Porque será que a perceção de tempo é diferente nas crianças?

De acordo com alguns estudos, a perceção do tempo nas crianças é relativamente pouco estudada, no entanto aprender a ver o tempo através dos seus olhos pode ser fundamental para uma experiência humana mais feliz.

Perceção do tempo
As dimensões de tempo têm uma importância significativa na compreensão de crianças quanto aos seus próprios processos de desenvolvimento. Fonte: Fato360

Teresa McCormack, professora de psicologia na Queen's University Belfast, na Irlanda do Norte, acredita que as crianças e o tempo são um tema muito pouco estudado.

Segundo um artigo publicado na BBC, o seu trabalho há muito que investiga se existe algo diferente nos processos temporais das crianças, como um relógio interno que funciona a uma velocidade diferente da dos adultos.

A psicóloga explica que, embora não haja uma noção clara de quando é que as crianças aprendem a noção de tempo linear, sabe-se que, desde relativamente cedo no desenvolvimento, as crianças parecem ser sensíveis a acontecimentos de rotina, como a hora das refeições e a hora de dormir.

Ao contrário das crianças, os adultos têm a capacidade de pensar em pontos no tempo independentemente do momento em que um evento ocorre, devido ao seu conhecimento do sistema convencional de relógio e calendário.

“Leva tempo até que as crianças se tornem utilizadores completamente competentes da linguagem temporal, utilizando termos como antes, depois, amanhã e ontem”,

Teresa McCormack.

Estudos revelaram que a avaliação da duração e da velocidade de uma passagem de tempo desenvolve-se separadamente nos seres humanos.

As crianças mais pequenas, com menos de seis anos, parecem ser capazes de perceber a rapidez com que passa uma aula numa sala de aula, por exemplo, mas o seu julgamento está mais ligado ao seu estado emocional do que à duração efetiva.

A questão da memória

Muitos estudos debruçam-se sobre a forma como a nossa experiência da passagem do tempo depende do modo como o nosso cérebro armazena as memórias e capta as experiências.

Este é um tema que há muito fascina Zoltán Nádasdy, professor associado de psicologia na Universidade Eötvös Loránd, em Budapeste, que em 1987, realizou um estudo de campo sobre a perceção do tempo em crianças e adultos.

Mostraram a grupos de crianças e adultos dois vídeos, ambos com um minuto de duração, e perguntaram-lhes qual o vídeo que parecia mais longo e qual o que parecia mais curto.

Passadas mais de três décadas, Nádasdy e a sua equipa decidiram repetir a experiência. Um filme de ação de polícias e ladrões e um vídeo comparativamente monótono de pessoas a remar num rio foram mostrados a três grupos etários, antes de lhes ser pedido que classificassem a duração.

“As crianças de quatro a cinco anos consideraram o vídeo cheio de ação mais longo e o vídeo aborrecido mais curto. Para a maioria dos adultos, foi o contrário”.

Esclarece Nadasdy

A passagem do tempo na vida quotidiana não varia com a idade, mas com o estado emocional

A verdade é que são vários os psicólogos internacionais que acreditam que a perceção de tempo não varia com a idade mas sim com o estado emocional, ou seja, se estivermos mais felizes, o tempo passa mais depressa, caso contrário, se estivermos tristes, o tempo arrasta-se.

Tempo das crianças
A forma como percebemos o tempo pode não ser tangível, mas definitivamente é maleável, e ao incorporarmos novidades nas nossas vidas, podemos aproximar a nossa experiência adulta da riqueza temporal da infância. Fonte: Blog Universo

Um exemplo importante disto foi observado durante o confinamento, quando os investigadores encontraram um abrandamento da passagem do tempo associado ao facto de se estar mais stressado, ter menos coisas para fazer e ser mais velho.

Há também um grau de deterioração física à medida que envelhecemos que também pode afetar a nossa perceção do tempo, de acordo com Adrian Bejan, professor de engenharia mecânica na Universidade de Duke, em Durham, Carolina do Norte.

Tendo isso em conta, será possível para os adultos abrandar o tempo?

Outra coisa que acontece a muitos de nós é que à medida que envelhecemos começa haver uma rotina menos fluida e mais inflexível.

A investigação revelou então que quanto maior for a pressão do tempo, o tédio e a rotina na vida de uma pessoa, bem como quanto mais orientada para o futuro for uma pessoa, em contraste com a vivência do momento, mais rapidamente o tempo é vivido.

O que se está a fazer no presente é fundamental para a nossa compreensão do tempo, independentemente da nossa idade. Quando a nossa carga de trabalho mental aumenta, por exemplo, temos tendência a sentir um encurtamento do tempo, uma vez que subestimamos a duração de uma tarefa quanto mais exigente ela for.

Alguns estudos sugerem que o exercício físico pode ajudar a abrandar a nossa perceção do tempo, por isso, o simples facto de sermos mais ativos pode ajudar.