a desaparecer e, consequentemente a sua contribuição hidrológica.

Essa tendência é esperada globalmente, com reduções significativas no escoamento dos glaciares até o final do século, particularmente na Ásia Central e nos Andes, onde estes fornecem mais de 50% do escoamento da bacia, constata o relatório.

Em 2023, os glaciares perderam mais de 600 Gt de água, a maior perda de massa registada nas últimas cinco décadas, cerca de 100 Gt a mais do que em qualquer outro ano registado desde 1976. Isto equivale a 1,7 mm de contribuição para o aumento global do nível médio do mar.

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Relatório da Organização Meteorológica Mundial revela dados alarmantes sobre o estado dos glaciares a nível global.

Tendências regionais

Os balanços regionais de massa de inverno e verão são utilizados como indicadores que podem fornecer uma compreensão da evolução e do impacto da contribuição dos glaciares para o escoamento.

Durante as décadas de 1970 e 1980, os glaciares em muitas regiões estavam próximos do equilíbrio ou tinham condições ligeiramente negativas, com anos alternados de balanços positivos e negativos.

Mas desde a década de 1990 que a perda de gelo vem a aumentar em quase todas as regiões e, após 2000, acelerou consideravelmente. Isso deve-se principalmente às regiões que consistentemente apresentam maior degelo no verão do que acumulação no inverno após a década de 1990.

Na maioria das regiões dominadas por pequenos glaciares, o “pico de água” já foi atingido ou espera-se que ocorra nas próximas décadas. As tendências de equilíbrio de verão ligeiramente reduzidas observadas na Europa Central, Escandinávia, Cáucaso e Médio Oriente, Canadá Ártico Norte, Sul da Ásia Oeste e Nova Zelândia nos últimos anos podem indicar que essas regiões passaram pelas condições de “pico de água”.

Em contraste, os Andes do Sul (dominados pela região da Patagónia) e o Ártico Russo, bem como Svalbard e Jan Mayen, parecem apresentar taxas de derretimento que ainda estão a crescer ligeiramente.

Na Ásia Central, aproximadamente 28.000 glaciares nas montanhas Tien Shan e Pamir servem como fontes vitais de água doce, ao fornecer água de degelo essencial para uso agrícola, doméstico e industrial nas planícies densamente povoadas. No entanto, ao longo dos anos, a maioria dos glaciares na Ásia Central mostrou uma tendência negativa no balanço de massa.


Referência da notícia:

WMO (2024). State of Global Water Resources 2023.