Poluição do ar pode aumentar o risco de batimentos cardíacos irregulares
Estudo publicado no Canadian Medical Association Journal avaliou perto de 200 mil internamentos em hospitais chineses e revela que a exposição aguda à poluição do ar aumenta o risco de arritmias cardíacas. Veja os pormenores aqui!
A poluição do ar é um problema ambiental sério de grande risco para a saúde pública. A exposição a curto e longo prazo a poluentes atmosféricos tem sido associada a impactos vários na saúde, especialmente a doenças cardíacas.
A fibrilação atrial e o flutter atrial, condições comuns de batimentos cardíacos irregulares, conhecidas como arritmias, são doenças cardíacas que afetam milhões de pessoas em todo o mundo.
As arritmias cardíacas podem aumentar o risco de outras doenças do coração. Estas são causadas por atividades elétricas desordenadas no coração, que muitas vezes ocorrem de forma abrupta e podem levar a doenças cardiovasculares graves, como insuficiência cardíaca, enfarte agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e mesmo a morte.
Ligação entre poluição e doenças cardíacas
As evidências que ligavam a poluição atmosférica a estes tipos de arritmias eram até agora inconsistentes. Um novo estudo publicado no Canadian Medical Association Journal (CMJA) descobriu que, efetivamente, existe uma associação entre a poluição do ar e o aumento do risco destas condições de saúde.
A investigação baseou-se em perto de 200 mil internamentos hospitalares na China e encontrou um aumento significativo no risco de arritmias nas primeiras horas após um aumento nos níveis de poluição do ar.
Os investigadores chineses avaliaram a exposição horária à poluição do ar e o aparecimento súbito de sintomas de arritmias, ao utilizar dados de 2.025 hospitais em 322 cidades chinesas.
A poluição do ar na China encontra-se consideravelmente acima das diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a qualidade do ar, e os investigadores analisaram as concentrações de seis poluentes atmosféricos de estações de monitorização mais próximas aos hospitais de referência.
Destes, o dióxido de nitrogénio (NO2) teve a associação mais forte com todos os tipos de arritmia e conclui-se que quanto maior a exposição ao NO2, mais forte a associação com batimentos cardíacos irregulares. O impacto exato da poluição do ar não é claro, mas há algumas evidências de que esta causa stress oxidativo e inflamação, que podem afetar a atividade elétrica do coração.
As relações exposição-resposta foram, em geral, aproximadamente lineares sem limiares discerníveis de concentrações de poluentes atmosféricos, mas a magnitude variou por tipo de poluente atmosférico, subtipo de arritmia, subpopulação e características geográficas ou sazonais.
O estudo encontrou uma ligação entre a exposição aguda à poluição do ar e um risco aumentado de arritmia sintomática. Verificou-se que o risco ocorre dentro de algumas horas após a exposição e pode persistir por até 24 horas. Dos 190.115 pacientes analisados, a exposição à poluição do ar foi mais fortemente ligada ao flutter atrial e à taquicardia supraventricular, seguida de fibrilação atrial e batimentos prematuros.
A exposição à poluição
A OMS estima que nove em cada dez pessoas respirem ar poluído, em todo o mundo, devido à exposição a partículas finas em suspensão no ar, causando doenças como acidentes vasculares cerebrais, doenças cardíacas, doenças pulmonares obstrutivas crónicas, infeções respiratórias e cancro do pulmão.
As descobertas agora publicadas destacam a importância de reduzir ainda mais a poluição do ar e a necessidade de proteger os grupos populacionais de risco da poluição atmosférica ao reduzir a exposição geral nos períodos de maior presença de níveis elevados de poluentes atmosféricos.
Esta nova compreensão pode abrir caminhos para a prevenção destas doenças, bem como fornecer mais um argumento a favor de iniciativas que tratem da qualidade do ar como prioridade para a saúde pública, e para exigir aos sucessivos governos e à sociedade civil organizada que tomem medidas para reduzir a poluição atmosférica e melhorar a qualidade do ar.