Poluição do ar e cancro do pulmão, um problema sério

Nove em cada dez pessoas respiram ar poluído. Sete milhões de mortes prematuras no mundo. A poluição do ar é um grave problema e um estudo recente aponta para a sua relação com o cancro do pulmão.

poluição do ar; cancro do pulmão;
A exposição a altos níveis de poluição do ar aumenta seriamente o risco para a saúde.

A poluição do ar é um problema ambiental sério de grande risco para a saúde pública. A exposição a curto e longo prazo a poluentes atmosféricos tem sido associada a impactos vários na saúde.

Impactos mais graves afetam indivíduos que estão já debilitados no seu estado de saúde, com doenças pré-existentes, e grupos de risco. Crianças, idosos e pessoas economicamente mais vulneráveis encontram-se entre as populações mais sensíveis aos impactos da poluição.

Os efeitos da poluição do ar na saúde são, de facto, muito graves. Um terço das mortes associadas ao cancro do pulmão e a doenças cardíacas e coronárias são fruto da poluição do ar, diz a Organização Mundial de Saúde (OMS). A mesma OMS estima que a poluição atmosférica seja responsável por sete milhões de mortes prematuras no mundo, por ano, especialmente em países menos desenvolvidos.

Efetivamente, há fortes evidências que ligam um status socioeconómico mais baixo ao aumento da exposição à poluição da atmosfera. Na Europa, as regiões caracterizadas por um PIB per capita mais baixo apresentam níveis mais altos de PM 2,5 e tendem a ocorrer no leste e sudeste da Europa (Agência Europeia do Ambiente (EEA)).

A verdade é que é difícil escapar à poluição do ar, não importa, efetivamente, quão mais desenvolvido seja o território em que vivemos. Ela está ao nosso redor, por onde quer que nos movamos. Poluentes microscópicos em suspensão no ar podem passar pelas defesas do nosso corpo, penetrar no nosso sistema respiratório e circulatório, danificar os nossos pulmões, o coração e até o cérebro.

Um estudo recente publicado na revista Nature sugere que o PM2,5 (um poluente microscópico) pode atuar como um promotor tumoral e agravar ainda mais as mutações cancerígenas existentes. O estudo aponta para uma forte relação entre as vítimas de cancro do pulmão, sem histórico associado ao tabagismo, e a poluição por PM2,5.

youtube video id=GVBeY1jSG9Y

Os autores descobriram que o PM2,5 parece desencadear um influxo de células imunes e a libertação de interleucina-1β (uma molécula sinalizadora pró-inflamatória) nas células pulmonares. Foi observado que isso exacerba a inflamação e impulsiona ainda mais a progressão do tumor em dois dos genes mais comumente mutados no cancro do pulmão: o EGFR e o KRAS.

Esta observação partiu da análise de 32 957 indivíduos com cancro do pulmão da mutação EGFR em quatro países (Inglaterra, Taiwan, Coreia do Sul e Canadá).

O estudo conclui que a poluição do ar por partículas finas pode promover a proliferação de mutações genéticas específicas do cancro de pulmão existentes, o que leva ao aumento da progressão do tumor.

transportes; poluição do ar
Os meios de transporte estão entre as principais fontes de poluição do ar.

A poluição atmosférica está intimamente ligada às alterações climáticas. Um dos principais fatores orientadores deste problema é a combustão de combustíveis fósseis, que é, ao mesmo tempo, um dos principais contribuintes para a poluição do ar atmosférico.

À medida que o mundo fica mais quente e mais povoado, os motores dos nossos automóveis e da maquinaria industrial continuam a produzir emissões poluentes em larga escala, e meio mundo não tem acesso a combustíveis ou tecnologias limpas, o ar que respiramos está a tornar-se cada vez mais perigosamente poluído.

As principais fontes de poluição do ar ambiente incluem meios de transporte ineficientes (combustíveis e veículos poluentes), a combustão pouco eficiente de combustíveis domésticos para cozinhar, iluminar e aquecer, as centrais elétricas a carvão, a agricultura e a queima de resíduos.

A OMS estima que nove em cada dez pessoas respirem ar poluído, em todo o mundo, devido à exposição a partículas finas em suspensão no ar, causando doenças como acidentes vasculares cerebrais, doenças cardíacas, doenças pulmonares obstrutivas crónicas, infeções respiratórias e cancro do pulmão.

Em 2020, segundo a EEA, na União Europeia, 96% da população residente em áreas urbanas esteve exposta a concentrações de partículas finas superiores ao recomendado.

Os poluentes mais prejudiciais à saúde, intimamente associados a problemas de saúde e a uma mortalidade prematura excessiva, são as partículas finas de PM2,5 que penetram profundamente pelas nossas barreiras de defesas até aos nossos pulmões.

De acordo com as mais recentes estimativas da EEA, pelo menos 238 000 pessoas morreram prematuramente na União Europeia, em 2020, devido à exposição a poluição por PM2,5 acima do nível de 5 µg/m3 recomendado pela OMS. A poluição por dióxido de azoto levou a 49 000 mortes e a exposição ao ozono a 24 000 óbitos prematuros.

E em Portugal?

Em Portugal, a exposição de longo prazo a estas partículas esteve associada a 4 900 mortes, em 2019. Se a este valor somarmos as mortes prematuras associadas à poluição por dióxido de azoto e o ozono ao nível do solo, o saldo alcança os 5 710 óbitos.

Em 2019, a exposição a poluição por partículas PM2,5 levou a 175 702 casos de incapacidade devido a doença pulmonar obstrutiva crónica, em 30 países europeus (EEA).

A nova compreensão da relação entre os poluentes finos e doenças graves como o cancro do pulmão pode abrir caminhos para a prevenção de doenças, bem como fornecer mais um argumento a favor de iniciativas que tratem da qualidade do ar como prioridade para a saúde pública.

O Pacto Ecológico Europeu é um exemplo disso, que visa melhorar a qualidade do ar e aproximar as normas de qualidade do ar da União Europeia das orientações da OMS. Tendo por base os dados do ano de 2005, é objetivo da União Europeia reduzir o número de vítimas mortais em 55%, até 2030.