Porque é o gás radão um inimigo invisível da saúde pública?
O gás radão não tem cor, não tem cheiro, não se sente e não se move, e, no entanto, é uma das principais causas que podem conduzir ao cancro do pulmão em muitos países. Saiba mais pormenores aqui!
O radão (Rn) é um gás radioativo de origem natural, insípido, inodoro e incolor, formado pelo decaimento do urânio, que é um elemento instável, o que provoca a libertação de energia. Este gás emana de rochas e do solo e tende a concentrar-se em espaços fechados. Constitui a maior fonte de exposição à radiação ionizante da população mundial e está classificado pela Agência Internacional para a Investigação do Cancro como um agente carcinogénico do Grupo 1.
O radão está associado sobretudo às construções de origem granítica. Em Portugal, é sobretudo encontrado nos distritos de Braga, Vila Real, Porto, Guarda, Viseu e Castelo Branco. Essas áreas podem ser consultadas no mapa de suscetibilidade ao radão.
Ao ar livre, as concentrações de gás radão são muito baixas e geralmente não representam qualquer ameaça à nossa saúde, mas em espaços fechados podem representar um sério perigo. A sua concentração no interior dos edifícios depende principalmente das características geogénicas, do tipo de construção e do uso do edifício.
A exposição ao gás radão
A exposição prolongada ao radão no interior de edifícios é a segunda causa de cancro do pulmão, depois do tabaco, e a primeira causa em não-fumadores. A inalação de radão é a maior fonte de exposição à radiação ionizante da população mundial, contribuindo com mais de 40% para a dose efetiva.
O radão produz partículas radioativas no ar que respiramos. Essas partículas ficam retidas nas nossas vias respiratórias e aí emitem radiação, provocando lesões nos pulmões. Estas lesões aumentam o risco de cancro do pulmão para exposições prolongadas no tempo. Quanto mais prolongada é a exposição ao radão, maior é o risco de desenvolver cancro do pulmão
A OMS estima que a exposição ao radão seja responsável por causar entre 3 a 14% dos cancros do pulmão a nível mundial. Em toda a Europa, estima-se que 9% das mortes por cancro do pulmão se devam à exposição a este gás radioativo, representando cerca de 2% de todas as mortes por cancro.
O radão é uma das causas do cancro do pulmão
O cancro do pulmão mata milhões de pessoas todos os anos. Fumo, radão e fumo passivo são as principais causas de cancro do pulmão. Fumar é a principal causa deste tipo de cancro. O tabagismo causa cerca de 160.000 mortes por cancro nos Estados Unidos a cada ano (American Cancer Society, 2004).
O radão é a segunda principal causa. O radão é a causa número um de cancro do pulmão entre não fumadores, de acordo com estimativas da United States Environmental Protection Agency (EPA). Este gás é responsável por cerca de 21.000 mortes por cancro do pulmão a cada ano, nos Estados Unidos.
O fumo passivo é a terceira principal causa de cancro do pulmão e responsável por cerca de 3.000 mortes por este tipo de enfermidade a cada ano, nos Estados Unidos. Para os fumadores, o risco de cancro do pulmão é significativo devido aos efeitos cumulativos do radão e das substâncias do tabaco.
Segundo a EPA, cerca de 62 pessoas em cada 1.000 morrerão de cancro do pulmão, em comparação com 7,3 pessoas em cada 1.000 para aqueles que nunca fumaram em toda a sua vida. Uma pessoa que nunca tenha fumado e que seja exposta a 1,3 pCi/L tem uma chance de 2 em 1.000 de cancro do pulmão, enquanto um fumador tem 20 em 1.000 hipóteses de morrer dessa doença.
Dois estudos mostram evidências definitivas da associação entre a exposição ao radão nas nossas casas e o cancro do pulmão. Um estudo norte-americano e um outro estudo europeu, combinaram dados de vários estudos anteriores e foram um passo além das descobertas anteriores, confirmando os riscos para a saúde do radão previstos por estudos realizados a mineiros subterrâneos que respiraram radão durante anos.
No início do debate sobre os riscos relacionados ao radão, alguns investigadores questionaram se os estudos efetuados em contexto laboral poderiam ser utilizados para calcular os riscos da exposição ao radão em ambiente doméstico, mas para Tom Kelly, ex-diretor da Divisão de Ambientes Internos da EPA, “essas descobertas acabam efetivamente com quaisquer dúvidas sobre os riscos para os americanos de ter radão nas suas casas (...) sabemos que o radão é cancerígeno. Este estudo confirma que respirar baixos níveis de radão pode levar ao cancro do pulmão”.
O que diz a legislação em Portugal? Conheça o Plano Nacional para o Radão
Em Portugal existe, desde 2006, legislação referente à problemática da exposição ao radão que estabelece limites máximos para a sua concentração no ar interior de edifícios.
O Decreto-Lei n.º 108/2018, de 3 de dezembro que estabelece o regime jurídico de proteção radiológica, veio prover a criação de um instrumento capaz lidar de forma sustentada e eficaz com o problema do radão, ao impor a formalização de um Plano Nacional para o Radão (PNR) onde constem os requisitos e ações necessárias à efetiva redução dos riscos da exposição prolongada ao radão em habitações, edifícios abertos ao público e locais de trabalho.
Tendo como visão assegurar a proteção aos riscos da exposição ao radão e à redução dos seus efeitos na saúde, o PNR sustenta-se em três pilares de atuação: caracterizar as situações de exposição, reduzir o risco de exposição e comunicar.