Por que razão a mudança de hora prejudica a saúde de muitos portugueses?
A mudança para o horário de inverno provoca comemorações por uma hora extra de sono, mas especialistas alertam para os possíveis impactes na saúde dos portugueses. Saiba mais aqui!
Os relógios estão prestes a dar um salto no tempo, marcando o início do horário de inverno. É já no final do mês de outubro que se verifica a mudança de hora. Impressionante é o aumento do número de pesquisas de palavras como saúde, mudança de hora e inverno que estão a suceder-se nos motores de busca da Google desde o final do mês de setembro.
Enquanto muitos comemoram a perspetiva de uma hora extra de sono, os especialistas advertem sobre os possíveis impactes na saúde que a mudança de horário pode trazer. Aqui procuramos explorar alguns dos efeitos da mudança de horário na saúde e as estratégias para minimizá-los, com base em evidências de estudos científicos.
Os ritmos biológicos e a importância do relógio interno
A mudança de horário pode parecer um evento trivial, mas a sua influência no bem-estar humano é muito significativa. Desde logo, a alteração do relógio pode afetar tanto as funções físicas quanto as cognitivas e emocionais.
Alguns estudos experimentais indicam que o adiantamento do relógio, que ocorre no horário de verão, pode ter um impacto particularmente sério na função cardiovascular e metabólica, aumentando o risco de descompensações nestes sistemas. Um estudo publicado na revista JAMA Neurology aponta várias evidências em que relacionaram a transição anual para o horário de verão ao aumento de derrames, ataques cardíacos e privação de sono de adolescentes.
Por outro lado, atrasar os relógios, como no horário de inverno, tende a afetar mais as funções cognitivas e emocionais, especialmente porque coincide com a redução da luz natural durante o inverno. Ademais, em alguns casos, pode originar distúrbios de humor e maiores dificuldades de concentração.
É importante reter que os nossos corpos têm relógios biológicos internos que regulam uma série de funções, desde o sono até à digestão. Estes relógios são altamente sensíveis à luz e ao tempo, e qualquer alteração na hora pode desregular os seus ritmos.
Normalmente, a mudança de uma hora pode levar até dois dias para que o corpo se consiga adaptar, mas as respostas individuais variam. Alguns podem levar semanas ou meses para se ajustar, enquanto outros podem nunca se adaptar completamente.
Diante destes desafios, a Associação Portuguesa do Sono (APS) oferece orientações para minimizar os impactes da mudança de horário na saúde. Antes da transição, a APS sugere manter as rotinas habituais de sono e ajustar gradualmente o horário de deitar para as crianças ou adultos que têm maior dificuldade de adaptação.
Após a mudança horária, a manutenção de bons hábitos de sono é crucial, incluindo a limitação das sestas e a exposição à luz natural durante a manhã.
Evitar-se também a exposição à luz de dispositivos eletrónicos ao início da noite também será muito importante.
Mudança de horário: uma questão de saúde pública?
A discussão sobre a mudança de horário vai além do âmbito individual. Repare-se que, por esta altura, há um incremento significativo das pesquisas nos motores de busca com palavras como “Saúde”, “Mudança de hora”, “Verão”, “outubro”, “Horário de inverno” e “Inverno”, o que demonstra a preocupação dos indivíduos com esta questão e a ansiedade em que estão envolvidos graças à mudança repentina dos horários e ritmos de vida.
Alguns autores são a favor da adoção permanente do horário de inverno, citando várias vantagens potenciais, como uma melhor saúde mental, a redução do risco de doenças físicas, o menor risco de acidentes e mesmo o melhor desempenho escolar e profissional.
A base desta argumentação reside na ideia de que o horário de inverno se alinha melhor com os ritmos biológicos naturais, proporcionando uma maior quantidade de luz natural de manhã, o que pode ter benefícios significativos para a saúde e o bem-estar.
Além dos impactes na saúde, é importante lembrar que o horário de verão não alcançou o objetivo original de economizar energia. Em vez disso, trouxe desafios relacionados à privação de sono e ao desalinhamento circadiano.
Afirme-se, pois, que as questões relacionadas com a mudança de horário têm feito parte de uma acesa discussão internacional, sendo que uma boa parte da literatura sobre o assunto apoia esta transição, utilizando o argumento de que o tempo padrão está mais alinhado com os ritmos naturais do corpo.