Portugal na vanguarda da ciência: investigadores usam alternativas aos antibióticos para combater bactérias resistentes
Investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) estão a apostar numa alternativa aos antibióticos para combater bactérias multirresistentes. Descubra aqui qual!
A bactéria Listeria monocytogenes, um agente patogénico de origem alimentar, é a responsável pelo maior número de casos de hospitalização e mortes na Europa, de acordo com informação avançada pelo i3S.
“Atualmente, assistimos ao aparecimento não só de novos agentes patogénicos, mas também de novas estirpes bacterianas com propriedades de virulência reforçadas e maior resistência aos antibióticos”, profere o instituto.
Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE)
Os investigadores do i3S que têm estudado afincadamente a Listeria descobriram a presença de um açúcar na superfície da bactéria que a torna “mais agressiva e mais resistente aos antibióticos”.
A presença deste açúcar deve-se exclusivamente a uma proteína designada RmlT
“A proteína RmlT tem um impacto significativo na virulência bacteriana e na resistência antimicrobiana, já que é ela quem transfere o açúcar para as estruturas da superfície da bactéria, simultaneamente colocando fatores de virulência na parede bacteriana e impedindo o antibiótico de atuar eficazmente”, explica, citado no comunicado, o investigador principal do estudo, Didier Cabanes.
A fim de compreenderem o mecanismo da proteína no agente patogénico, os cientistas geraram uma “bactéria mutante sem o açúcar” e puderam verificar que ela ficou menos virulenta.
“Além disso, os antibióticos mostraram-se mais eficazes contra este mutante”, acrescentou Ricardo Monteiro, primeiro autor deste artigo científico.
Tendo isto em conta, os investigadores estão agora a encetar esforços no sentido de realizar testes com uma droga que “não mate a Listeria, mas que consiga inibir a proteína RmlT tornando a bactéria menos virulenta e mais sensível aos antibióticos”.
O objetivo não é eliminar a Listeria, “mas sim torná-la mais fraca para depois os antibióticos serem mais eficazes”
“Uma vez que a RmlT é muito similar a outras proteínas existentes em bactérias patogénicas que normalmente são multirresistentes e muito graves em ambiente hospitalar, como os Staphylococcus, a droga em que estamos a trabalhar poderá ser adaptada para combater outras superbactérias”, realça Didier Cabanes.
A descoberta, publicada na revista Nature Communications, “abre caminho para o tratamento de bactérias patogénicas multirresistentes”, assinala o i3S.
Referências da notícia
Monteiro, R., Cereija, T.B., Pombinho, R. et al. Molecular properties of the RmlT wall teichoic acid rhamnosyltransferase that modulates virulence in Listeria monocytogenes. Nature Communications. (2025).
Agência Lusa. Investigadores estudam alternativa a antibióticos para combater bactérias multirresistentes. Observador. (2025).
Listeria monocytogenes. Autoridade de Segurança Alimentar e Económica. (2025).